sábado, maio 02, 2009

Aranhas no meu jardim!


Quando me mudei para esta casa, há quase trinta e três anos, tinha como vizinhos apenas terrenos baldios. Minhas vizinhas e companheiras de jardim eram as aranhas... muitas aranhas! E também uma cobra que apareceu, de uma cor amarela-esverdeada e que, literalmente, "saiu pelo cano" pulando no Nelson, que se assustou muito.
Tinha chovido muito e um dos ralos do jardim estava entupido; o Nelson pegou um cabo de vassoura e começou a cutucar, quando uma cobra de uns 60 cm subiu rapidamente pelo cabo e quase passou para o braço do Nelson! Se ele não tivesse dado um grande pulo para trás, talvez tivesse sido mordido, pois a cobrinha estava bem ouriçada com os cutucões.
A nossa empregada na época, Geni, mineira de boa cepa, acostumada a “matar a cobra e mostrar o...” cabo da vassoura (...) deu um fim bem triste na cobrazinha. Como toda mulher que consegue matar uma cobra, ela golpeou a cabeça da infeliz até não restar nada que identificasse se era triangular e, por conseguinte, venenosa.
E era a única coisa que eu sabia sobre cobras: se a cabeça for triangular e a cauda afinar abruptamente, corra, saia de perto, ou pegue um galho suficientemente comprido e tente matá-la. Confesso que não seria capaz de matar uma dessas... preferiria sair de perto.
A Geni colocou o cadaverzinho dentro de um vidro grande, tampou bem (para que? de medo que ela revivesse e se tornasse uma "cobra sem cabeça?”) e eu parti imediatamente para o Instituto Butantã, que fica aqui pertinho para que eles analisassem os restos mortais e me tranqüilizasse. Afinal meus quatro filhos tinham entre um ano e meio e dez anos!
Procurei a seção de cobras e fui atendida por um senhor de uns quarenta anos que ao ver o corpo dentro do vidro e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, perguntou “Por que alguém teve de matar a coitadinha? É uma cobra d’água, não venenosa e inofensiva!”
— Mas ela quis morder meu marido! Defendi. E contei como tinha sido.
O homem sacudiu a cabeça e me pediu para esperar um minuto. Foi lá dentro e voltou com três cobrinhas amarelas esverdeadas enroladas em seu braço, na maior amizade...
— Está vendo? Elas são inofensivas!... Quer pegar uma?
— Deus me livre! — recuei. O senhor disse que elas não mordem... não mesmo?
— Até mordem, se forem atacadas, como foi o caso do seu marido, mas não são venenosas, como já falei. Estas cobras não são problema no Morumbi. O problema grave mesmo são as aranhas. Você tem aranhas em casa?
Arrepiei-me toda.
— Já vi várias desde que nos mudamos para a casa nova. Uma delas, deste tamanho — e mostrei uma circunferência de oito centímetros — estava na copa, passando por baixo da minha cadeira.
Ele perguntou mais detalhes da invasora, falei e ele ficou preocupado.
— Vá ali na frente, na seção das aranhas e veja se as suas são iguais a algumas delas e converse com o encarregado.
Meu Deus! Acho que ninguém “gosta” de aranhas, mas ali estava um pesadelo de horror para ninguém botar defeito!
Logo na saleta da frente, onde o encarregado atendia por um tipo de guichê, podia-se ver numa vitrine vários espécimes vivos e diferentes.
Fui tomada por aquela atração do terror que esses bichos nos infundem. Minha curiosidade e vontade de conhecer para poder lidar com elas e defender meus rebentos foi maior que o pavor-pânico que sempre senti por aranhas.
Ali aprendi que a terceira aranha mais venenosa e perigosa para o ser humano é a aranhinha marrom e que a enorme e peluda caranguejeira não oferece perigo (é venenosa, mas sua peçonha não é ativa no homem. Não é agressiva, não ataca, mas se for pisada ou maltratada tratará de se defender...)
Aprendi também que as aranhas (muitas) do gramado da minha casa estavam no pódio, em segundo lugar. Aprendi que a aranha de grama é denominada Lycosa tarantula (Que coisa, pensei, tenho tarantulas aos montes em casa...) e crianças pequenas!
— E agora? — perguntei ao encarregado — O que eu faço? O Butantã vai mandar alguém fazer uma limpeza, matar, pegar, o quê?
— Não! O Butantã não faz nada disso. Nosso trabalho é aqui com as aranhas que as pessoas pegam VIVAS e trazem.
— VIVAS?!
— Vivas sim! Para que nós possamos tirar o veneno delas todos os dias. São necessárias muitas aranhas, para que juntemos a quantidade de veneno que precisamos para o soro anti-aracnídeo. Voluntários trazem aranhas todos os dias. E cobras e escorpiões, lacraias... No Morumbi tem muitos escorpiões. Você tem algum em casa?
— Ai... Não! Pelo menos ainda não vi nenhum...
— Bem. Sua casa é nova, mas cuidado com entulho, lenha para lareira, escorpião adora uma lenha perto do fogo...
E ele me deu uma aula sobre como caçar vivas as aranhas e escorpiões, com um vidro de boca larga.
— E não se esqueça de colocar dentro do vidro um algodão com água para que eles não cheguem mortos aqui. E a tampa deve ter furos com um prego para entrar ar. E também é claro que a tampa deve estar bem firme, para que não escapem dentro do seu carro... E ele riu. Pode começar a trazer, que precisamos muito.

11 Comments:

At 4/5/09 3:55 PM, Anonymous primacaçula said...

AINDA BEM QUE NÃO MORO NO MORUMBI.

ONTEM, PORÉM, DESCOBRI UM BICHO HORRÍVEL NA MINHA SALA; OUTRO QUE ESTÁ NA MINHA LISTA NEGRA: UM MORCEGO QUE SEGUNDO O VIZINHO, ESTÁ PROCURANDO UM LUGAR PARA FAZER NINHO! JÁ PENSOU? FILHOTES DE MORCEGO EM MINHA CASA?
SÃO FRANCISCO QUE ME PERDOE NOVAMENTE!
CONSEGUIMOS ESPANTÁ-LO, POIS O QUE MENOS DESEJO É MATAR UM ANIMAL.
QUE VÁ COM DEUS!

 
At 5/5/09 11:28 AM, Blogger marianicebarth said...

Apareceu em morcego em casa uma vez, com a asa quebrada. É um animalzinho assustador, não é mesmo? Tem uma cara de diabinho...

 
At 5/5/09 11:30 AM, Blogger marianicebarth said...

O que será que aconteceu com o Timtim? Não tem aparecido por aqui, nem responde meus e-mails. às vezes recebo algum dele, respondo e fica por isso. E ele não é disso! Estou estranhando.

 
At 5/5/09 9:39 PM, Anonymous primacaçula said...

Deve ser alguma coisa pessoal ou uma viagem, quem sabe?
Ele faz muita falta, não faz?
Aliás, todos poderiam estar aqui trocando idéias, inclusive o Shiost que foi quem nos incentivou a isso!
E QUE NOS FAZ TANTA FALTA...!!!
I LOVE YOU, BROTHER!

 
At 5/5/09 9:57 PM, Anonymous timtim said...

Nice, é pena que eu vou morrer primeiro que você, porque se não fosse isso, eu pediria para dissecarem seu cérebro, para descobrir como é possível ter esta memória tão completa de todos os detalhes. Fabulosa esta visita ao Butantã. Gostei da Geni "mineira de boa cepa".

 
At 5/5/09 10:00 PM, Anonymous timtim said...

Obrigado, Nice e primacaçula, pela preocupação. Agora a Nice já sabe que minha ausência foi por conta do PC no conserto.

 
At 5/5/09 10:06 PM, Anonymous timtim said...

Primacaçula, ao ler sua declaração para o Shiost: "I love you brother", me dei conta que um dos motivos de nós dois (vc e eu) nos entendermos tão bem é porque meu anjo da guarda combina bem demais com o anjo do Shiost. Há forças misteriosas nos unindo.

 
At 6/5/09 12:38 AM, Blogger marianicebarth said...

Primacaçula, o Timtim fez aniversário ontem, dia 4.
Parabéns pra você!
Nesta data querida!
Muitas felicidades,
Muitos anos de vida!

Timtim, quem disse que você vai morrer primeiro?
Mas não precisa mandar dissecar meu cérebro, não. Minha memória é boa porque já contei essas histórias dezenas de vezes.
Gosto de contar histórias e estórias, como prefere a primacaçula.

 
At 6/5/09 12:32 PM, Anonymous primacaçula said...

PARABÉNS, MEU QUERIDO IRMÃO E AMIGO.
UMA LINDA ENERGIA TB. NOS UNE E EU DESEJO A VC. TUDO DE BOM, SOB AS BÊNÇÃOS DO PAI.
BJÃO EM SEU CORAÇÃO AMOROSO!!!

 
At 7/5/09 8:19 AM, Blogger caos e ordem said...

Deve ser coisa do sangue e do gen (meu e do meu irmão) eu também fico admirado da memória, mesmo já explicado que a história foi contada e recontada.
Fiquei curioso para saber se foi feita a captura dos bichinhos para o Butantã.
Conta outras que vamos lendo e comentando.

 
At 7/5/09 11:37 PM, Anonymous primacaçula said...

É QUE A "MÃEZINHA" DELA, MINHA AVÓ, FALECEU LÚCIDA AOS 97(?) ANOS!!!
MAS EU NÃO A "PUXEI"!

 

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