quarta-feira, julho 02, 2008

Memórias


Tudo por causa da foto do Rock Hudson que a Folha de S. Paulo está publicando... Aliás, essa série de fotos de estrelas de Hollywood simplesmente me transportam no tempo. Tempo em que as palavra glamour e sex-appeal apenas significavam beleza provocante, mas que provocavam em mim... o quê? Eu não podia entender, não computava... Eu era muito inocente em meus doze anos, alta demais para a idade, magérrima e desengonçada. Diziam que me parecia com a Audrey Hepburn, acho que por ser magrinha como a própria.
Mas eu adorava ver as fotos da Marilyn, embora não entendesse o frisson que ela provocava. Para mim, era apenas alegre e linda, linda de morrer... A Ava Garner era ainda mais linda, mas havia algo enigmático e triste nela. Outra maravilha era a Liz Taylor. E eu não perdia filmes delas, lá em Itapê. Só me chocava a maneira da Marilyn andar balançando exageradamente os quadris daquele jeito, em alguns filmes; e "sentia" a espécie de transe hipnótico na platéia, como uma "onda" pesada, estranha e constrangedora, como se estivesse espiando algo proibido por um buraco de fechadura.
É, naquele tempo, conhecimento sexual não era facilitado para meninas de doze anos... Pelo contrário, mães e pais não abriam esse assunto em hipótese alguma, provavelmente para que suas filhinhas não se enredassem nessas águas perigosas...

Só sei que apesar de ter apenas doze, eu já cursava a sétima série. E que, de repente, eu não era mais criança, não queria mais "brincar" e estava confusa.
E ainda por cima, chegou de fora um colega novo, com a cara, altura e ombros largos do Rock Hudson... Chamava-se Maurício e era de longe o rapaz mais bonito que eu já vira pessoalmente. Era "muito" mais velho, tinha 18 anos e fazia o Tiro de Guerra. Era um homem feito. E o melhor aluno da classe. Dizia que não tinha tempo a perder, que estava atrasado nos estudos e que queria recuperar esse tempo. Era ótimo em matemática, meu ponto fraco ( a matemática...).
Ao ver minha tristeza com a nota baixa nessa matéria, ofereceu-se para me dar aulas, em minha casa. É claro que aceitei, depois de consultar mamãe. E as aulas passaram a acontecer, na nossa sala de jantar. Mamãe participando, fazendo seu crochê, ou costurando alguma peça.
Depois disso, ele começou a ocupar a carteira atrás da minha no Colégio. Uma vez percebi a classe toda olhando em minha direção e rindo. Olhei para trás e flagrei o Maurício com meus cabelos compridos entre as mãos e uma expressão apaixonada. Fiquei muito brava com ele pelo "mico" que me fez passar e ele ficou rubro de vergonha. Que coisa, hein? Ficar envergonhado por tão pouco... E eu uma fera por tão pouco também...

Mesmo agora quando estou contando isto, sinto o mesmo grande embaraço, vá entender!
Coisas de 1954, em Itapê.
Daí em diante houve uma clara atração entre os dois, mas nunca nenhum contato físico. No ano seguinte, no final da oitava série, ele disse à mamãe que estava estava voltando para sua cidade para tomar conta dos negócios da mãe, que ficara viúva. Acrescentou que estava gostando muito de mim e que gostaria de se casar comigo no futuro, mas que esperaria até eu completar quinze anos para me namorar, se ela consentisse. Mamãe franziu as sobrancelhas e apareceu entre elas o "triângulo da catástrofe". Gelei... E aí ela disse, muito séria: "Veremos!"
Mamãe comentou em família que apreciara a delicadeza e seriedade dele.

Ele realmente voltou três anos depois e continuava tão bonitão quanto antes, mas o encanto havia se quebrado, pelo menos para mim.


7 Comments:

At 2/7/08 3:26 PM, Blogger marianicebarth said...

Nesse tempo, apesar de já conhecer a família toda do Nelson, ele ainda não existia para mim como pretendente"... (E será que alguém ainda se lembra dessa palavra?) Só começaríamos a namorar sete anos depois, em 1963.

 
At 3/7/08 8:07 AM, Blogger Polemikos said...

Sou seu fã incondicional ...

Agora, juntando os pedacinhos, não demora muito, e você vai ter suas Memórias prontinhas. Hoje chamam de auto-biografia .... gosto mais de Memórias.

 
At 3/7/08 8:42 AM, Blogger Polemikos said...

Uma frase que eu lí, hoje de manhã, tem muito a ver com o que você escreveu :

"O que as grandes e puras afeições tem de bom, é que depois da felicidade de as ter sentido, há também a felicidade de recordá-las"

 
At 4/7/08 1:26 AM, Blogger marianicebarth said...

Tenho muitas memórias. Pretendo escrevê-las todas. E que bom ter um fã incondicional...

 
At 6/7/08 8:07 PM, Anonymous Anônimo said...

DOIS! DOIS! São, no mínimo dois fãs. Achei singela, encantadora, romântica
esse rememorar, a partir da foto de Rock Hudson. Conta mais um pouco sobre a volta do Maurício - para continuar o namoro - e a quebra do encanto. Acho que vc já tinha uma personalidade marcante, nos seus quinze anos. Timtim

 
At 7/7/08 1:40 AM, Anonymous Anônimo said...

Sou sua fã número 3 neste blog!
Quem eram aqueles? Por acaso o da frente é o Maurício ou essa foto é mais tarde?
Você sempre foi muito linda, para mim parecida com a Audrey.
O encanto deve ter se quebrado pelo tempo longe, um perigo para amores nessa tão tenra idade, não é mesmo???
Foi o que aconteceu com a Pri e seu noivo, João Maurício. De vez em quando sinto saudades dele que era um "Louquinho" do Bem. Como gênio foi aproveitado em pesquisas americanas e nunca mais voltou a morar aqui.

 
At 8/7/08 1:47 AM, Blogger marianicebarth said...

Oba! Agora tenho três fãs!
O mais alto, ao meu lado, é o Maurício e a foto é de 1956, da oitava série.

 

Postar um comentário

<< Home