sábado, maio 19, 2007



Nice e Lenita no bar do snooker do Paineiras


Durante vinte anos o Paineiras deliciou seus sócios com a Olimpíada dos Coroas.
O Nelson atirou-se de cabeça em várias modalidades. Queria muito que eu participasse, mas não jogo nada e ele sabe, mas não aceita. Assim, procurou um esporte que eu pudesse jogar parada... E me convenceu a me inscrever no Xadrez e no Snooker... Só que eu não sabia jogar nenhum dos dois! Ele se propôs a me ensinar. Snooker nunca fez minha cabeça. Até tentei e joguei em todos os anos. E até ganhei muitos jogos...
Mas o xadrez! Ah... o xadrez!... Humm... Fiquei fascinada desde o princípio.
Meu mestre-marido me ensinou durante algum tempo e se comprazia em ganhar, todo feliz. Mas o que nenhum de nós sequer suspeitava era do espírito agressivo e competitivo que me animava! Esse jogo nunca fez parte das suas preferências. Ele gosta do movimento, da ação, transpiração e o que mais seja dos "esportes de bola grande" (como eu chamo), especialmente o basquete e o futebol. Ao contrário de mim que curto livros, computador, filmes, um bom papo e até tricô para relaxar... Coisas paradas...
Mas tive-o a meu lado, treinando meu raciocínio e sentindo-se estimulado por meu inusitado entusiasmo, até... o dia... em que o venci. Nunca mais concordou em me enfrentar! "Eu nem gosto de xadrez! E prá perder, não vou jogar!" dizia ele.
O difícil foi encontrar outras senhoras que jogassem xadrez. Decidiu-se então que elas jogariam entre si, pois não alcançavam o nível dos adversários masculinos. Cada equipe feminina era formada por quatro jogadoras. Era o terrível "osso" dos coordenadores. Todas queriam jogar tudo, até snooker! Menos xadrez!
Nossa equipe tinha três jogadoras nos primeiros anos, Lenita Teixeira, Isabel Schur e eu. A quarta era, todos os anos, "pegada a laço" no vôlei ou no basquete, cujos bancos estavam sempre cheios de reservas. Implorávamos para que uma delas comparecesse, apenas uma, só para não dar WO. Elas arregalavam olhos horrorizados, dizendo que nem distingüiam o Rei da Rainha...
Mas em alguns dias, de tanto argumentar, telefonar e suplicar, conseguíamos uma tímida candidata arredia e desconfiada, aquela mesma que era uma verdadeira leoa no basquete.... Levávamos um tabuleiro portátil para ensinar-lhe a "diferença entre o Rei e a Dama", uma abertura e um princípio de defesa... Ou mesmo... em último caso, apenas para deitar o Rei. Era o nosso "osso" e era duro de roer!... E o pior é que no ano seguinte não contaríamos com essa jogadora, pois a coitadinha teria se traumatizado horrivelmente com a tremedeira e a humilhação, ou não teria se interessado, achado o jogo muito difícil ou muito parado, ou qualquer outra desculpa...
Tornei-me catedrática em argumentação... Todos os anos, muitas horas gastei ao telefone tentando explicar a tremenda emoção que podia ser sentida no xadrez, que nosso coração alcançava píncaros de 180 batidas por minuto, que não era nada parado, que era emocionante ao extremo, que testávamos nossa capacidade e nossa felicidade era indescritível, etc. etc. etc... Até conseguir mais uma candidata que provavelmente não ficaria conosco muito tempo.
E jogávamos, Lenita e eu, em toda parte. No bar do snooker na maioria das vezes, porque os cavalheiros passavam, olhavam e já começavam a jogar com uma de nós. Nas espreguiçadeiras da piscina tomando um belo sol, ou na sala de xadrez quando fazia frio. Logo estávamos meio viciadas. Lenita fez cursos, eu comprei livros e fomos estudando. No correr dos anos, jogando nos fins de semana com os senhores das equipes masculinas que se dignavam a jogar conosco, nossa performance foi melhorando pouco a pouco.
As outras equipes, porém, se sofriam o problema de falta de interessadas, pelo menos tinham enxadristas mais dignas desse nome. Elisa e Ana, da Oba Oba, Lisbeth e Silvana, da Sanguessuga, Daiva e Cristina, da Tô que Tô, eram as adversárias mais fortes e combativas. O marido de Lisbeth era um dos primeiros tabuleiros do clube.
Lisbeth, matemática, era o terror, pois chegava de mansinho, sem nunca menosprezar a adversária, por mais iniciante que fosse. Ganhava sempre. Elisa era mais letal. Loura e distante, como um iceberg. Também sempre ganhava. Cristina era uma Valquíria, uma Amazona, uma mulher-armário, enorme e ameaçadora como um Tigre-de-Bengala, causava calafrios. Ganhava reiteradamente. Daiva era aquela que você respeita pela determinação, como El Toro na arena. Vinha atropelando em linha reta. Passaria por cima de você sem hesitar. Mas era possível vencê-la, se você estivesse em seu dia de sorte e não perdesse a concentração nem por um segundo...


No próximo capítulo: Enfrentando Elisa

4 Comments:

At 19/5/07 6:00 AM, Blogger caos e ordem said...

Taí um esporte que só aprendi depois dos 30, até gosto mas não desenvolvi muito. Já testei com o Shiost e pude perceber sua inegável superioridade pensando com as 32 peças.
Quem sabe um dia ainda jogaremos uma partidinha. Prefiro jogar usando relógio, partidas de 10 ou 15 minutos para cada jogador, para não ficar pensando o dia inteiro.
A narração está muito interessante e vou ficar aguardando a continuação.
falou o Zecão

 
At 19/5/07 9:43 PM, Anonymous Anônimo said...

O único xadrez que eu conheço é aquele pó colorido que a gente usa para fazer piso cimentado. É uma pena pois se conhecesse o jogo, poderia apreciar melhor o texto da Nice.
Dia-a-dia a gente conhece mais um pouco da versatilidade desta mulher polivalente.

 
At 19/5/07 9:51 PM, Anonymous Anônimo said...

Não sabia que vc. tinha esse algo em comum com os meus irmãos! Deve ser um gen que não herdei, embora também não goste de esportes com a "bolona"! Confesso que sempre fugi dela!
"Bota" versitilidade na prima Nice, Timtim! Ela é especial!

 
At 19/5/07 9:53 PM, Anonymous Anônimo said...

Desculpe, é VERSATILIDADE!

 

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