segunda-feira, outubro 08, 2007

Uma Grande Paixão XII

Engraçado, nunca me ocorreu perguntar como foi que Anna chegou na casa dos sogros para buscar as meninas. O fato é que as duas ficaram com ela dali em diante. Não sei também se Anna e Gustavo se encontraram nessa época e como foi esse encontro. Daí em diante ficou tudo muito nebuloso.
Mas há um detalhe interessante que talvez tenha feito Anna pensar que teve razão ao desconfiar que Gustavo amara sua prima. Uns dois anos depois de ter recuperado seu direito à liberdade e à vida normal, Anna ficou sabendo que Gustavo tinha uma filha de outra mulher e que dera a essa menina o nome de Eva. Que ficara com a menina, mas não com a mulher. O mistério do nome faz pensar a qualquer um que pelo menos uma grande admiração havia, dele para ela.
Mais alguns anos e todos souberam que Gustavo estava vivendo com uma terceira (aliás esta é uma excelente pessoa) e que já tinha mais filhos com ela, dois meninos. Com esta última ele se casou, depois de se divorciar de Anna.

Anna manteve por Gustavo um misto de amor e ódio por toda a sua vida. Nunca se casou novamente, mas de um momento em diante parece que acabou aceitando melhor as coisas. Era feliz e alegre a maior parte do tempo e penso que seu sentimento pelo homem que fora seu único amor, tornou-se mais ameno. Mas sua tendência para um comportamento dramático e passional continuou até o fim de sua vida.

Mudava-se de um lugar para outro muitas vezes, o que era bastante difícil para Carlota e Dina, que a cada mudança eram deixadas em casa de parentes, onde nem sempre eram sequer desejadas, menos ainda amadas.

Dina conta que ficou revoltada, tanto com essas mudanças, quanto pela rejeição reiterada que sofria. As pessoas diziam que Carlota podia ficar, pois era dócil e bonita, mas Leopoldina era brava, vivia de carinha franzida e por isso diziam que era feia e que não a queriam. E assim as meninas viveram até os treze, catorze anos, quando se fixaram finalmente em Morro Azul. Daí em diante, continuaram os estudos e se formaram ambas professoras. Dina estava no mesmo ano que eu, mas em classes diferentes e nos diplomamos juntas.

Quando estava no 1º. ano do Curso Normal (Magistério), Dina conheceu um rapaz excelente, de ótima família e se apaixonaram. Foi um período maravilhoso em sua vida, tão parca de felicidade. O namoro foi ficando mais firme. No ano seguinte ele completou dezoito anos e fez o Tiro de Guerra. Ao tranportar explosivos num caminhão do Exército, ninguém sabe como nem sei por quê, aquilo tudo explodiu, matando-o na hora. Pobre Dina, que carma!

Nós não tínhamos muito contato na época e não sei com que forças ultrapassou essa fase. Só conversamos sobre isso muitos anos depois.
Mas Dina tinha um sonho, que não pôde realizar quando era pequena: ser bailarina clássica. Só quando já estava com dezoito anos conseguiu começar as aulas, no Conservatório de Morro Azul. Começou nessa idade, tarde demais para o balé clássico, dizia ela mesma. Os arcos dos pés de uma bailarina precisam ser moldados entre os cinco e sete anos para que ela consiga fazer a ponta, isto é, dançar sobre os dedos com a sapatilha de ponteira. Mas dificuldades nunca representaram muita coisa para esta família...

Dina estudou balé durante catorze anos, em São Paulo. Fez parte do Corpo de Balé do Teatro Municipal de São Paulo e foi para Londres e País de Gales fazer um curso de especialização no Royal Ballet de Londres.

Ela casou-se duas vezes. Não tinha nada a ver com o primeiro marido. Um daqueles erros que se comete quando a vida é madrasta. Alguns anos depois sanou o erro separando-se dele e consertou sua vida cursando Letras ou Pedagogia, não me lembro bem.
Depois de formada, deu aulas em um colégio, conheceu o segundo marido, oficial da Reserva da Aeronáutica, com quem teve uma única filha, Ana Cristina. Mudaram-se para Curitiba e só então pôde fazer o que realmente gosta, dançar e dar aulas de balé, o que faz até hoje.

7 Comments:

At 10/10/07 7:53 PM, Anonymous Anônimo said...

Parece inconsequente, mas, ao terminar a leitura deste capítulo, exclamei: Que legal a história da Diva! Vocês acrescentarão: legal em termos. É verdade, mas esta é a história dela; com a mudanças,com as rejeições, com a tragédia e também com a coragem de lutar, com a persistência e as vitórias. Imaginem,
especialização no Royal de Londres; corpo de Balé do Municipal!
Agora fico aguardando a trajetória da dócil e bonita Carmem.

 
At 10/10/07 8:49 PM, Blogger Antônio said...

Este comentário foi removido pelo autor.

 
At 10/10/07 8:50 PM, Blogger Antônio said...

Será que a Carmen também se tornou uma artista?

 
At 10/10/07 9:04 PM, Blogger Antônio said...

Estou confuso. Nice, você é minha prima em segundo grau ou terceiro? E quianto à sua mãe?´É minha prima? E seu avô, Antônio, é meu tio avô? Nossa, como eu sou ruim nessas coisas... E seus filhos, primos em quarto grau? E seus netos? Socorro!!!!!!!

 
At 10/10/07 10:56 PM, Anonymous Anônimo said...

Segundo o Vô Jango, Shiost, a Nice é sua prima em terceiro grau e seu tio-avó, Sr. Tonico!

 
At 10/10/07 10:57 PM, Anonymous Anônimo said...

Carma negativo da Diva, vc. quer dizer, pois existe também o positivo!

 
At 11/10/07 4:50 AM, Blogger caos e ordem said...

Por alguns 10 dias vou interromper minhas atividades bloguísticas.
Este é o grande show da vida, com todas suas histórias.
Alguns casos nos parecem mais interessantes e alegres, outros cheios de tristeza e até desinteressantes.
Mas cada um e todos eles completam e montam o grande show da vida.
até o retorno

 

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