sábado, março 19, 2011

Atração Irresistível VI


Aquele mês de Janeiro passou, o vestibular foi fácil, entrei para a Faculdade e me mudei para o Pensionato Santo André.

Escolhi partilhar um quarto de duas com uma recente amiga, Celina Maria Pupo César,  de Botucatu, que estava nas Belas Artes, como eu.

E Jesus veio em seguida. Por algum tempo, a menina empolgada que não sabia fazer nada pela metade, chegou a considerar a idéia de se tornar freira! Seriamente! Isso aconteceu durante o Retiro Espiritual que o Pensionato proporcionou nos dias de Carnaval e do qual algumas das pensionistas participaram, eu inclusive.
Quando fui convidada, não estava tão entusiasmada pela Igreja Católica a ponto de participar de um Retiro, mas a Maria e a Paola, a Regina, a Lourdes e mais algumas foram tão persuasivas que me resolvi. E gostei muito.
Mas depois do Retiro a nova vida exigente de universitária foi me arrastando inexoravelmente para longe dessa idéia.

Maria Dias Lopez e Paola Lobozzo eram as moças da PUC que cursavam respectivamente História e Geografia. Rezavam o terço duas noites por semana “religiosamente”, logo após o jantar. Nada as afastava disso. Maria, mais de 1,70m de altura, bonita, pele muito clara, pincelada suavemente por umas leves sardas, olhos castanho-esverdeados, cabelo escuro e postura altiva de espanhola; a segunda, uma alegre e esfuziante italiana baixinha de cintura fina e grandes seios, cabelos e olhos negros, lábios cheios sempre sorridentes, exceto quando rezava o terço. As duas levavam muito a sério a hora dessa oração.
Maria era circunspecta e séria, descendente de espanhóis. Gostava de dizer: “Olé!” elevando o queixo. Paola era divertida, com todo o charme e sotaque napolitano, irresistível. Moravam no mesmo quarto, para onde subiam nas noites do terço. Maria fazia a melhor gemada de um ovo e pouco açúcar que já tive o prazer (imenso) de tomar... Nas noites de véspera de provas ela fazia sua célebre gemada para quem estava já há duas noites sem dormir. Batia aquela gema com uma colher de sobremesa de açúcar durante meia hora, até formar bolhas que cresciam e estouravam como um creme, uma depois da outra: Pffóff... Pffóff... A melhor gemada do mundo!

Para não dormir íamos até a padaria da esquina, a Paramount, e comprávamos cada uma um Baurú e enchíamos uma garrafa térmica daquele café de máquina, forte e horrível. Voltando ao pensionato, colocávamos os sanduíches sobre a lâmpada do abajur e tomávamos xícaras e mais xícaras daquele veneno negro durante a noite toda e, lá pelas quatro comíamos o sanduíche ainda quentinho, o queijo ainda derretendo. Maria nos acompanhava e até nos ajudava com trabalhos, entre os intervalos de gemada-café-sanduíche. Ela mesma nunca precisou ficar noites em claro para estudar para suas próprias provas... Fazia-o por nós, por puro companheirismo, incitando-nos a terminar os trabalhos até de manhãzinha.
Nós outras, as mais flanantes, que não dávamos conta do dia-a-dia, é que precisávamos dessas horas extra de sacrifício do sono...
Paola não, chegando a hora, dormia como um anjo.

Lembro-me de uma vez que a Paola iria a um baile a rigor. Arranjou na última hora um lindo vestido branco de renda, rodado e tomara-que-caia, mas que não era exatamente seu número no busto. Ficou perfeito em sua cintura, mas não fechava em cima de jeito nenhum. Ah, mas tinha que fechar, ora, só havia aquele! Então duas meninas aproximaram as duas partes da abertura atrás e uma terceira costurava. Finalmente, o vestido ficou fechado, mas Paola tinha medo de respirar... Vou explodir! Dizia ela. Não, não vai, diziam as outras, é só não respirar. E lá se foi a pobre Paola respirando aos tequinhos... Quando voltou do tal baile, deu uma única respirada funda e... com um ruído terrível, o vestido abriu de cima a baixo... Ufffffa!

7 Comments:

At 19/3/11 3:39 PM, Anonymous timtim said...

Será que somos só nós, amigos da Nice, que ficamos boquiabertos com essas narrativas? Tenho impressão que o livro vai ser um sucesso.
Quase me apaixonei pela Paola, vendo aquela italianinha,(cheinha?) na minha frente. Por favor, complete mais um pouco a receita da gemada. Fiquei aguado. Coloco quanto de leite? Ovo caipira eu tenho aqui, dos bons.

 
At 19/3/11 8:18 PM, Blogger marianicebarth said...

Rsrsrs, ai ai, Timtim, você é o máximo!!!
A receita da gemada:

1 gema
1 colher de sobremesa de açúcar

O segredo é bater com a colher de sobremesa, na xícara ou tijela, bater muito tempo e sem parar! Meia hora! Ou até ficar um creme clarinho e começar a levantar bolhas que estouram : Pffoff... Pffoff...

Depois você pode acrescentar o que quiser: conhaque, vinho tinto, leite, mas tudo isso muito pouco, porque a pura gemada-creme já é uma delícia! Eu não ponho nada, não precisa!

O que precisa é ter paciência para bater, `a mão ou quem sabe com um mixer.

 
At 20/3/11 9:19 PM, Anonymous timtim said...

Hoje acabaram os ovos e já é tarde para sair e comprar. Amanhã mesmo vou experimentar com vinho. Mas eu continuo encantado com a Paola Lobozzo.

 
At 20/3/11 10:10 PM, Blogger caos e ordem said...

Timtim me avisou que o blog está bom mas não me contou nada. Esse estouro do vestido deve ter sido muito legal com seios pulando para todos os lados.
Semana de aniversário, vou marcar uma presença especial aqui no blog.
Duas, três semanas atrás senti a blogueira tão desenxavida com tantas obras na casa, nem podia imaginar que logo voltaria ao blog.
Ao envés de procurar no Aurélio pergunto aqui: o que é flanante.

continua que está ótimo, e até erótico.

 
At 20/3/11 10:22 PM, Blogger marianicebarth said...

Zeca! O vestido abriu, mas ela estava com roupas de baixo...
Quanto a "flanantes" , o sentido é de esvoaçantes, "cuca-fresca", não exatamente irresponsáveis.

 
At 21/3/11 2:51 PM, Anonymous primacaçula said...

Que maravilha.
Adoro ler essas suas histórias....
Não sei o que dizem os experts em literatura, mas para mim o bom escritor deve transportar o seu leitor à observação auditiva, visual, gustativa e até olfativa daquilo que escreve.
É o que ocorre com você.
Porisso.... QUEREMOS O LIVRO!

 
At 21/3/11 9:21 PM, Anonymous timtim said...

Como irmão mais velho do Zeca, me sinto na obrigação de pedir desculpas aos leitores, pelo excesso de entusiasmo erótico, do Zequinha. É só fogo de palha. Mas, que a Paola é mesmo uma tentação, isso ninguém pode negar.
Concordo com a prima/irmã caçula: os escritos da Nice atingem os cinco (ou mais) sentidos.

 

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