Histórias da Vovó Tina
Este gelado mês de Junho leva-me a viajar no espaço/tempo novamente, para a casa da querida Vovó Tina.
A casa era antiga, de pé direito muito alto e cômodos muito grandes. A sala de visitas tinha duas janelas altas dando diretamente para a rua, um comprido corredor, sala de jantar com mesa para doze pessoas, cozinha e banheiro único; da sala de jantar outra porta comunicava ao quarto grande, separado em dois por enormes guarda-roupas e dali ao quarto dos avós, que também tinha uma janela para a rua e outra porta de comunicação com a sala de visitas, fechando o círculo.
No inverno Vovô Jango apagava todas as luzes e íamos para a cozinha, o lugar mais quente da casa. Arrastávamos cadeiras em volta do grande fogão de lenha que esbanjava luzes e calores de lareira, adultos e crianças devidamente agasalhados, ouvindo o crepitar da lenha e nos maravilhando a cada vez com o mistério de sua transmutação em brasas.
Vovó Tina rebentava pipoca e servia para os mais velhos aquele café fresquinho e fumegante, feito com coador de pano direto no bule. Para as crianças, leite com Toddy.
Depois que ela se acomodava, as histórias começavam. Eram sempre as mesmas, mas não nos cansávamos de ouvir. “Vovó, conte aquela do mingau!”
Ao voltar para o quarto pelo corredor, comecei a ouvir passos arrastados às minhas costas e assustada, voltei-me: nada, ninguém. Estou imaginando coisas, pensei. Continuei andando e escutei a colher mexendo na panela. Olhei rápida para trás e nada havia. Os arrepios ficaram mais fortes e continuei andando, quando ouvi a voz masculina nítida e clara: “Ai, que mingau tão bom!” Olhei de novo e outra vez não vi ninguém.
— Não sei... Não tinha ninguém lá... Vai ver, era algum fantasma que gostava de mingau...
13 Comments:
Começando outra série? Ou serão capítulos aleatórios da minha vida?
Não sei se vou conseguir dormir, nesta noite. Estou sozinho, sozinho.. minha casa não é muito grande, mas tem dois andares - no andar de baixo funciona a clínica de psicologia, que era da Antonina...
Brincadeiras a parte, tenho impressão que esta foi uma das melhores páginas da nossa escritora.
Que saudades da cozinha de minha avó Amélia, lá fazenda Páu d'Alho! Há quanto tempo eu não lia esta palavra mágica: "crepitar". Que delícia: pipoca com café quentinho!
Como é mágico um fogão, com o "mistério da sua transmutação em brasas"... e labaredas.
O que enriquece seus textos são detalhes, do mesmo modo como os detalhes fazem a difrença nas obras dos grandes mestres: pintores, escultores, músicos, escritores. Queremos mais reminiscências.
Timtim, você é o paraíso de qualquer blogueiro, obrigada! Assim, você me estimula a escrever mais. Grande amigo!
Era para ser amanhã nosso sonhado "Encontro dos Blogueiros da Praça"... E agora, quando será? Só Deus sabe...
Vou começar outra leva de postagens.
Fantasmas amigos!
Meus Deus!
Estava perdendo estas "coisas maravilhosas"???
Engraçado... lembro-me bem da casa da vovó... Não sei se é a mesma.
Lembro-me das salas, da cozinha com o fogão a lenha, de um banheiro que depois fizeram outro, lembro-me do quintal... mas o quarto do casal me parece diferente. Ele não ficava, Nice no corredor, quase em frente ao banheiro, com uma janela dando para o lado da casa?
Porém...isso não importa. O que interessa são as lembranças das férias de julho (?) lá com a família.
Me parece que eu tinha muito medo das histórias da vovó e não imaginava que um dia me tornaria Espírita. Confesso aqui entre nós que ainda só não tenho medo dos Espíritos conhecidos...rrrsss...
Espírito que gosta de mingau só pode ser bonzinho, não acham???
rrrrsss....
Querida prima, eu tinha 9 anos quando nos mudamos para a outra casa que você se lembra, portanto, você era uma criancinha de apenas 4...
A "casa nova" de que se lembra era da rua de baixo e tinha um porão inacessível, um corredor estreito de um lado, que dava para a rua. Mas o quarto que dava para ele era o da Santa e não do casal, que ficava do outro lado... Essa outra casa era mais "moderna", do começo do século XX e tinha também um terraço e outro corredor mais largo, social, com piso de cerâmica vermelha, encerada, que fazíamos de pista de patinação com nossos sapatos de solas de couro... Tenho algumas fotos dessa casa que pretendo colocar aqui um dia.
Outra coisa: a vovó tina contava essa história inúmeras vezes e eu tinha a impressão de que acontecera com ela. Mas, já no fim da sua vida perguntei sobre esse caso e ela me disse que não fora com ela, mas com outra pessoa. Só que, na minha cabeça de criança era tão vívido como se fosse com ela mesmo! Vá entender!
A casa que me lembro é a última que a vovó morou, onde passei muitas férias, inclusive na minha juventude. Lembro-me bem dela, tenho até fotos dos meus filhos mais velhos... Daniel e Pri, no quintal com a mamãe, eu e vovó.
oi mae, conta a historia do chinelo, q vcs ouviam na casa...tem algumas historias de fantasmas otimas!
Acho q sua vocacao se transformou em escritora. esse blog e um show!ano q vem q a rebecca estara na escola terei mais tempo de curtir...bjs, vejo vcs em NYC de novo!
Também só vi este comentário hoje, 3 anos depois... Mas contarei a história do chinelo...
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