sexta-feira, outubro 22, 2010

O ASSALTO


Segunda-feira, 20 de Julho de 1.991 - 13:20h
Enquanto eu estava na consulta, quatro rapazes entre 12 e 17 anos pularam o muro de minha casa e entraram pela porta da frente.
Tínhamos estado em Itapê, como já disse antes, para, entre outras coisas, deixar com o Flávio Rubens (o mais velho, 24 anos), um computador para a loja dele. Ainda era uma novidade, daqueles de tela verde, em DOS e ele não sabia mexer.
Quando os assaltantes entraram o Rodrigo estava ao telefone com o Flávio Rubens (em interurbano), ensinando ao irmão como fazer. Minhas filhas estavam na sala de TV e a Cida, empregada, arrumava os quartos lá em cima. Quem viu primeiro a mão armada foi a Cida, do vão da escada, e chamou baixinho as meninas, “Depressa, tem ladrão em casa!!!”. Largaram a TV ligada, correram todas para o meu quarto e trancaram as duas portas. Ninguém se lembrou do Rodrigo, sozinho com o bando...
Lá em baixo, meu filho sofria o comando sussurrado dos ladrões:
─ Desliga aí, meu!
E a arma apontada. Rodrigo, apavorado, tentou desligar, mas o irmão mais velho ficou muito bravo, dizendo que precisava das explicações e que não ia desligar!
─ Desliga aí, meu, senão te apago já! ─ ciciava o ladrão, a arma apertada nas costas do Rodrigo.
─ Flávio, tenho de desligar, tem gente querendo usar o telefone!... Ele tentava passar uma mensagem, mas o Flávio Rubens não entendia...
Nesse ínterim, a Chris, no meu quarto, levantou a extensão e ouviu a discussão, “Flávio, desliga, não desligo” e entrou na conversa, tentando avisar, mas sem dizer muita coisa, com medo que um dos assaltantes pegasse o telefone e ouvisse e acontecesse uma desgraça com o Rodrigo:
─ Flávio, tem gente estranha aqui, vê se faz alguma coisa...
Desta vez, o irmão entendeu e desligou. Mas fez outro interurbano, desta vez para o escritório do pai, que não estava... Mas a secretária recebeu a ligação, em que o Flávio Rubens muito nervoso, dizia que “achava” que estava havendo um assalto na casa do pai e que ela deveria mandar a polícia.
─ Mas você tem certeza?
─ Certeza, não, mas... E contou tudo o que sabia.
A moça chamou a polícia, dizendo que recebera um telefonema do filho do patrão, que morava no interior, (Quem, o patrão? ─ Não, o filho dele...) em esse filho dizia que “achava” que a casa do pai estava sofrendo um assalto naquele momento. Demorou algum tempo até que ela conseguisse contar a história toda e que a polícia compreendesse e decidisse mandar uma viatura para verificar.
Segunda-feira, 20 de Julho de 1.991 - 13:30h
Desligado o telefone, começaram as perguntas dos assaltantes:
─ Onde está o dinheiro?
─ Não temos dinheiro...
─ Queremo dinheiro e as arma! E os dólar!
─ Não temos dólares... Nem arma nenhuma!
─ Ah, não? Então você vai morrê, meu!
E o de doze anos voltou: É isso, então ocê vai morrê, meu! E tem mais gente na casa! Ouvi um barulho lá em cima!
E subiu todo mundo, a arma sempre nas costas do Rodrigo...
Na porta do meu quarto, ao ver que estava fechada, chamaram e bateram.
A Cida e as meninas correram para debaixo da cama. A Cida, muito gorda, não coube...
Mas o Rodrigo pediu para que abrissem, senão iam matá-lo.
E é claro que elas, a Chris chorando, abriram e todos entraram.
E começou tudo de novo: queriam dinheiro, dólares, ou jóias.
─ Minha mãe não usa jóias... Ela só tem bijuterias...
(E é verdade!...)
─ Então ocês tudo tão morto, meu! Nóis vamo matá ocês tudo!
E o de doze anos dizia:
─ Mata mesmo! Mata esse aí, esse branquelo, ele é filhinho de papai!
Chris chorava o tempo todo, sentada na cama, a Alessandra ao lado, protegendo a irmã. E o mais velho deles dizia:
 ─ Não chore! Nós não vamo machucá voceis, é só entregá a arma...
E Alessandra respondeu:
─ Mas nós não temos nenhuma arma, meu pai nem sabe atirar!
E o ladrão:
─ Atirá é fácil! Qué vê? ─ E abriu o tambor do revólver despejando as balas na mão, dizendo que faltava uma porque apagara alguém na véspera. Colocou as balas restantes de novo no tambor, engatilhou e
apontou para a cabeça da Alessandra...

6 Comments:

At 23/10/10 6:40 AM, Blogger caos e ordem said...

E eu que comecei por aqui, quase no fim, depois fui descobrir que a coisa comecou bem antes. Tai, o blogueiro(a) que faia e passa um mes sem publicar, quando escreve precisa mesmomandar uma mensagem avisando.
Como sempre muito bem contado e cheio de suspensorio.
abracao

 
At 23/10/10 6:43 AM, Blogger caos e ordem said...

Gente, o Tonico, amigao do Deto abriu um blog, de algum modo e um pouco do Shiost que ficou. Esta em http://tonico-bebop.blogspot.com/.

 
At 23/10/10 10:06 PM, Blogger marianicebarth said...

Por favor, comecem a ler pelo primeiro, O Presságio. Depois o segundo, o Grande Susto e depois este, O Assalto. Senão perde a graça. Aliás, não é engraçado mesmo...

 
At 25/10/10 7:40 PM, Anonymous primacaçula said...

Está aí a sua visão daquele dia.... véspera, não é?

Meu Deus! Que susto, não? Imagino o que passou quando viu o IML....

Mas, "Papai do Céu" não permitiu que nada acontecesse.

 
At 31/10/10 10:49 PM, Anonymous timtim said...

Eagora, Nice? Eu que li tudo na ordem certa, vou viajar amanhã (01/11) para a casa de meu filho lá no interior de S.Paulo, vou ficar sem saber o desfecho final? Ainda bem que eu sei que a Alê tá vivinha da silva... Nossa, vc põe a gente dentro da cena? Até humor vc colocou : "a Cida muito gorda não coube embaixo da cama". Adorei o linguajar dos meliantes.

 
At 31/10/10 11:47 PM, Blogger marianicebarth said...

Meliante paulista é assim, "meu"...
E meliante mineiro, como é? "Isto é um assalto, uai!"

 

Postar um comentário

<< Home