sexta-feira, outubro 06, 2006

Musa Intermitente

Esta poesia foi criada ao mesmo tempo em que estava sendo escrita. E de uma vez só. Parecia uma avalanche, uma enchurrada que não queria parar. Foi muito estranho e muito gratificante.

As rimas prontas, não precisaram de retoque de espécie alguma. Não entendi o fenômeno, nem me importa, porque amei-a todinha, do jeito que saiu. Mas ainda tive de tirar várias estrofes, senão iria ficar ainda mais quilométrica...

Qual é a mancha
Que me desonra?
Que avalanche
Me angustia?
Que abulia
Mexe comigo?
Que alforria
Não conquistada
Me submete
Nesta Cruzada?
Quem é a Força
Que me combate?
Que disparate
Me deixa louca?
De quem os moucos
Ouvidos fúteis?
De quem inúteis
Conversas rasas?
De quem o pranto
Que me transforma?
De quem a forma
Que me encanta?
De que garganta
Esta cantata,
Que me arrebata
E me fascina?
De quem a mina
De ouro e prata
Que me relata
O velho índio?
Que merovíngio
É descendente
Da antiga raça
Desse Graal?
Porque o medo
Desse segredo
Tão bem guardado
Pela Vestal?
Quem é a onda
Que me transporta?
De quem é o ombro
Que me suporta?
Quem é a rocha
Que não se move?
De quem a asa
Num vôo cego?
De quem o Ego
Que me ignora?
Quem é que ora
Com tanta fé?
De quem é o pé
Que acaricia?
Quem é a água
Que se derrama?
Qual é a cama
Que me repousa?
Quem é que ousa
Ser meu mandante?
Quem é o amante
Que me recusa?
De quem a boca
Que me enlanguesce?
De quem os braços
Que me aquecem?
Quem é o césio
Que me dissolve?
Quem me devolve
A confiança?
Quem é que usa
O meu berrante?
Quem é a Musa
Intermitente
Que, inconseqüente,
Me faz feliz?
De quem os dentes
Na boca muda?
De quem o véu
Nos olhos cegos?
De quem os pregos
Nos meus sapatos?
Que peculato
Me Causa horror!
De onde a dor
Que me perfura?
De quem as garras
Que me seguram?
De quem a louca
Risada impura?
De quem a pura
Risada louca?
De quem a teia
Que me aprisiona?
Quem é a aranha
Que vive nela?
De quem o negro
Velho casaco?
De quem o taco
De beisebol?
De quem o brilho
Azul da lua?
Quem é que atua
Naquele palco?
Porque o álcool
Nessa garrafa?
Porque se estafa
Pai de família?
E da vasilha
Não vejo o fundo?
Porque o mundo
Está tão mudado
Que desse mundo
Não faço parte?
Eu quero em Marte
Plutão
, Saturno

Ouvir noturnos
Da velha arte...
Quem é o barco
Que me naufraga?
Qual é o marco
Que me assinala?
De quem o sopro
Que me estimula?
De quem a chula
Conversa oca?
De quem as penas
Das asas sujas
Do negro óleo,
Como gangrenas?
Qual é a prata
De compra e venda?
De quem a moeda,
De cunho estranho,
Que foi meu ganho
Em outra vida,
Quando bandida,
Morri matada?!
De quem a morte
Que me aguarda,
Dentro da farda
E do passaporte?
De quanto sangue
Precisa a veia?
De quantos fios
Se faz a teia?
De quantos rios
Precisa o homem,
Louco de fome,
Pra poluir?
Quem abandona
Velhos na rua?
Quem é a nua
Mulher que dança?
Dessa criança,
Quem é o pai?
Quem é que alcança
Um sonho louco?
Quem ama pouco
Não ama nada!
Em quantas fadas
Eu acredito?
De quem o grito
De orgasmo quente
Que, de repente,
Emudeceu?
Qual é a nota
Dessa sonata?
Qual o compasso
Da melodia?
Qual é a rima
Dessa poesia?
Qual é o aço
Desse punhal?
De onde a bala
Que me atinge?
Quem é a falange
Que me destrói?
Se mais não posso
Falar, engulo,
Tornando nulo
O que me dói...

1 Comments:

At 6/10/06 11:22 PM, Anonymous Anônimo said...

Parabéns! Concordo desta vez com o timtim em relação a crença de que esta poesia é realmente tudo que ele falou!

 

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