segunda-feira, dezembro 31, 2007

PROVAÇÃO - Capítulo IV

Durante uns sete ou oito meses os desenhos "saíam" forçados, espirrados, espremidos: os traços enrodilhados em si mesmos, traços demais, elementos demais, nada do que Helenos me ensinara desde o primeiro dia. Ele, sempre sarcástico, dizia: ― o traço "pentelhudo" da Nice...
Mas era assim mesmo. Eu ia enrodilhando, enrodilhando até que alguma imagem aparecesse.
E eu não gostava nada, nada. O que aparecia? Uma menina chorando (eu) sobre sua cachorrinha morta (Aleluia, linda, jovenzinha, cinzenta-clara, peluda como um poodle, pequenina e vivaz, que agonizava por culpa de um ossinho de frango e não havia veterinários em Itapê...), um São Francisco (meu santo predileto) de braços abertos, em prece, olhos em Deus, Dom Quixotes aos montes, montados em águias, lutando contra locomotivas ou parados no tempo, ou sentados espremendo o cérebro, ou desanimados como eu comigo mesma...
Ou uma cena: árvore com galhos parecendo braços ameaçadores, por trás de uma moita em primeiro plano, em que se agachava um homem-macaco-primitivo nú, escondendo-se dela; a árvore agitava os "braços", controladora e hostil; o homem tinha medo dela, mas ele não sabia que a árvore por sua vez estava com medo de um perigo mortal, um incêndio na mata; por trás da árvore um vento forte agitava as chamas.
Oura cena: uma coruja gigantesca voando, olhava de cima para figuras humanas de papel, coladas pelos pés no piso em ângulo de 90 º, como num palco; e suas sombras estendiam-se até a parede e dobravam-se por trás delas. As figuras representavam vários tipos humanos entre o espiritual e o material. O que significava isso? Uma coruja voa e é símbolo de pensador, mas figuras de papel são meros simulacros de pessoas. Seria o que eu estava pensando de mim mesma? E ainda por cima a coruja era uma forte influência do Helenos, nem original, nem criação minha era.
E eu sofria, penava, inferno na terra, desculpem o exagêro, mas os artistas como Edi, Alessandra, Christina e Turini me entendem e tenho certeza de que as pessoas sensíveis (como vocês todos) também.
Quando fazia nove meses que estava batendo a cabeça e dando murros em ponta de faca, numa segunda-feira, dia memorável em minha vida, tive um estranho sonho: uma porta de ferro batido, bruta, no formato de um pequeno sarcófago, colocada em uma parede falsa de lanças, dentro de um aposento verde e sem janelas...

2 Comments:

At 31/12/07 2:23 PM, Blogger marianicebarth said...

Estamos em Itatiba, enfrentando um calor bárbaro em uma chácara linda, com vários sobrinhos e seus amigos, crianças e cachorrinhos. Rodrigo e Fabiane, seus três adoráveis cachorrinhos Shitzu (a venerável Uly , Manolo e Cory), fazem parte dos hóspedes mas, Chris e Jay, Nelson e eu ficamos lá durante o dia e à noite, bem tarde, voltamos ao hotel e para o abençoado ar condicionado... e internet.

 
At 11/1/08 10:42 AM, Blogger Polemikos said...

Tive uma professora de escultura, que não entendia nada de escultura e não sabia esculpir .... mas começava a aula dela com uma sessão de meditação de uns 10-15 minutos, música new age, incenso, etc ...
Você teria ganho vários mêses !!!

 

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