sábado, janeiro 31, 2009

De Quanta Terra Um Homem Precisa?

CAPÍTULO III

Pakome estava feliz. Tudo caminhava em perfeita ordem até começarem as invasões. Pediu aos camponeses que prendessem os animais, mas não adiantou. As vacas pastavam em seus campos e os cavalos pisoteavam as plantações. A princípio Pakome enxotava os animais e perdoava aos camponeses mas, com o passar do tempo, cansou-se daquilo e foi queixar-se às autoridades. Sabia que os camponeses não faziam por mal, mas por falta de espaço. Porém, pensava: “Se isso continuar vou perder toda a colheita; não é possível deixar. Eles têm que compreender.”
Queixou-se várias vezes e os camponeses eram obrigados a pagar multas. Os vizinhos começaram a ter raiva dele. Às vezes pisoteavam de propósito os campos semeados. Certa vez lhe roubaram dez tílias para aproveitar a madeira. Ao passar pelo bosque, Pakome viu algo esbranquiçado no chão e encontrou os troncos derrubados. Se pelo menos tivessem cortado tílias alternadas, deixando algumas, mas não! Haviam derrubado as dez em seguida! Pakome ficou furioso. “Se eu souber quem foi, vou me vingar, com todo o peso da lei!", disse a si mesmo. Depois de muito pensar, achou que só podia ser Siomka. Foi ao curral do vizinho, mas não encontrou prova alguma Acabou brigando com ele e se convenceu mais ainda de que era o culpado. Apresentou queixa. Siomka foi julgado e absolvido, pois não havia provas contra ele. Pakome foi tomado de raiva e desacatou o juiz e as autoridades, dizendo: “Estão em conluio com os ladrões! Se fossem honestos, não o teriam absolvido!”
Assim, Pakome estava mais folgado na vida e mais apertado no mundo. Nessa ocasião, ouviu falar que os camponeses estavam deixando a região para instalar-se em outros lugares e pensou: “Não tenho motivos para sair de minhas terras, mas se alguns vizinhos se mudassem teríamos mais espaço. Eu compraria as terras e viveríamos melhor. Estamos um pouco espremidos”.
Um dia, um viajante que passava pela aldeia veio à sua casa. Pakome ofereceu-lhe comida e abrigo para passar a noite. Conversaram um pouco e Pakome perguntou-lhe de onde vinha. O homem contou que voltava de além do Volga, onde estivera trabalhando. Muitos camponeses estavam se mudando para lá. “Inscreveram-se no município e receberam trinta acres por pessoa. A terra é tão boa que o centeio cresce a ponto de cobrir um cavalo, e tão espesso que cinco golpes de foice dão um bom feixe. Um camponês muito pobre chegou lá de mãos vazias e agora tem seis cavalos e duas vacas”, contou o viajante.
Pakome sentiu o desejo encher seu coração. “Por que sofrer nesse aperto”, pensou, “se posso viver tão bem em outro lugar? Posso vender minha propriedade e comprar uma fazenda. Não há por que continuar nesse aperto. Mas antes preciso ver de perto”, disse a si mesmo.
Partiu no início do verão. Embarcou num vapor, viajou pelo Volga até Samará e depois percorreu quatrocentos quilômetros a pé. Ao chegar constatou que o viajante lhe contara a verdade. Os camponeses viviam bem, cada um tinha recebido seus trinta acres e o município acolhia de bom grado os recém-chegados. Quem tinha dinheiro para comprar, além da quota prevista, quantos acres desejasse e as melhores terras custavam um rublo o acre.
Pakome voltou à sua casa no começo do outono. Vendeu com lucro as terras e os animais e, ao chegar a primavera, mudou-se com a família para o novo lugar.

5 Comments:

At 31/1/09 6:56 PM, Blogger marianicebarth said...

Daqui para a frente transcreverei um capítulo de cada vez, para não cansar meus queridos amigos.

 
At 1/2/09 6:40 PM, Blogger Polemikos said...

Mas quem disse que estamos cansados?

 
At 2/2/09 12:56 AM, Blogger marianicebarth said...

Bem já que é assim, então, dois de cada vez, para ir mais depressa. São nove capítulos e garanto que irão gostar do desfecho do caso.

 
At 2/2/09 5:49 PM, Anonymous Anônimo said...

Você... isto é, Tolstoi nos trará ao final um ensinamento para nossas vidas?

 
At 3/2/09 2:39 PM, Blogger marianicebarth said...

Certamente! É muito óbvio o ensinamento, mas ainda assim, escrito de maneira excelente, principalmente para as crianças.

 

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