segunda-feira, setembro 18, 2006

VIADUTO ARICANDUVA


(Pensamentos desconjuntados de um morador de rua) 



Viaduto Aricanduva em São Paulo






























Chupando a última uva
No Viaduto Aricanduva...
Poças de água da chuva
Encharcam os meus sapatos
Furados, comidos de ratos...

Sinto o solo trepidando,
A chuva vai acabando,
Deixando um frio paulista.
Olho pra baixo na pista...
Sinto turvar minha vista,
Carros passando, passando...
Tamanha velocidade
Desafia a sanidade,
Causa dor em minha alma.
Digo pra mim: tenha calma...
Tenha calma, tenha calma...

Venta muito, sinto frio,
Sinto um enorme vazio,
Sinto medo, sinto fome,
Não vejo mulher, nem homem...
Madrugada, estou sozinho,
Molhado até o colarinho
Da camisa muito usada,
Encontrada na calçada,
Dentro de um saco de lixo,
Cheirando igual a um bicho
Sarnento, abandonado,
Como eu, pobre coitado
Sem morada e sem destino...

Assustadora cidade,
Equívoca realidade
É São Paulo... um desatino...
Razão demais tem Caetano
Quando viu o lado insano
E definiu como avesso
Do final para o começo,
Este solo paulistano.
O avesso do avesso ...
Do avesso do avesso...

1 Comments:

At 11/6/10 1:26 AM, Blogger marianicebarth said...

Zecão, é realmente difícil ser feliz se nos puzermos a refletir sobre o sofrimento do povão que nos rodeia. Mas temos a obrigação de tentar, de conseguir essa proeza.

 

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