domingo, maio 20, 2007

Enfrentando Elisa - Capítulo 2

Lenita e Zinah, da Equipe Raspa, treinando no Bar do Snooker

Nossa equipe chamava-se 51, não tendo nada a ver com a bebida, mas sim com o Pedrão, um dos integrantes do grupo que fazia 51 anos e seu aniversário estava sendo comemorado pelo seu grupo de amigos no clube. Alguém gritou: Viva o Pedrão! 51!!! Vamos chamar nossa equipe de 51! E assim foi.

Nesse primeiro ano, engatinhando no xadrez, no último jogo das finais, fui sorteada para jogar contra Elisa.

Ela, experiente, já sentada em seu lugar, me aguardava indiferente. Eu ainda não sabia do que já lhes contei sobre ela e nem a conhecia. Como os outros jogos tinham sido fáceis, eu estava toda entusiasmada, lutando pela 51. E ela parecia entediada, até mal-humorada, como se estivesse fazendo um grande sacrifício.

Antes do jogo, já diante do tabuleiro montado, relógio parado, disse a ela o quanto estava motivada:

─ Adoro jogar xadrez! E você?
─ Eu detesto!
─ Então porque você está aqui?
─ Porque minha equipe não tem mais ninguém.
─ Mas porque você não gosta? Não posso entender!
─ Porque eu trabalho com a cabeça e a esta hora da noite, já deveria estar em casa, descansando...
─ No que você trabalha? perguntei inocentemente.
─ Sou física nuclear.
(Assombro... meu queixo caiu...).
E ela completou, gèlidamente:
─ Faço parte da Equipe de Física Nuclear da USP.
Pronto! O jogo dela já estava ganho ali mesmo, antes de começar! Mas ainda tive tempo de perguntar:
─ E você...hã... joga... há muito tempo?
─ Desde criança. Jogava com meu pai e com meu avô, que era Mestre de Xadrez.

(Estou perdida, pensei. Pobre 51!...).

Respirei fundo, apoiei os cotovelos na mesa e juntei as mãos em frente ao rosto prá tentar disfarçar as batidas desenfreadas do coração e evitar a cratera que se abriu sob minha cadeira. Mas ainda tive alguns segundos para decidir que poderia perder, mas que iria dar algum trabalho a ela!

Puxando uma coragem lá do fundo da alma, pensando que nunca fora muito boa em matemática, que fizera Magistério em vez de Colegial e que na Faculdade de Belas Artes tivera algumas dificuldades em Geometria no Espaço, que nunca estudara Física, nem Química, concluí facilmente que aquele ia ser um jogo duro de Davi e Golias.

Mas ao mesmo tempo recordei as aulas de Yoga e a respiração foi serenando, o coração diminuindo o ritmo e de repente senti uma estranha calma e uma fria determinação. (Veremos! pensei. Vou aprender a jogar, Elisa. Pode me aguardar!... ).

O coordenador marcou o tempo, relógios foram acionados e o jogo começou. Ela tranqüila e natural. Fiz a maior força, mas a falta de conhecimento de uma iniciante com apenas dois meses de jogo foi fatal. Dei um certo trabalho para ela no sentido do tempo enorme que eu levava para pensar cada jogada, o que a fazia perder a paciência e se levantar para andar de um lado para o outro, olhando as outras mesas cujos relógios faziam uma verdadeira batucada.

Não houve jeito. Para minha vergonha, vi meus peões, cavalos e bispos fora de combate rapidinho e a loura mão de Elisa implacavelmente levando minha infeliz Dama. Sentia-me triturada sob um rolo compressor de asfalto.  Mas fui até o fim, até o amargo cheque mate! E quando tudo terminou, a equipe dela veio em peso cumprimentá-la. E a 51, me consolava: Você fez o possível, paciência, ela é forte! Das outras três só Isabel ganhou.

Próximo Capítulo - A Revanche

4 Comments:

At 20/5/07 2:55 AM, Blogger caos e ordem said...

É isso aí, jogou campeonato, os relógios martelando, tô fora, não quero ser humilhado pela madame versatilidade.
Se vai contar a revanche imagino que tenha sido vitoriosa.
Tem outro que só conhece o xadrez das tintas, ainda é melhor que conhecer o xilindró.
falou o Zecão

 
At 20/5/07 12:01 PM, Blogger Antônio said...

Também fui um jogador de xadrez competitivo. Minha maior façanha foi empatar com um figurão do Clube de Xadrez de São Paulo que veio jogar uma simultânea aqui em Limeira. Ele contra doze tabuleiros. Isso foi há muito tempo, quando eu ainda estudava um pouco. Hoje, desisti de participar de qualquer campeonato, pois minha pressão sobe e parece que estão em disputa nos meus jogos mais de um milhão de dólares. Agora só jogo de brincadeira. É muito mais gostoso.

 
At 20/5/07 12:32 PM, Blogger marianicebarth said...

Que é isso, Caos? Não aceito o "tô fora"! Desafiou, tá desafiado! Vamos jogar aquela partidinha, sim!
(Brincadeira, eu nem jogo mais...) (Risos).
Mas, ainda que mal pergunte, senti uma ponta de sarcasmo em "madame versatilidade?
É guerra?
Sou versátil, mesmo, embora nunca tenha pensado nisso... Sempre fui curiosa, como Alice no País das Maravilhas e quer saber? Adoro isso e o Nelson diz que se orgulha. Agora que sou uma velhinha aposentada e tenho todo o tempo, prefiro isso a ficar vendo novelas, de chinelos, pilotando fogão ou fazendo tricô com os óculos no nariz. Não sou aquela imagem tradicional da vovó e minhas netas adolescentes dizem que também se orgulham. Não tem jeito. Sou assim...

 
At 20/5/07 8:02 PM, Anonymous Anônimo said...

Sou uma velhinha jovem pilotando o meu fogão, fazendo tricô com os óculos no nariz... e outras coisas mais que me deixam feliz por fazer algo pelas pessoas! A vida para mim não teria sentido se assim não fosse! Se a mamãe se sente com 60... eu estou beirando os 30...
Todos somos versáteis, cada um a sua maneira. E viva a diferença!!!!

 

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