quarta-feira, março 16, 2011

Atração Irresistível IV


É claro que essa Maçonaria do Alexandre Dumas, em sua coleção “Memórias de um Médico” foi uma sugestão, uma bandeira acenando ao longe, desfocada e esfumada , uma idéia apenas de tudo o que a verdadeira Maçonaria representa. Mas fez borbulhar em mim aquela atração irresistível, uma espécie de lembrança ancestral em direção a um objetivo, um caminho filosófico que trilho até hoje.
Mas os ventos iriam mudar novamente...
Em 1960 vim para São Paulo, inscrita no cursinho para a Faculdade de Belas Artes Santa Marcelina, nas Perdizes, e ficaria hospedada no Pensionato Santo André, na Av. Pompéia. É claro que minha super-protetora família só poderia ficar sossegada se eu estivesse dentro de um quase claustro, entre madres Andrelinas e irmãs Marcelinas, que nos guardavam como dragões... As meninas saíam e entravam de um ambiente para o outro, respirando catolicismo o tempo todo. Mas confesso que eu, pelo menos, não tinha muita consciência disso. Nem me importava, eu estava encantada com a grande cidade e com a Faculdade e achava tudo natural e empolgante.

Porém, o pensionato foi uma surpresa, justamente nesse sentido religioso. Havia uma capela pequena, austera e simples como deveriam ser todos os templos de Deus. Nada do dourado fausto e da enormidade das igrejas católicas em ouro e mármore que tenho visto. Principalmente, nada daquele distanciamento físico entre o padre e os fiéis.

Naquele tempo, era o latim a linguagem dos padres nas missas. Um latim de poucas palavras, os finais sempre repetidos e que uma estudante do meu tempo conhecia e que, perdoem-me, não me diziam muita coisa. Para mim, até ali, sempre fora um tanto fria e longínqua essa comunicação.

Mas ali, naquela capela onde o silêncio era quase absoluto, era imperativo que a voz do padre precisasse ser sussurrada, pois a distância entre ele e os bancos de madeira encerada e brilhante ocupados pelas madres e pelas pensionistas era mínima, e podia-se ouvir cada palavra que ele dizia, cada palavra circunspecta e respeitosa, e compreender melhor o significado. Aqueles padres eram sérios! A missa ganhou em grandeza, passou a ser muito mais... qual a palavra? – emocionante? envolvente? sagrada? - Qualquer coisa assim... difícil explicar.
O que aconteceu na verdade foi que aquela capela fez por mim o que nenhuma outra grande igreja conseguiu. Não me lembro de ter-me confessado, nem comungado, mas devo tê-lo feito. Devo ter mesmo desejado. Lembro-me de que foi ali, naquela capelinha, que me apaixonei por Cristo. Para sempre.

Enquanto esse amor sublime acontecia e despertava meu coração, a vida suave e ingênua que partilhávamos no pensionato viria a ocupar até hoje um lugar especial e único entre minhas melhores lembranças.

Éramos umas vinte ou vinte e uma universitárias, três nas Belas Artes, algumas na PUC, outras na USP, outras fazendo cursinho. Tínhamos um lindo salão de chá com mesas redondas e cadeiras confortáveis onde podíamos estudar, fazer trabalhos ou ler. Era onde passávamos a maior parte do tempo depois do jantar. Havia também uma rádio-vitrola. Tínhamos nossos próprios discos de música suave ou clássica. Também havia uma rede e o ambiente era muito familiar.

Porém, o chá chegava às 8:40h e logo depois a Madre Geralda vinha interromper nossos afazeres. Às 9 devíamos subir para os quartos. Éramos muito obedientes – coisas de antigamente...

6 Comments:

At 16/3/11 5:18 PM, Blogger Polemikos said...

Lindo este seu texto ... tão natural, assim plenamente imbuido de sua própria realidade pessoal.

 
At 16/3/11 7:09 PM, Blogger marianicebarth said...

Obrigada Turini, meu sensível amigo...

 
At 16/3/11 7:31 PM, Anonymous timtim said...

Sendo o Turini quem é, para mim um respeitável filósofo, cedo avez para ser o primeiro a comentar textotão maravilhoso. Emocionante. Que coisa linda ouvir a declaração de uma jovenzinha se dizendo apaixonada por
Cristo e, melhor, PARA SEMPRE.
Vc descreveu muito bem a vida das internas. LOUVADO SEJA DEUS!

 
At 16/3/11 7:36 PM, Anonymous timtim said...

Como caiu bem, neste capítulo, o título: ATRAÇÃO IRRESISTÍVEL.
É verdade que se trata de uma mudança de foco, mas me agrada imaginar que, neste caso a atração é por Cristo.

 
At 16/3/11 9:43 PM, Blogger marianicebarth said...

Jesus sempre foi muito especial para mim, desde essa época do Pensionato. Realmente me apaixonei por Ele. Não vejo defeito no Novo Testamento.

 
At 21/3/11 2:27 PM, Anonymous primacaçula said...

Ainda bem que no caso de Jesus podemos amá-lo todos ao mesmo tempo.
Lindo mesmo esse seu texto que mostra um pensionato de freiras diferente de como eu, que estudei num colégio assim, imaginava.

Meu coração foi tocado por Jesus há milênios atrás...
Até hoje, quando fecho meus olhos posso vê-lo passar junto a uma grande multidão de seguidores fiéis. Eu, escondida, envolta num manto, porque jamais poderiam saber.

Curiosos? É a bênção da Reencarnação, desculpe, querido Timtim... que tenho, como certeza absoluta.

 

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