segunda-feira, outubro 16, 2006

UM DIA DE CÃO

Nelson, meu marido, é um homem dos sete instrumentos. Faz mais coisas do que qualquer outra pessoa que conheço. Adora trabalhar, é certamente um workaholic. Nem vou enumerar tudo o que faz porque poderia parecer até antipático...

Mas, isto sim: joga tênis, faz sauna, corre, nada, vai a todos os congressos, seminários, almoços de negócios, reuniões no bairro e inúmeras outras coisas do seu interesse que possam surgir , além de sair comigo uma ou duas vezes por semana.

Nos anos 90, Nelson somou a isso tudo ser professor de Direito Comercial na FMU. Como tudo na vida tem seu preço e, provavelmente por excesso de afazeres e um tanto de stress, numa certa ocasião teve o seu dia de cão.

Era dia de provas finais na Faculdade. Para começar, saiu do escritório muito em cima da hora num daqueles dias em que tudo acontece, sem perceber que era dia de sua placa no rodízio Logo na Avenida Liberdade, ao lado mesmo da FMU, topou com uma blitz. Um dos policiais ordenou-lhe que parasse e pediu-lhe os documentos:

O senhor está no dia da sua placa e na hora errada...

E o pesadelo começou. Ao abrir a pasta, viu-se numa daquelas situações infernais que todo paulistano um dia já amargou. Não portava nem a carteira de motorista, nem os documentos do carro.

Não acredito que esqueci os documentos do carro!!!! ruge o Nelson...

O guarda, de talão de multas em punho, levanta as sobrancelhas e depois os olhos:

Vou multá-lo pela placa e pela falta dos documentos.

Já nervoso com o atraso para as provas, meu marido começou a argumentar que era professor da faculdade ali ao lado, que era dia das provas finais dos alunos e por aí além...

E o guarda, irredutível, só balançava a cabeça. E ele continuando.

— Mas, seu guarda, isso não pode estar acontecendo comigo! Veja bem!... Eu sou advogado!...

O guarda engrossou, ele implorou:

— E professor de Direito, aqui na FMU! Eu nunca, mas NUNCA esqueço os documentos! E as provas, seu guarda , provas finais, seu guarda!!... Fim de ano, os alunos, seu guarda, precisam passar de ano!... Seu guarda, eu preciso entrar! Depois a gente conversa etc. etc. etc....

— Deixa ver sua carteira, rosna o guarda. E ele, nervoso, procura a carteira que, é claro, estava junto com os demais documentos... em casa...

— Pois é, também não está comigo... mas que INFERNO!!! Isto não está acontecendo!!!

—Advogado, hein? E sem documentos, hein? Pois multado o senhor já está, mas ainda por cima, doutor, vou apreender seu carro!

Se fosse comigo, já estaria chorando, ou aceitando, ou dando razão ao guarda... Mas não o Nelson! Não, não ele!!! Não se deu por vencido! Argumentou tanto, mas tanto que o policial, cada vez mais truculento e pronto para apreender o veículo, diante dos pedidos incessantes de liberação, quase enlouquecido, teve uma reação inédita:

Vou tirar este uniforme e vou pra casa!!! Com tudo isso que o senhor tá falando, pra que serve um policial?!! Não tenho mais função alguma aqui!!

continua

1 Comments:

At 20/10/06 3:57 AM, Blogger caos e ordem said...

Advogado em causa própria
Oi Nice, dei uma rápida olhada em seu blog, hoje fico neste comentário. Dizem que sou teimoso, o Shiost afirma que o sou tal qual uma mula, mas pela história estou imaginando que teimoso mesmo é o Nelson, o resto é conversa.
abraço de retorno, estarei ausente até segunda-feira dia 23.

Zecão

 

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