domingo, junho 03, 2007

Futebol




















Regina (goleira), Isaura, Heidi, Lenita, Nice e Daniel, o "técnico". Em baixo: Ana, Deise, Rosa e Verinha. Acho que a gente jogava só com 9 nesse ano. 

Respondendo à pergunta do Timtim, da postagem LENITA, se eu jogava futebol:


Nos primeiros anos, logo no começo da Olimpíada dos Coroas, que era uma grande piada, os Coordenadores resolveram acrescentar algumas modalidades como o futebol de campo, futebol de salão e snooker feminino, só de maldade, porque naquele tempo as senhoras não jogavam essas coisas tão típicamente masculinas. E eles queriam se divertir às nossas custas.
Mas algumas dessas senhoras eram "coroas" (30 anos) há muito pouco tempo, um tanto feministas e muito aguerridas e adoraram poder jogar principalmente o futebol. Só que, no primeiro ano a 51, que era a equipe mais light e divertida, não tinha o número necessário de jogadoras e quem foi "pegada a laço" nesse caso fui eu que, incauta, pretendia só observar e torcer, curiosíssima. O jogo não podia começar, enquanto não conseguissem completar o número.
- Olha lá, tem a Nice ali! "Põe ela"! Nice, vem cá! berrou a goleira.
- Nããããão, de jeito nenhum! Nem sei como se joga isso! Não gosto, arruma outra! Por favor! Nããããaoooooo! implorava eu enquanto era arrastada para o campo.
- NÃO TEM MAIS NINGUÉM! Você não vai querer que a gente leve um WO!
- Mas eu não sei nem por onde começar, não corro, não sei as regras. Gente, por favor!
Mas nesta altura eu já estava lá no meio do campo, quase carregada e completamente apavorada. A capitã da equipe, Regina, a goleira, ordenou:
- Põe ela aqui perto do gol! Vem cá, Nice, que aqui não precisa correr!
Obediente, fui para perto do gol como um condenado ao cadafalso e perguntei:
- E agora? Faço o que?
- Agora você fica aí parada e quando chutarem a bola pro gol, você não deixa passar!
- Só isso?
- Só isso! Suspirei aliviada. Não ser tão mau assim. Até dava para encarar...
Regina, o Dínamo, estava nervosa. Ela jogava tudo e a equipe contava com ela. Eu só faltava chorar, porque a platéia masculina ria prá valer! Morri de vergonha. Minha timidez de adolescente voltou com tudo e tomou conta. Precisei de toda a minha força de vontade para disfarçar. Eu queria um buraco para me esconder. Sabia que meu rosto pegava fogo, vermelho como a camiseta. Mas reagi e resolvi fazer o melhor que pudesse. O que não tem remédio...
O jogo começou. Corre prá cá, corre prá lá, a mulherada desajeitada, a bola dando um baile, Lenita atrás, Deise e Heidi se chocaram violentamente e foram ao chão, a bola sobrou prá Lenita , que fez nosso primeiro gol.
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLAÇO! Cinqüenta e Um! Cinqüenta e Um! A torcida vibrava, a outra vaiava. Eu, sem graça perto do gol, até fiquei um pouco mais animada, pois nem precisei sair do lugar...
Mas a equipe adversária que era nada mais nada menos do que a Sanguessuga, muito melhor que a nossa, pois eram jogadoras de Vôlei, cheias de garra e donas da melhor forma física do clube, veio buscar o gol. Depois de muitas cabeçadas, quedas, gritos, mulherada se atropelando, platéia chorando de rir, correria e tudo o mais, de repente alguém chutou a bola para o nosso gol. Regina, a goleira, gritou:
- Pega!!!!!!! Pega!!!!!!!! Depressa, pega a bola, Nice!!!!!! Não deixa passar!!!!!!!
Atordoada, peguei... com as mãos... E fiquei agarrada a ela, segurando com toda a força até o juiz apitar, chegar perto, retirá-la das minhas garras, levantando um braço e berrando:
- Pêêêênalti! E se matava de rir.
A "galera" masculina explodia na risada. Minhas companheiras queriam me matar... Os olhos apertados me fuzilavam... Só Lenita me me deu aquele olharzinho de "não esquenta, tudo bem, é tudo brincadeira...
Mas eu queria entender o que tinha feito de errado:
- Como pênalti? Quê que é isso?
- Você pegou a bola com a mão.
- E daí? Ela mandou pegar!
-Daí que é pênalti! E perdia o fôlego de tanto rir.
- Iiiiiiihhhhhhh, desculpa, gente. Eu falei prá vocês! Que eu não sei! Não quero mais!
Parece mentira, mas realmente eu não entendia "nadica de nada". E até hoje não entendo, porque não me interessa mesmo. Sempre assisti aos jogos do Brasil e só. Torço, mas não entendo. Nem me envergonho... Sei que os nossos jogadores têm nossas cores, mas quando jogam contra Austrália, fica difícil...
É claro que naquele dia fui obrigada a jogar até o fim, porque não havia outro jeito. Perdemos fragorosamente, viramos assunto de piadas e cada vez que eu passava perto de alguns sócios desconhecidos, sempre tinha alguém que apontava :
- Olha ela! Aquela ali que fez o pênalti! E todo mundo ria.
Por isso, minha carreira no futebol nasceu morta... Nunca mais me escalaram.

5 Comments:

At 4/6/07 9:55 AM, Blogger caos e ordem said...

Passei uns dias sem computador e o escrevedor da moça disparou enquanto isso. Desde o passarinho na praia que gerou até alguns mal-entendidos, até o futebol de hoje, está tudo bem contado e muito interessante. Eu também estava meio confuso pensando como é que pode um sujeito vendendo passarinho na praia desse jeito, o ibama vai prender o camarada.
Vai volta a jogar xadrez e outros esportes em que pode usar a máo.
falou o Zecão

 
At 4/6/07 10:56 PM, Anonymous Anônimo said...

Graças a Deus sua carreira de futebol nasceu morta, para nascerem muito vivos os outros dons que tem que usar as mãos,como a pintura e a escrita!
Adorei mais um texto seu!

 
At 5/6/07 6:51 PM, Blogger marianicebarth said...

Para vocês verem como a "Madame Versatilidade" nem é tão versátil assim... Dependeu de correr... não é comigo. Tudo parada.

 
At 5/6/07 7:55 PM, Anonymous Anônimo said...

Nas mãos de quem sabe, até um tremendo mico se torna crônica gostosa de ser lida.Gostei da foto:
aposto que este time não provocou só risadas, mas também muitos suspiros de tresloucada concupiscência. Por que 51? Bebiam muito?

 
At 6/6/07 1:50 AM, Blogger marianicebarth said...

Timtim, eu acho que já disse o porque da 51, não disse? Foi porque, no ano em que começou um dos fundadores da equipe estava fazendo 51 anos e na comemoração do aniversário, todos começaram a gritar: Viva o Pedrão! 51! e um outro sugeiu: Vamos chamar a equipe de 51, não é uma "Boa Idéia?

 

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