sexta-feira, outubro 22, 2010

Aconteceu em São Paulo - O Presságio


Domingo, 19 de Julho de 1991 - 22h
Naquela noite deixamos a casa de minha sogra, Nelson e eu, Alessandra (22 anos) Rodrigo (17) e Christina (16), sem termos sequer percebido o drama que se desenrolava no coração da filha mais velha.
A viagem para São Paulo foi diferente do habitual, pois Alê estava estranhamente quieta. Pensávamos que dormia, como os outros dois, mas chorava desolada e silenciosamente. Ficara sabendo nos últimos instantes que seu namorado estava em Itapê, sabia que ela também estava na cidade e não a procurara! Não era a primeira vez que ele aprontava alguma, mas desta vez ela começava a ter de encarar que o término se avizinhava. Sempre fora apaixonada por ele, desde os dezessete anos. Nessa noite, finalmente, havia caído a ficha. Primeiro chorara inconsolável, depois já no fim da viagem, uma revolta oriunda da grande mágoa que despedaçava seu coração começara a transformar a dor em fúria silenciosa, num crescendo. De repente, esse sentimento foi mais forte e, ao chegar à nossa casa, antes mesmo de sair do carro, ela anunciou intempestivamente que iria arrumar-se e sairia sozinha para uma balada, onde pretendia encontrar alguém, "qualquer um", "o primeiro que aparecesse"!
Você bem pode imaginar o susto que levamos!
Minha reação foi pronta e cortante:
─ Ah, não vai! Mas não mesmo! Minha nuca eriçava-se de horror.
Ela virou-se contra mim, enlouquecida de dor, enfrentando-me com todas as forças:
─ EU VOU SIM!! Mamãe! Tenho vinte e dois anos, se você ainda não percebeu! Sou maior de idade, formada e você não pode me impedir! PRECISO fazer isso, não vou aguentar se não fizer! Preciso me vingar dele!!! Vou MORRER se você não me deixar ir!
─ Não, filha! Não posso e não vou deixar você ir!
Descemos do carro, todos atônitos com a cena. Meu coração, disparado de aflição, invocava argumentos mais fortes e definitivos. Só podia pensar e sentir que, custasse o que custasse, ela não deveria entregar-se sozinha ao desespero. Urgia que eu conseguisse impedi-la. Ninguém falava nada, todos pareciam paralisados.
─ Só se a Chris e eu formos com você!
─ Mãe, nunca!!! Isso não é coisa para levar a mãe!!!
Foi então que uma cena desenhou-se ante meus olhos: uma mão escura empunhando um revólver na altura da cabeça dela. Essa cena até hoje está nítida em minha memória. E eu disse isso a ela e a todos:
─ Alessandra, você não vai! Estou VENDO você ser assaltada à mão armada, num semáforo! (A cena eu vi, mas esta interpretação sobre o semáforo foi daquelas coisas que o lado esquerdo do nosso cérebro tenta compreender...).
A Christina nesse instante recobrou-se e colocou as duas mãos nos ombros da irmã e, muito assustada,falou fortemente:
─ Alê, você NÃO VAI SAIR,de jeito nenhum! Você sabe que a mamãe vê essas coisas! Nós todos sabemos disso e se ela disse que viu uma arma na sua cabeça, é porque viu mesmo! Eu acredito e não vou deixar você sair! Nem comigo e com a mamãe, nem com papai, nem com ninguém!
Por falar nisso, o papai estava mudo e o Rodrigo também...
A Alessandra entrou em casa chorando e gritando que ninguém iria conseguir convencê-la. Chris, atrás, gritando feroz, "só passando por cima do meu cadáver!" Eu atrás, um pouco menos preocupada agora que contava com a ajuda da Chris. A discussão "Vou!", "Não vai!" e mil argumentos de todos os lados durou bem algumas horas, até que finalmente, às duas e meia da madrugada a Alê voltou a si e agradeceu à Chris e a mim por temos conseguido segurá-la. Abraços e beijos e algumas lágrimas mais e tudo voltou ao normal.
Exaustas fomos dormir. A cena vista em minha cabeça da mão negra segurando a arma esvaiu-se completamente e todos esquecemos dela...


Mas estávamos enganados... No dia seguinte...

6 Comments:

At 22/10/10 4:33 PM, Blogger marianicebarth said...

Aos que me conhecem e que já sabem que sou "meio bruxa" não preciso dizer nada... Mas aos amigos mais céticos, direi que naquela cena, vista em um milésimo de segundo, havia um antebraço magro e a mão de uma pessoa de raça negra empunhando a arma na altura da cabeça da minha filha.
O que meu lado do esquerdo do cérebro tentou explicar a mim mesma sobre o semáforo, foi porque o braço estava na posição horizontal e dava para perceber que a Alê estava sentada.
Mas, queridos, ninguém é obrigado a acreditar. Continuaremos amigos...

 
At 22/10/10 4:34 PM, Blogger marianicebarth said...

E de mais a mais, a explicação não estava correta...

 
At 22/10/10 6:43 PM, Blogger Polemikos said...

De uma certa forma, é uma bênção para a maioria de nós que não têem o dom da premonição!

 
At 22/10/10 6:52 PM, Blogger marianicebarth said...

Nossa, Turini! Nem bem acabei de postar e você já deixou comentário!
Maravilha!!! Obrigada!

 
At 25/10/10 7:29 PM, Anonymous primacaçula said...

Esse dom de premonição que algumas pessoas possuem é bom em certo sentido, quando conseguimos evitar que algo aconteça, através de um alerta como esse que fez à sua filha. Mas quando isso não é possível, por não acreditarem ou porque nem sempre podemos falar, é bastante difícil.

Nessa hora, temos que entregar a Deus ou ao Universo, como queiram, o que pressentimos e "vimos".

 
At 31/10/10 10:33 PM, Anonymous timtim said...

Bem, Nice, eu sempre gostei deser o primeiro a comentar seus escritos, mas desta vez vc sabe porque eu estava distante. Vou ler a continuação desta hist´ria, e já adianto que eu creio sim em premonições e que estou muito ansioso para o nosso encontro, pois acho que vc é uma "bruxa" maravilhosa.

 

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