sábado, novembro 03, 2007

Ernesthine Wilhelmine

O reino da Prússia (Processo de Unificação da Alemanha no séc. XIX)

A rota de Ernesthine
Alemanha de hoje

Estive em ritmo de investigação, projetando-me no passado, há 178 anos.

Ernesthine nasceu na cidade de Dresden, em 21 de março de 1829.

Se ao chegar ao Brasil em julho de 1852, seu filho mais velho tinha 7 anos, provavelmente casou-se em 1844. Teria então apenas 15 anos! E Franz Gustav era um viúvo de 41 anos, portanto 26 anos mais velho. Penso que se tratava daqueles casamentos arranjados. Também ainda nada sei sobre seu nome de solteira.
Estou fascinada pela personalidade dessa moça que foi minha antepassada.
Imagino que não pôde acompanhar Franz Gustav na viagem pelo "Gloriosa" no ano anterior por estar grávida de 5 meses. Franz, então com 49 anos, partiu de Hamburgo em julho de 1851, com o filho de 21 anos, de outro casamento. Ela ficou sozinha em Dresden com os quatro filhos e outro nasceria em novembro de 1851, em pleno inverno.
Fico imaginando a beleza dela, a pele muito clara, os olhos azuis, os cabelos finos e escuros. Deveria ter grande força de espírito para ficar sem o marido e esperar seu quinto filho sozinha, numa época em que as mulheres eram tão discriminadas.

Crio uma imagem dela de vestido preto, os cabelos penteados para trás, formando bandós dos lados, sobre as orelhas pequenas e delicadas. Ativa, preparando-se e aos filhos para a dura viagem que teria pela frente. Esperando o pequenino ficar um pouco mais forte.
Vejo-a preparando as roupas das crianças e colocando nos grandes baús de madeira de lei. A família tinha posses, casa bonita e alguns criados. Vejo-a dobrando carinhosamente as peças brancas, rendadas, de seu próprio guarda-roupa, os vestidos de festa, as camisolas.
Ela sabia o que a esperava na Colônia Dona Francisca. O marido escrevera que estava desapontado e decepcionado. Contara que muitos embarcaram no navio seguinte, de volta para a Alemanha. Dissera que a vida não seria fácil, mesmo contando com a ajuda de escravos. Haveria muito trabalho braçal e pouquíssimos recursos. Dissera também que a empreitada era difícil para ele, que era um intelectual.

Vejo-a sentada em sua saleta, lendo a carta atentamente, depois chamando os filhos e lendo em voz alta para eles, todos em volta dela, a pequena Hedwig de quase dois anos em seu colo, Elisabeth sentadinha num banquinho bordado, muito séria em seus quatro anos, o rostinho rosado apoiado nas duas mãozinhas, os grandes olhos claros voltados para a mãe cheios de confiança. Wilhelm, 7 anos, estava ansioso para ir para aquele país tão exótico, imaginava caçadas com o pai, pescarias, aventuras de todo tipo. Edmund, mais sossegado, só escutava.

Ela sabia, pelas revelações da carta do marido, o que teria de enfrentar, mas não se intimidou. Sabia que sua vida mudaria drasticamente e sentia que estava preparada para isso. Sentia em seu íntimo uma força insuspeitada antes. Sentia um arrebatamento, uma audácia e um destemor de Valquíria, que a impulsionava para o desafio do desconhecido.
Somente o bebê novinho, bem cuidado pela babá, preocupava-a um pouco. Não parecia tão forte como os outros. Mas a babá acompanharia a família, para ajudar a cuidar das crianças.
O dia marcado para a viagem se aproximava. Iriam atravessar a Alemanha de lado a lado, do extremo leste para o extremo noroeste. Hamburgo ficava muito longe. Iriam todos numa carruagem bastante grande e "confortável", parando para dormir em hospedarias razoávelmente limpas e para refrescar e descansar os cavalos. Outras carruagens, mais duas, seguiriam com as roupas e utensílios para a grande mudança. Levaria apenas o mais necessário. A casa estava à venda. Seus preciosos tesouros ficariam para sua mãe à espera de serem embarcados.
Seu piano... Como viveria sem ele? Mas estava levando o violino do marido. Poderia cantar... Ela suspirou. O espartilho apertava tanto sua cintura ainda aumentada, que tortura, as estradas eram esburacadas e as meninas enjoavam. Teria de pedir ao boticário para providenciar uns sais. E o bebê? Levantou-se para olhar o berço. Dormia, tão sereno... Como era lindo o seu filhinho. Alisou de leve seu cabelinho louro e macio e seu coração se dilatou e derreteu de amor. E ela sorriu com os olhos, como só as mães conseguem fazer.

12 Comments:

At 3/11/07 11:11 PM, Anonymous Anônimo said...

Que maravilhoso exerc[icio de imaginaç]ao! Quando a gente diz: "imagina como deve ter sido difícil"
A gente não pára para imaginar. Mas vc parou, imaginou e foi além da imaginação; produziu uma bela página para o seu blog. Isso é que se chama viajar nas asas do tempo.

 
At 5/11/07 10:37 PM, Blogger Antônio said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 5/11/07 10:38 PM, Blogger Antônio said...

Você está indo muito longe. Acho que devemos voltar aos anos 50.

 
At 6/11/07 12:56 AM, Blogger marianicebarth said...

Não, não acho. Sempre quis saber o motivo da viagem deles para cá e onde entravam os Von Der Osten. Escrevi o segundo capítulo, postei e retirei para colocar novas informações. Esta história dá livro! Já estou conseguindo "ver" e "sentir" Ernesthine. Como não sei mais do que está escrito no livro do Ernani, posso voar à vontade, não preciso me ater aos fatos. E acho que estou chegando ao cerne da questão, com as pesquisas que fiz ontem e hoje sobre a situação da Saxônia em meados do sec. 19.

 
At 6/11/07 8:30 AM, Blogger caos e ordem said...

Eu pedi e vc atendeu. muito obrigado.
Este texto já saiu bem diferente do outro que foi transcrito, este tem o sabor Nice de escrever.
Este é também um prazer, ler e comentar o que vc escreve.
Certamente os leitores de seu livro vão sentir também o prazer da leitura.
Vai contando tudo desde aqueles tempos, está ótimo.

 
At 6/11/07 2:36 PM, Blogger marianicebarth said...

Nã nã não, meu querido, estou pesquisando as datas com o perfeccionismo que me é peculiar... (modéstia à parte... risos)...

 
At 6/11/07 6:52 PM, Blogger marianicebarth said...

Desculpe, caos. OMeu comentário anterior é dirigido ao primo Shiost, que está implicando comigo sobre datas e invasões de Napoleão, nada a ver...

 
At 9/11/07 11:35 PM, Anonymous Anônimo said...

Que lindo Nice, seu jeito de escrever!!! Vi tudo com meus próprios olhos se posso dizer assim, isso significando que nos fez viajar para tempos atrás! Tempos, aliás, que me parecem mágicos!!! Não tenha pressa em voltar aos anos 50!
Ia esquecendo de dizer: o perfeccionismo faz parte com certeza da família materna!!!???

 
At 11/11/07 3:15 PM, Blogger marianicebarth said...

Caos, mil perdões!
Você estava absolutamente certo.
Escrevi a frase faltando um pedaço, mas já corrigi, pode voltar à postagem que já está tudo certo.

 
At 11/11/07 3:18 PM, Blogger marianicebarth said...

Caos, peço mil perdões! Você estava certíssimo, eu havia "comido" uma parte da frase,mas já corrigi:

" um viúvo de 41 anos, portanto 26 anos mais velho".

 
At 11/11/07 6:24 PM, Anonymous Anônimo said...

Você possui uma humildade acentuada. Qdo elogiamos o que escreveu, finge que não percebeu tal coisa. Parabéns! Isso é qualidade rara!

 
At 21/10/09 5:53 PM, Blogger juruva said...

Caríssima.
Há alguns problemas na sua belíssima crõnica, sobre os quais eu vou comentar e, inclusive, apontar dados de que cita. No início da década de 40 do Século XIX, a primeira esposa de Franz Gustav Straube, a sra. Johanne (Schäppach) Straube falece por motivos desconhecidos. Viúvo, Franz casa-se novamente, agora com Ernesthine Wilhelmine Hübschmann nascida em Dresden em 21 de março de 1822 (Bach, 1909). Ernesthine era filha de Carl Friedrich Hübschmann e Johanna Friedericke Wilhelmine Bierling. Do casamento entre Franz Gustav Straube e Ernesthine nascem William Gustav (nascido em 1844), Edmund Ernst (1846), Elisabeth Ernestine (1847), Hedwig Ernestine (1849) e outros dois filhos. Um deles, de nome desconhecido, tinha aproximadamente 9 meses de idade e morreu em alto-mar devido à epidemia de sarampo que tomou conta da embarcação. O caçula é homônimo do pai: Franz Gustav Straube, nascido em Joinville em 1853 e falecido em Cerro Azul em 1909. Então, quando Franz Gustav (pai) saiu da Alemanha (julho de 1851), acompanhado de um de seus filhos do primeiro casamanto (Franz Julius Straube)era julho de 1851. Lá deixara a esposa Ernesthine grávida (de 6 meses) e seus quatro filhos. Então a crõnica está correta , apenas necessitando de alguns reparos cronológicos. O mesmo reparo faço para a diferença de idade entre Franz Gustav e Ernesthine. O primeiro nasceu em 1802 e, ela, nasceu em 1822; tinham , portanto, 20 anos de diferença. Ao vir para o Brasil, Ernesthine tinha, por esses cálculos, 20 anos de idade, situação bem diferente dos 15 anos, o que seria algo bem destacado, mas não é real. Também não sei se a família Hübschmann era rica. Aliás isso seria improvável, visto que a Alemanha naqueles tempos estava em recessão. Isso graças à dissolução do Sacro Império Germânico por Napoleão Bonaparte, em 1815. De qualquer forma adorei o texto e especialmente a poética que você conseguiu inserir. As datas e acontecimentos me estão muito frescos agora pois estou escrevendo um livro em coautoria com meu pai (Ernani) sobre Franz. Há material muito importante que queremos divulgar. Um abraço e parabéns novamente. Fernando (fernando@hori.bio.br).

Em tempo: Franz Gustav, segundo retrato feito pelo pintor Pedro Macedo (posso enviar por email) tinha cabelos escuros e olhos também escuros. Nada posso dizer sobre Ernesthine.

 

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