quarta-feira, maio 14, 2008

Elizabeth...

Cada vez que leio ou escuto esse nome, levanta-se algo indefinível numa região muito antiga de minha mente.

Por que Elisabeth? Nem gosto tanto assim do nome... Prefiro Rebecca ou Raquel, ou Lizbeth, ou Maria Eugênia.

Mas é Elizabeth que está lá, no fundo de uma memória fechada, misteriosa e intrigante.

Elizabeth... Elizabeth... Elizabeth...


Sonhei que estava num campo ondulado, muito verde, muito bonito. Eu corria, descendo os morros e subia novamente, até que encontrei uma árvore muito alta e de tronco largo e rugoso.

Era tão antiga e tão venerável que me pus a olhá-la em todos os seus detalhes. A copa era frondosa, mas seus galhos ficavam altos demais e, naquele momento, não faziam sombra.

Examinei cada centímetro para tentar entender de onde vinha a extraordinária atração que a árvore exercia sobre mim. Acabei descobrindo num ponto um pouco acima de minha cabeça, um nome gravado. Estava quase apagado, desfeito pelo tempo... Quanto tempo? Séculos talvez...


ELIZABETH


A escrita, apesar de esmaecida, era caprichada, numa letra antiquada. Comecei a divagar. Vi a mão que escrevia, vi o rosto jovem, cujas sobrancelhas se uniam no esforço de talhar o tronco endurecido. Vi quando ele suspirava, abrandava a expressão para voltar o rosto agora sorridente para a mocinha que acompanhava atenta a gravação.

Ela era quase uma menina, uns treze anos e usava um vestido azul claro, longo e rodado. Fazia calor, ela estava afogueada e gotículas porejavam delicadamente seu lábio superior. Ela segurava um leque e um lencinho de rendas. Disfarçadamente enxugava o rosto e o pescoço, enquanto o rapaz gravava seu nome no tronco da velha árvore. Mas assim que ele se voltava e sorria para ela, o leque se agitava, como as asas de uma borboleta.

Dei uma olhada na figura do rapaz. Teria uns dezessete anos e vestia-se como um pajem. Trazia os cabelos compridos amarrados por uma fina fita preta, que terminava em um laço discreto. As roupas eram de qualidade.

Os dois deviam pertencer às grandes famílias nobres. E estavam apaixonados. E eu, invisível para eles, podia observá-los muito bem.

O punhal afiado cortava e cortava, delineando as cinco primeiras letras. O trabalho era cuidadoso e persistente. A cada letra pronta ele olhava para ela e sorria.

Os olhos dela, muito vivos, eram azul-violeta e os cabelos de um castanho quente, presos em cachos meio soltos, por uma fita de cetim azul, no mesmo tom do vestido. Notava-se que tinha corrido pelos campos.

Finalmente o rapaz terminou sua obra e fez uma reverência para a menina, que olhou longamente para o nome esculpido e soltou um longo suspiro. Sorria e seus dentes muito brancos contrastavam com suas faces coradas. Linda essa menina, pensei.

Ela voltou-se para ele e fez por sua vez um gracioso meneio de cabeça e, de repente, agarrou as saias e correu. Ele a imitou e continuei por algum tempo a ouvir suas risadas que iam pouco a pouco se apagando.

Juventude, pensei. Que bonito!

Olhei para o nome escrito no tronco e me dei conta de que ele ia esmaecendo e quase desaparecendo.

Um estranho sentimento me invadiu, assim como uma nostalgia. E acordei. O sentimento perdurou, como quando perdemos alguma coisa muito preciosa e rara.

9 Comments:

At 14/5/08 12:43 AM, Blogger marianicebarth said...

Isto NÃO foi um sonho. Apenas imaginação. Mas a história da sensação de déjà-vu que o nome provoca em mim é muito real. Tenho uma impressão de que Elizabeth (assim, com z) é o meu nome verdadeiro. Loucura? Talvez... É assim que as pessoas costumam rotular as coisas que não compreendem... Não é?

 
At 15/5/08 9:38 PM, Anonymous Anônimo said...

Ainda bem que vc já foi explicando: não é um sonho. Põe imaginação nisto. Podemos chamar de imaginação criadora? Satisfaz uma curiosidade minha. Vc foi muito namoradora? Romântica é, com certeza. Beli texto. Vamos voltar a falar do seu livro? Timtim

 
At 18/5/08 9:23 PM, Blogger marianicebarth said...

Fui muito romântica, sim e sou ainda, talvez mais... Isso não se perde.
Tive poucos namorados, tudo muito light, como acontecia nos Anos Dourados. Nada de beijos ou abraços, nem pensar. No máximo mãozinhas dadas. Mas paixão por um primo, "paquerinhas", "flirts", só de olhar e achar bonito, alguns mais. Era uma menina normalíssima desse ponto de vista, mas excessivamente tímida e encabulada, muito magrinha complexada por causa disso... Tinha "um pai que era uma fera" e um mãe zelosa e severa, o que era muito bom.

 
At 18/5/08 9:30 PM, Anonymous Anônimo said...

Que bela história de longa época, tão viva e real tanto quanto o nome que é tão marcante para você.

Que saudade boa essa de um tempo "que não voltará mais"!
LOUCURA? QUI LO ÇÁ?

Porisso não me atrevo a escrever nada, pois reservariam um lugar para mim em algum "hospício"!

Uma menina muito linda, a primaNice amigos, diga-se de passagem!

 
At 19/5/08 1:31 PM, Blogger Polemikos said...

Elizabeth significa "o Juramento ou a Promessa de (meu) Deus".

Bonito, e romântico, assim como seu texto!!!

Todos nós temos um "outro" nome, talvez o nome do nosso "alter ego" ou talvez o que partilhamos com o nosso Anjo.

Gosto de pensar no meu como sendo "Carlo Emile", homem rival, o homem que rivaliza.

Quem tiver interesse, consulte :
http://www.behindthename.com/

 
At 19/5/08 3:42 PM, Anonymous Anônimo said...

Acredito termos muitos nomes, sendo que um marca mais, pelas lembranças desse passado serem de maior valia ao nosso Espírito.

 
At 20/5/08 3:25 PM, Blogger marianicebarth said...

O engraçado é que o mais comum e conhecido é Elisabeth com s, mas o "meu" é com z mesmo...

 
At 20/5/08 3:28 PM, Blogger marianicebarth said...

Turini, mas esse Carlo Emile cocê apenas "gosta de pensar" que é o seu ou é algo forte, como se fosse realmente o seu?
Porque Elizabeth, para mim, é muito forte! Jamais gostei do nome que tenho e sempre pensei em mim como Elizabeth.
E o curioso disso tudo é que ao ouvir esse nome em voz alta, chamado por alguém, levanto a cabeça e quase atendo... E aí fico pensando: será que já foi meu nome em outras eras?

 
At 20/5/08 7:04 PM, Blogger Polemikos said...

(Polemikos)
Forte, não sei. Natural apenas ... penso nele como sendo o meu "outro" nome, simplesmente.

 

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