quinta-feira, junho 03, 2010

Expectativa

Alguns dias antes mamãe recebeu a carta da Esther, avisando que o Vital os traria  no primeiro sábado, dia 5 de Julho. 
Fiz cara feia. "Ainda!" 
Que foi? — perguntou mamãe — que cara é essa de quem comeu e não gostou?
Olhei bem para ela e vi seu olhar carinhoso. 



— Venha cá  — riu ela — vamos pentear esse cabelo de maria louca. 
"Ah... não!..." — pensei, mas obedeci e fui me arrastando pra sessão de tortura. Minhas tranças chegavam abaixo da cintura e todos os dias mamãe desembaraçava meu cabelo e refazia as odiadas tranças, prendendo-as com laços de fitas na altura das orelhas. Não era pelo ridículo, porque até os meus onze anos eu não tinha vaidade alguma, mas detestava o desembaraçar com o pente, porque doía bastante. 

Vejam a foto ao lado, tirada por papai no dia em que fiz nove anos. E o tamanho das fitas!?  Parecia um veleiro com todas as velas mais a bujarrona, desfraldadas... Cada moda!... 

Mas tranças e fitas ou não, depois de ansiosa espera, chegou o grande dia! Parou na porta o carro e desceu a família: Esther e Vital, Flávio José com 13 anos, Maria Christina com 10, Antonio Gilberto com 7 e Maria Cecília com 4, uma fofurinha. 
Maria Christina nem bem dava um beijo e um abraço nos mais velhos e já se virava para mim, rápida, os olhos brilhantes: 
— Vamos brincar, Nice?! — era meio que uma ordem, mas eu concordava de pronto, felicíssima, olhos tão brilhantes quanto. 
E já saíamos correndo. 

4 Comments:

At 4/6/10 1:01 PM, Anonymous primacaçula said...

Imagino que era mesmo uma ordem.
Lá também, ela me dava injeções de espinho de laranjeira, sendo que o algodão era a folha de chuchú? Ou só em Pirassununga?

Talvez hoje eu entendo. Ela me disse outro dia que sempre quiz cuidar de mim como uma "filha" e mamãe não deixava.
Porisso, hoje me chama a toda hora de filha, dizendo sobre o A. Carlos... "Seu pai fez isso ou aquilo"!É muito engraçado. Preciso dizer: "Não sou sua filha"....
Pode rir... mas está começando a acreditar que foi minha mãe um dia.... " Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura"!rrss....rrrsss.

 
At 4/6/10 9:36 PM, Anonymous timtim said...

Estou muito curioso para entender melhor esta família. Já ia mesmo pedir informações sobre quem é a M.Cristina, doadora p/ o transplante do Shiost.

 
At 7/6/10 4:22 PM, Blogger caos e ordem said...

Curiosidade: qual era a razão dos cabelos longos além da cintura?
Minha observação é totalmente leiga, mas penso que é um ótimo sinal de saúde psíquica, ficar se abrindo sobre essas lembranças da infância. O estilo como sempre muito agradável.

 
At 8/6/10 11:38 PM, Blogger marianicebarth said...

Meu cabelo além da cintura, Zeca, porque a mamãe fez uma promessa de que NUNCA iria cortar O MEU CABELO para que eu saísse na procissão como Maria Madalena!!!
Ora, eu não me conformava com isso, mas fazer o quê? Se era preciso obedecer em tudo...
Mas... quando fiz doze anos, me revoltei e tomei uma decisão. Fui à cabeleireira e mandei cortar um pouco acima dos ombros, por minha conta e risco. Nessa altura eu já estava valente, até já tinha enfrentado a Super-Odete, já tinha pulado no pescoço da minha prima...
Onde já se viu alguém fazer promessa para outra pessoa pagar?

 

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