domingo, janeiro 18, 2009

BUBÚ



















Bubú - Objetos esquecidos e que nos fazem chorar
Minha sogra, a Bisavó, não se contém:
Bubú?! Mas o que é isso?! O nome dela é tão bonito - Rebecca! Vocês não deviam chamá-la assim!... E meneia a cabeça, inconformada.
Mas Rebecca não pensa assim. Aponta o indicador para o próprio coração e afirma: — Bubú! Depois aponta o mesmo dedinho para a Alessandra: Mammy; para a Chris: Titia Kiss; Para mim, supercoruja: Vovóó; para o encantado Nelson: Vovôô; para o Rodrigo e sua mulher Fabi: Titio Rrrô, Titia Tabí; para o Flávio e sua mulher Nádia: Titio, Patinho! Não diz seus nomes, não descobrimos porque, mas quando vê a Nádia, pede: Patinho, patinho! (No dia em que Bubú chegou, Nádia brincou um tempão com ela, manipulando uma marionete-patinho que estica a língua e emite um grito, tipo língua-de-sogra).
Bubú assumiu rapidamente sua metade brasileira.
Chegou falando Mammy, Daddy, “Wow! pretty cool”!, “Oh, no, dear!...” e foi para a Austrália falando Mamãe, Papai, “ Uaaau! Legaaal!”; hot é quente agora, cold é frio, bath é banho, water é água, bear é urso, etc. Seu vocabulário português tem mais de cem palavras.
Veio falando palavras de apenas uma ou duas sílabas, foi embora falando palavras de três (como menina, patinho) e de quatro sílabas, como “goi-a-bi-nha”. Só não consegue falar guaraná, que pronuncia garn-ga-gá (ou algo parecido).
E seu vocabulário próprio e único tem neologismos como “tikuu” – suco; “dididi” – DVD; “bikí” – biscoito, bolacha; “kóóóll” – colo; “bzzz” – abelha; “boing-boing” – pular na cama; “bózinho” – pãozinho; “baff” – banho; “móh” (more) – mais; “fada” – fralda; “cófé” – café; “cacha” – calça; “pato” – sapato; “Bó-tta” – Robots (o filminho); “Monta” – Monsters (filminho); “Múzz” – Madagascar (filminho); “Attuí” – Ratatouille (filminho); “fumi” – filme; “futa” – fruta qualquer (só fala os nomes das que adora, como manga, uva; “futa Au-au” – mamão (que eu dava um pedaço a ela e outro ao cachorro); “buzinha” – blusinha; “Pííís...” – Please; “Dêssa!” – Deixa!; “êti Bubú” – este é meu!; “Waka, waka, waka, be wakadinho”...- Guarda, guarda, guarda, bem guardadinho... (canta, enquanto recoloca as coisas que tirou do lugar); e muitas outras que nem cabem aqui...
Na véspera da partida para a Austrália, fizemos uma festinha de “aniversário antecipado” no Paineiras, com bolo de chocolate e brigadeiros, com direito a parquinho para ela e para os dois priminhos de quatro anos, Guigo e Ana Luiza. Quando chegou o bolo com as duas velinhas, e começamos a cantar Parabéns, ela dizia: “Não pa-a-bens, não pa-a-bens! Bolo! Bolo! Bolo! Bolo!” mas acabou aderindo.
A família mais próxima compareceu (24 pessoas) e a festa de despedida durou até anoitecer.
Ao chegar ao Brasil, Rebecca não conhecia açúcar, nem sal, pois Alê pretendia que ela sentisse apenas o sabor natural dos alimentos. Mas é óbvio que adorou o primeiro e gostou do segundo, assim como de todos os outros temperos que usamos aqui e a mamãe dela teve que aceitar, prometendo que quando voltasse para casa, tudo voltaria ao normal.
Pobre Bubú... Agora que experimentou tudo isso... (comeu até um pouquinho de feijoada!...) será que vai comer direitinho lá?
É claro que aprovo para as crianças a falta do açúcar, principalmente, e a saudável diminuição do sal na comida, mas pessoalmente, curto demais os temperos picantes e estimulantes, pimentas, ervas finas e tudo o mais que dão aquele gostinho delicioso à vida da gente...
Bubú fez dois anos ontem, 17 de janeiro e sua partida deixou uma cratera em nossas vidas e em nossos corações. A casa tem vestígios dela por toda parte, objetos esquecidos, roupinhas que não servem mais, coisas inanimadas que carregam indelevelmente sua marca e se tornaram preciosas.
Estamos com uma saudade imensa do som melodioso de sua vozinha, de seu olhar profundo, do contato de sua pele macia, do calor de suas mãozinhas acariciantes, dos pedidos sempre satisfeitos de “k-Kóóóll vovó!", dos bracinhos apertados em torno de nossos pescoços, de seu rostinho lindo e meigo e preocupado ao tocar o machucado em meu braço dizendo num sopro de voz o mais carinhoso “ai-ai-ai vovóóó...”

10 Comments:

At 19/1/09 10:48 PM, Anonymous Anônimo said...

QUE PRIVILÉGIO! Ser o primeiro a comentar essa delícia de página. Devorei o seu escrito, pois a inocente linguagem das crianças me encanta. Como elas sabem se comunicar! Como elas sabem viver!
Quem não queria o kóól da vóvó Nice?
Aguardo fotos da Bubu. Timtim

 
At 22/1/09 3:59 PM, Anonymous Anônimo said...

IMAGINO QUE A CRATERA QUE FICOU SEJA A DO MAIOR VULCÃO DA TERRA!
SÓ UM CORAÇÃO APAIXONADO POR ESTES MARAVILHOSOS SERES PODEM ENTENDER OS SEUS SENTIMENTOS.

Eu estou curtindo os "Dá", os "PÁ", as gargalhadas, os sons ainda não formadores de palavras, que aquela boquinha de "UM SÓ DENTE INFERIOR" pronuncia!
EU POSSO IMAGINAR O QUE SENTIU E TENHO CERTEZA, AINDA SENTE.

 
At 22/1/09 4:02 PM, Anonymous Anônimo said...

ESSES OBJETOS SÃO OS QUE FICARAM E QUE TRAZEM UMA IMENSA SAUDADE?

 
At 23/1/09 1:46 AM, Blogger marianicebarth said...

Precisei de uma semana inteira para me curar da saudade. Cada um desses objetos traziam uma lembrança. Como ficou lindinha com a tiara, os pezinhos nesses chinelinhos, o babador faz lembrar como é independente e gosta de comer "tódinha" (sozinha), o pratinho de leite com aveia, as mananás (bananas), o mamão, a curiosidade de conhecer tudo, pegar em tudo e descobrir o esconderijo das balas, ficando lá um tempo grande até que a gente começasse a estranhar o silêncio e começasse a procurá-la... É uma criança muito especial, não é por ser neta... E o dia em que abriu a porta da cozinha, abriu o portão da rua e saiu... e ninguém percebeu nos primeiros 3 minutos. De repente, quando nos demos conta de que não estava e saímos à rua chamndo por ela, o segurança já estava tocando a campainha para avisar que ela já estava lá na esquina! Imaginem o perigo numa cidade doida como SP...

 
At 25/1/09 10:20 PM, Anonymous Anônimo said...

A Alessandra que se cuide! Parece muito independente e segura!
Que amor!

Sorte sua que levou uma semana para
se curar da saudade, embora eu não acredite.
Talvez daquela saudade doída de arrancar o coração, não é mesmo?
Mas a outra continua com certeza.

 
At 26/1/09 1:14 AM, Blogger marianicebarth said...

Claro... primacaçula! Como você entende bem o coração da avó! Pois também é uma...
Imagine se o Luiz Gustavo fosse morar no outro lado do planeta, sem data para voltar, sem data para poder você ir até lá para vê-lo, sentí-lo, ouví-lo, se você imaginasse essa ausência e essa distância e o preço que custa a passagem, enfim, tantos impedimentos... Mas como o que não tem remédio remediado está, temos que nos conformar...

 
At 27/1/09 4:52 PM, Blogger Polemikos said...

Nice. Adoro o jeito como você adora sua neta ...

Entendo muito bem sua situação pois após passar 3 semanas com Matteo, tivemos que voltar e agora, só podemos avaliar sua evolução da linguagem pelo skype e pelo telefone.

Ainda anteontem, no telefone, minha filha deixou recado com Matteo falando : cemuá, cemuá (c´est moi)!!

 
At 29/1/09 8:35 PM, Blogger marianicebarth said...

Que delícia, hein, Turini?
Como ele chama você? Como se fala vovô em francês?
E que bom ter você novamente entre nós!

 
At 30/1/09 10:33 PM, Anonymous Anônimo said...

SE O MEU NETO FOSSE PARA O OUTRO LADO DO MUNDO???
NÃO POSSO NEM IMAGINAR!!!

Que bom que este blog está ativo!

 
At 31/1/09 6:49 PM, Blogger Polemikos said...

Que bom estar de volta! Já, já, conto minha viagem-cruzeiro à Patagonia.

Na França, o apelido mais comum para vovó, é Papi (Mami para vovô)

Mas ele me chama de Vovó mesmo, embora soe um pouco como Vavá.

 

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