terça-feira, julho 17, 2007

Jair Barth - Segundo uma parte da família

(O Virtua anda desvirtuando. Quase todos os dias há uma falha de horas sem Internet. Fui a Itapê na sexta, voltei no domingo bem tarde. Ontem estava tudo em ordem, mas quem não estava em ordem era eu. Um sono de matar! Meu dia está ficando curto).

Uma vez lá na terrinha, conversei bastante com Nelson, D. Zélia e com a Vera sobre Jair. Três pontos de vista diferentes, muito íntimos e pessoais. Pensei se poderia colocar aqui. Talvez o Shiost fique satisfeito e pare de me chamar de Santa Nice, pois o Professor Jair era uma pessoa, um homem de verdade, nada "santo", nem tão bonzinho, mas nem por isso menos amado por seus filhos Nelson e Vera e por D. Zélia. (Não falei com os outros).

O Nelson tem o pai em muito alta conta, embora quando adolescente tivesse sido muitas vezes chamado à atenção pelo pai professor e intelectual, por causa de seu interesse excessivo (opinião do pai) pelo esporte e pelo basquete em particular. Seu Jair queria que ele estudasse mais e que gostasse mais dos livros que da bola, o que não acontecia. Nelson pensa que é uma empreitada muito grande falar sobre o pai, que era muito mais culto do que foi dito, que os livros que importava vinham, além da França, também da Argentina e de outros países. Que ele anotava tudo que lhe ocorria como referência em papéis avulsos, ou em qualquer pedaço de papel que encontrasse e que evitava que se espalhassem unindo-os com alfinetes por falta de clips ou grampeadores. Que escrevia nas margens e entre linhas e que quando passava a limpo para um discurso, escrevia novamente nas margens e entrelinhas.
Com a filha Vera, seu Jair brigava muito, mas isso nada significava para ela, que adorava o pai. Disse que sentia que ele a amava incondicionalmente e que isso era a coisa mais importante para uma filha sentir. Que todos os dias à mesa do almoço e do jantar ele aproveitava para dar umas aulinhas para seus filhos e sempre tinha alguma coisa para ensinar. Contou que tivera outros professores de português com os quais não conseguia aprender nada, mas quando foi aluna do pai no Instituto de Educação Peixoto Gomide, suas aulas de português foram as que abriram em sua cabeça horizontes de interesses e de descobertas.

Sobre os discursos, D. Zélia contou a saga que era o problema dele de enfrentar o público e como facava doente, com enxaqueca, trancado no quarto escuro e só saindo para vomitar. Que ficava tão mal que ela pedia a ele que não fizesse mais aqueles discursos e ele ficava bravo, dizendo que ela não o estimulava, mas até o ofendia com essa atitude. Ela não entendia isso.

(Como foi o começo)
D. Zélia contou como conheceu o futuro marido numa festinha em casa de uma amiga, como dançaram e que ele ficou "arrastando a asa" e "se insinuando" para ela durante algum tempo antes de começarem o namoro. Que ele a tirava para dançar em todos os bailes e que dançava muito bem. Que a mãe dela, D. Eulália, era muito brava e não deixava as filhas saírem sozinhas, mas sempre com a irmã mais velha. Que o futuro sogro não a aprovava para o filho, por ser muito mais nova e de família menos rica. E que ela sabendo de tudo, também não gostava do sogro e o namoro não começava por causa disso. E mesmo depois que começou, ela terminou várias vezes pelo mesmo motivo. Disse também que ele era muito namorador e que gostava só das gordinhas... E, de repente, olhando para a Vera, com o dedo apontado para a filha, ela saiu-se com uma que achei uma graça:

— E agora vou contar toda a verdade: ele gostava de "dar umas avançadas" e eu não podia admitir isso! E era outro motivo para eu terminar o namoro — afirmou com a cabeça, alteando as sobrancelhas e os lábios meio apertados.

E que finalmente, depois de muitas tentativas, ficaram noivos. Foi quando o sogro abriu a loja de tecidos (não de armarinhos) para ele e se casaram. E vieram os filhos, Nelson primeiro, Flávio quatro anos depois, logo depois Maria Eugênia e Vera Lúcia. Entre esta e o caçula Rubens, dez anos de intervalo.
D. Zélia era linda, um pouco cheinha (mas ele adorava), olhos verde-acinzentados, cabelos castanhos escuros, a pele macia cor-de-pêssego e um sorriso resplandescente. Jair ela louro, magro, rosto fino, não era bonito, mas era charmoso (porém só para ela).

4 Comments:

At 17/7/07 10:55 PM, Anonymous Anônimo said...

Realmente andam escassos os comentaristas! Para esta história tão recheada de pormenores familiares, era de se esperar que todo o clã se manifestasse. Na falta deles aqui estou, bem ousado, cada vez mais próximo da família. Tenho uma mínima pontinha de inveja. Queria ter um ancestral (ou ascendente) com história de cultura e arte (a arte da oratória). Entendi bem o problema da enxaqueca. Eu tbm cultivei a minha por muito tempo; e ela aparecia sempre em situações de pressão, de compromisso maior.
A inveja é bem pequenininha, pois acho muito bonita a história da família de minha mãe - os Rodrigues - tanto que circula entre nós uma expressão ufanista: "Nossa gente é especial". Que bom, Nice, que vc possa reviver estas coisas e se orgulhar de ter entrado para a família de seu Jair e de Dona Zélia. Teve dificuldade para ser aceita?

 
At 18/7/07 3:23 AM, Blogger marianicebarth said...

Nenhuma mãe que se preza olha para uma namorada do filho com bons olhos no início. Pode até ter demorado, mas agora sei que ela gosta de mim tanto quanto eu dela. Afinal, já estou na família há 40 anos!

 
At 20/7/07 5:12 PM, Blogger Polemikos said...

Não conheci nem Sr. Jair, nem Da. Zélia, mas você tem o dom de torná-los vivos à nossa presença, quase como se a gente pudesse esticar a mão e tocá-los.

Admiro este seu talento.

 
At 23/7/07 7:47 PM, Anonymous Anônimo said...

Ora, Timtim, você também é Rodrigues? Aqui o são minha família paterna: Rodrigues de Aguiar e a família também paterna do meu marido: Rodrigues de Oliveira.
Nice, não concordo totalmente com o que falou sobre o olho crítico de uma mãe em relação à futura nora! Aqui vale também o ditado: "nem sempre dois mais dois são quatro" . Nem tudo é regra.

 

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