quarta-feira, janeiro 02, 2008

O SONHO - Capítulo V


(Vocês deverão tentar me acompanhar dentro desta viagem e não vai ser fácil, pois acho que compreendem que sonhar é mais fácil do que contar um sonho por escrito e com tantos detalhes como foi este. Tenho certeza de que algum de vocês vai me perguntar como me lembro dele até hoje. Já vou respondendo que ele foi o mais importante e sensacional de toda a minha vida e que o contei muitas vezes e também o escrevi em todos os detalhes. Prontos? Vamos?)

De repente eu estou dentro de um quarto verde, sem janelas. Olho em volta. É um banheiro, pintado de verde-água. Atrás de mim, o vaso sanitário, antigo, com a caixa d'água com aquela cordinha e o cano no mesmo tom das paredes. Tudo verde claro. O pé direito é muito alto e observo que estranhamente não há banheira, nem chuveiro, nem mesmo uma pia. Essa parede está muito escura. Mal posso distinguir o vaso sanitário, sozinho no canto. A segunda parede também é verde. Está tão escura que nada vejo nela, a princípio.
Continuo olhando em volta e me assusto: a terceira parede tem uma espécie de sacada, numa altura de uns dois metros, que também está escura. Olhando melhor percebo alguma coisa, um ligeiro movimento. São três mulheres desconhecidas debruçadas e olhando curiosas para mim lá de cima, como se estivessem esperando alguma coisa. Está tão escuro que elas parecem desfocadas e em preto e branco. Não gosto da presença delas, mas nada posso fazer. Tento ignorá-las, mas é difícil. Afinal estou num banheiro! Como podem elas ser tão indiscretas, por menos que eu o esteja usando? Começo a pensar que podem estar pintadas, como uma foto esmaecida... sim, talvez não sejam "reais"...

Meus olhos começam a se acostumar à escuridão. Bem no canto da segunda com a terceira parede consigo vislumbrar uma cadeira e julgo que há alguém sentado ali, mas não consigo ver direito. Parece uma mulher muito morena e baixinha, com uma criança pequena no colo. E de repente a reconheço: é a babá e a criança é a Christina.

Em seguida olho para a quarta parede e tento entender o que está lá: são duas paredes diferentes e paralelas:
A mais próxima, mais baixa, é feita de lanças de ferro preto, unidas uma a uma, que alcançam a altura dos meus olhos e, no centro, uma porta maciça, pesada, de ferro batido, com o formato que desenhei, recortada contra uma chapa de ferro que segue seus contornos, sem estar apoiada em nada aparentemente.
― Uma porta ― penso ― uma saída...
E, ao fundo outra parede paralela, verde como todo o resto, mas com um detalhe importante: entre as lanças pretas e a parede paralela, há um espaço de pouco mais de um metro e, nesse espaço, há luz! Uma lâmpada pendurada que ilumina apenas o espaço entre as duas.

― Engraçado, ― continuo pensando ― ali está iluminado pela lâmpada e aqui está escuro... mas o recinto é o mesmo... No entanto as lanças não vão até o teto... Por que aqui está tão escuro e no lado de lá está claro?
A porta tem sobre a “cabeça” um pórtico de madeira entalhada e dos dois lados do "pescoço", duas enormes fechaduras com duas enormes chaves.
― Tenho de sair daqui ― digo a mim mesma ― mas a porta é baixinha e estreita. Não há maçaneta, nem dobradiças. Não posso pular por cima das lanças... Tem de ser pela porta mesmo se eu quiser sair. Posso me abaixar e se me encolher bem, acho que consigo passar. Mas passar para onde? Para o quê? Não sei... do lado de lá também não tem saída, só o espaço iluminado... Mas sei que TENHO de passar! Sair daqui... Entrar ali... Passar! Tenho de passar por essa porta! É tudo o que preciso fazer! Mas não há como! Não há como abrir uma porta sem dobradiças nem maçaneta. Ou será que há? A resposta deve estar nas chaves.
E raciocinando assim, coloquei as duas mãos na chave da esquerda e tentei girá-la no sentido anti-horário. Ela não apresentou resistência, mas em vez de abrir a porta, começaram a surgir imagens animadas de mamadeiras que brotavam de cima do pórtico entalhado, projetavam-se na parede do fundo, onde havia a lâmpada e começavam a se estender, subindo devagar, alcançando o teto e continuando em direção à parede da cadeira e começavam a descer por ela, ameaçando fechar o cerco, pois estavam ligadas ao entalhe pelas bases. Uma depois da outra, quatro mamadeiras . Desvirei a chave e as quatro foram regredindo vagarosamente, sugadas de volta, mas antes que entrassem, uma por uma transformava-se em mamadeira de verdade, cheia de leite quentinho. Peguei a última antes que desaparecesse e pedi à babá para dá-la à pequena Christina.
Então girei a chave da direita: imediatamente iniciou-se uma projeção de desenhos animados na parede paralela. Eram desenhos de Disney e não gostei, não era nada que eu pudesse aproveitar e também não fizeram com que a porta abrisse.
Desvirei a segunda chave e pensei por um momento no próximo passo. O que deveria fazer?
Tomei coragem e girei as duas chaves ao mesmo tempo...

4 Comments:

At 4/1/08 7:56 PM, Blogger marianicebarth said...

O desenho da porta que vocês viram foi feito para ser artístico. No sonho havia a parede de lanças de ferro, coladas uma na outra e não existiam os batentes, como está no desenho. Mas o entalhe está igualzinho. O Helenos me orientou para executar o desenho apenas com a porta e penso que ficou bom como está.
Será que deu para vocês entenderem a exposição do sonho?
Depois que me explicaram todos os significados, tive a certeza de que foi uma belíssima mensagem de outras paragens...

 
At 11/1/08 10:53 AM, Blogger Polemikos said...

Muito bem escrito/descrito. Meu comentário pode parecer um tanto negativo, mas não é : você sabe como eu reconheço sua enorme capacidade de escrever.
Mas sonho não se descreve, sonho se evoca.

 
At 11/1/08 12:20 PM, Blogger marianicebarth said...

Sim, Turini e por isso é que é tão difícil contar um sonho (tão importante como foi este para mim) por escrito. E ainda temos de levar em conta que devido à idade desse sonho em minha memória, posso estar acrescentando ou tirando alguma coisa... Mas a "história" do sonho é essa mesmo.

 
At 12/1/08 8:55 PM, Anonymous Anônimo said...

Em primeiro lugar como pode lembrar ainda de tantos detalhes do sonho?

Não entendi quem lhe explicou os significados.

Em tudo o que descreveu me parece muito clara a figura da Christina e das quatro mamadeiras, da luz e da escuridão. Me parece muito importante em sua vida o desempenho da tarefa de "parideira" (quem a preocupava tanto) sem esquecer, é claro, o lado artístico que possui.

Após um "longo e tenebroso" verão em Limeira estou de volta!
BEIJOS A TODOS(AS)!!!

 

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