quinta-feira, outubro 05, 2006

Jane

História de Jane

Jane queria um bebê, como já disse antes, mais que tudo na vida. Nem ela sabia explicar o porquê de um desejo dessa magnitude. Era maior do que tudo na vida dela. Era a própria vida para ela.

A burocracia era enervante e depois de providenciar toda a papelada exigida pelo Juizado de Menores, entraram para uma lista, nada pequena, de “Pais Possíveis”. A situação é cruel, de um lado essa lista de casais ansiosos para adotar e do outro, inúmeras crianças abandonadas em abrigos, crescendo sozinhas e sem amor. Jane e Robson descobriram no decorrer do tempo que não seria fácil, pois a primeira função do Juizado e do Conselho Tutelar é a reintegração da família e não a adoção.

Então, passados quase dois anos inscritos na tal fila de espera, aparece um bebê de um mês e meio. Jane e Robson encheram o carro de roupinhas, enfeitaram a casa, prepararam o quarto e foram conhecer a criança. Mas ao saber que a mãe era HIV positivo e que eles só saberiam se o bebê era portador aos dois anos de idade, precisaram de tempo para pensar. Choraram muito um nos braços do outro, tentando resolver o que fazer. Conversaram longamente, sofrendo uma dor imensa. Tomar a decisão de não ficar com essa criança foi um passo muito difícil e triste. Jane sentiu-se covarde por isso, mas finalmente chegaram à conclusão de que não estavam preparados para enfrentar as situações que poderiam surgir se o adotassem.

Depois disso apareceram várias crianças de particulares, mas a adoção nunca dava certo. Umas oito vezes saiam de casa com a malinha do bebê, cheios de esperanças e expectativas, dúvidas e receios e voltavam com o carro e o coração vazios...

Um dia, ligou uma conhecida que é enfermeira numa cidade vizinha, contando que uma paciente grávida de sete meses havia decidido doar a criança, mas que queria conhecer os possíveis pais adotivos.

Jane e Robson foram prontamente. A mãe gostou deles e pareceu muito consciente e decidida. O bebê era uma menina.

Como também havia uma possibilidade de outra mãe doar um menino, resolveram montar um quarto lindo para os dois. O menino também não deu certo, mas continuaram em contato com a mãe da menina, dando toda assistência.

A criança nasceu num sábado e a mãe só os avisou na segunda feira. Jane estranhou, mas arrumaram tudo e foram os dois buscar a menina. A mãe, porém, recebeu-os através da grade, não os deixou entrar nem ver a criança. Disse que estava amamentando, que Jane não tinha leite e que talvez devessem esperar um pouco. Na verdade, ela já desistira da doação.

Jane aceitou a situação, dizendo que ela tinha todo o direito de voltar atrás, desejou toda a sorte do mundo e que Deus abençoasse a ela e ao bebê e mais uma vez Robson e ela voltaram para casa sozinhos...

Desta vez, Robson ficou desolado. Chegando em casa, entrou no quartinho dos bebês todo montado e deixou-se ficar sozinho por uns trinta minutos. Ao sair, participou a Jane que em breve estaria partindo para os Estados Unidos. Marcou uma data, mas acabou adiando por mais uma semana.

Nesse ínterim, um amigo o chama para voar de parapent e ele sobe para a Serra Santa Helena. Lá chegando, vê a moto do amigo, mas não o vê voando. Já preocupado, pensando em uma possível queda, resolve decolar para procurá-lo...
Continua