terça-feira, abril 15, 2008

O Aperto - 3ª Versão

(Sugestão do Turini)

At 15/4/08 2:44 AM, Blogger Polemikos said...

Ficou melhor .... eu sei que sou abusado ... mas tenta mais uma coisinha. O texto que começa com "E então o Duque o largou etc ..." põe no fim mesmo!!!
Para o gran finale!!

O Aperto - 3ª Versão

Ele percebeu que não daria mais tempo de nada.

Em desespero, tentando salvar sua dignidade, procurou e viu uma edícula ao fundo, com um mini banheiro e correu para lá. Ao entrar e fechar a porta com estrondo, ainda pôde ver a dona da casa, de olhos arregalados, que dizia alguma coisa e fazia para ele gestos com as duas mãos.

Sinto muito, pensou, não dá mais... Mal teve tempo de arriar as calças e sentar-se, aliviado. Mas de repente ele sentiu sua nuca se arrepiar e foi só então que ouviu o rosnado ameaçador do enorme pastor alemão, preso ali antes dele.
A cena que se seguiu foi dantesca.

Ele plantou um pé entre os dentes do animal enfurecido. Rosna, empurra, empurra, rosna, e o senhor Gatti, tão educado e elegante, percebeu que nesse vai e vem, suas calças já eram... Começou a ouvir ali fora uma voz de homem gritando comandos para o cachorro. — Duque, sentado! Duque, fica! E uma voz aflita de mulher que gritava — O senhor está bem? E uma voz esganiçada, que ele descobriu que era a sua, respondia — Sim.., acho... que... estou bem, não sei... E ela: — Ah, meu Deus! Duque! Pára, Duque! Senhor, abra a porta!

∞∞

Esta história (verídica) se passa no início dos anos 50, quando a etiqueta, o refinamento, o respeito e os pudores ainda existiam. Os nomes foram trocados.

O Senhor Gatti, era um homem muito bem situado na vida, de família hiper tradicional, morava no Jardim Europa, um dos bairros mais elegantes e ricos de São Paulo. Lá residia a nata da sociedade paulistana, o chantilly da capital.

Ele mesmo nos contou o caso pormenorizadamente, mais de vinte anos depois.
Disse que num sábado muito frio de agosto, resolveram almoçar uma deliciosa feijoada em um restaurante conhecido. Regininha, a filha de doze anos, não queria ir, porque tinha sido convidada para a festa de aniversário de uma amiguinha da escola e não queria se atrasar. Toda a classe iria e só se falava nisso desde antes das férias.

O pai conseguiu convencer a filha de que seria um almoço rápido, mas o restaurante estava tão lotado que tiveram de esperar muito tempo para serem servidos. Quando já estavam a ponto de desistir, chegou a vez deles. Mas lá dentro, já acomodados, ainda tiveram de esperar. Chegou a hora da festa e eles nem tinham sido servidos. Enfim, chegou a comida, a das crianças alguma coisa mais leve, tudo muito gostoso, e o Senhor Gatti, que era um “bom garfo”, comeu até fartar.

Regininha estava amuada e se recusava a comer. Girava e regirava o seu garfo no prato e levantava para o pai uns olhos carregados de tristeza e censura no rostinho bonito, pois ainda teriam de buscar o presente em casa.

O senhor Gatti ficou muito nervoso com isso tudo, pois era um pai exemplar e sabia que desta vez fora um pouco teimoso. A filha era o seu dodói e ele não queria vê-la infeliz. Pagou a conta e saíram. Apanharam o presente e a D. Carlota preferiu ficar em casa com o filhinho, para descansar.


O senhor Gatti seguiu com a filha, sentada muito séria, com o presente entre as mãozinhas crispadas. — Que horas são, papai? — perguntava ela a cada cinco minutos. Isso e o seu sentimento de culpa foram enervando o homem, que começou a sentir umas cólicas na barriga.

A casa ficava no Alto da Lapa, um bairro nobre e de ruas quase todas curvas e desertas. O senhor Gatti não o conhecia e quem mora em São Paulo, sabe o quanto é difícil localizar uma rua lá. A tarde caía e nada de encontrar a casa.

As cólicas estavam tão fortes nesta altura que ele realmente precisava chegar. Ficou pensando que naquela situação teria de mandar às favas o constrangimento. A palavra banheiro lhe povoava a cabeça e o deixava alucinado.

Depois de muito rodar e voltar ao mesmo ponto, o senhor Gatti finalmente encontrou uma pessoa que indicou o caminho. Era quase noite, mas a menina não abria mão de ir. E agora ele também precisava muito. Suava frio tentando se controlar. Estava cada vez mais difícil e ele estava com medo de não conseguir.
O céu pareceu se abrir para ele quando estacionou em frente à casa iluminada e alegre, toda enfeitada com faixas e balões. Regininha correu para dentro.

Foi então que ele viu lá ao fundo o banheirinho...

∞∞

E então o Duque o largou. Mas a situação não estava nada boa, as calças sujas e rasgadas e ele não conseguia se levantar, nem se higienizar... Mas como o que não tem remédio, remediado está, ao perceber que o cão não se movia, embora continuasse rosnando e lhe mostrando os dentes, ele levantou o que restava das calças e de sua compostura e esgueirou-se para fora. Cheirava como um porco.

Lá fora uma platéia silenciosa e horrorizada o aguardava. Ele tremia e sentia o rosto em brasa.

E sua filha, as mãos nas faces tão coradas quanto as dele, morria de vergonha.

2 Comments:

At 15/4/08 2:08 PM, Blogger marianicebarth said...

Que tal agora, Turini? Era mais ou menos isso? Pode ser franco!

 
At 15/4/08 2:13 PM, Blogger marianicebarth said...

Como vocês não irão perder tempo lendo os comentários na 2ª versão, transcrevo o meu aqui em resposta aos últimos:

NiceBarth has left a new comment on your post "O Aperto 2ª Versão":

Não, Turini, você não é abusado. Se estou aprendendo a escrever para leitores e a ser apreciada; e se estou querendo sugestões, é uma gentileza que vocês fazem. Obrigada...

E, Caos, obrigada também...
Eu já me perdi várias vezes maquele bairro e de cada uma disse a mim mesma que nunca voltaria...
(Nunca diga "nesse bairro não voltarei...) risos...

E a Primacaçula já está em São Paulo, logo veremos seus comentários.

Mas o Mesmeu, acho que foi para a Grécia...



Posted by NiceBarth to Ostenbarth at 15/4/08 9:17 AM

 

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