terça-feira, outubro 09, 2012

Domitila Aventureira

Desde que apresentei a ela o jardim ao sol e ela sentiu a grama, a terra, as plantas e o espaço todo só para ela, penso que, a lembrança dos dias na gaiola compartilhada com mais oito gatos nem sempre gentis uns com os outros, deve ter começado a se esmaecer. Porque ela, antes desconfiada de tudo, ficou muito feliz explorando cada recanto. Corria e corria, farejava cada novidade e cada pequeno detalhe era digno de todo interesse. 

Arbustos de azáleas foram estudados atenciosamente, a samambaia xaxim e os pés de café (temos quatro! cujas sementes foram semeadas pelos passarinhos) foram valentemente  escalados com facilidade. Só não sabia ainda como descer e pedia ajuda. Mas nos dias seguintes deixei que resolvesse sozinha mais esse problema. 
Descobriu logo que os arbustos de filodendros e samambaias paulistinhas podiam ser utilizados para brincar de esconder. 
Ali, no jardim, nem adiantava chamar... sempre respondia com seus miados coloridos, mas só vinha mesmo quando a fome apertava ou o sono chegava. E ela tem fome e sono o tempo todo, parece. Ainda bem senão ficaria torrando ao sol no alto do pé de café, o seu favorito.

O Primeiro Susto 

Domitila não saía de perto de mim em nenhum momento quando dentro de casa. Podia estar dormindo profundamente em sua almofada ao lado do computador, ou no tapete da cozinha, no piso do banheiro, no sofá da sala de TV, na cadeira da copa. Mas bastava que me levantasse sem ruído algum para que suas orelhas detectassem imediatamente. Levantava-se como sonâmbula, os olhos semicerrados, espreguiçando-se e alongando-se, tonta de sono, mas juntando-se a mim. 
Uma noite, estava em meu colo na sala de TV. Eu estava muito cansada e nem me dei conta de que havia dormido durante o programa. Quando acordei era mais de meia noite e Domitila não estava. Chamei e não veio resposta. Chamei de novo e de novo. Nada. Procurei pela casa toda sempre chamando e o silêncio era total. Fui para o jardim e continuei chamando baixinho para não perturbar a vizinhança, mas nem sinal dos delicados miados de resposta. Fui até perto do portão da garagem e chamei em surdina — Domitiiila! Pchiuí pchiuí! — Nada! 
Fiquei aflita pensando que se ela tivesse sumido na noite e que eu pudesse ter perdido sua companhia constante e já tão importante em minha vida, abriria um vácuo difícil de preencher... Ó meu Deus, não! Não quero ficar sem minha belezinha! Ai... não!... 
Voltei para o jardim e continuei a busca e os chamados. Flávio ouviu e veio ajudar, também inquieto. Nesse momento pensei ter ouvido algo, muito baixinho ou muito longe. Será que eu ouvira mesmo ou teria sido imaginação? Será que eu ouvira o que mais estava desejando?   Voltamos para o portão e maravilha, ouvimos o miado vindo da rua. Acionamos o controle e a pequenina fujona entrou desabaladamente, sentou-se e já começou a lamber-se, seu 25º banho do dia, no mínimo. 
Resolvi ali mesmo que, no dia seguinte procuraria o veterinário para registrá-la devidamente na Zoonose. 
Foi o que fiz. Paguei a taxa e ela ganhou uma plaquinha identificadora com seu número e o telefone da Zoonose para o caso de se perder. Em seguida fui à Cobasi e comprei uma coleirinha cor de rosa com guizo, leve e linda, e ainda mais uma plaquinha Pink em forma de coração, mandei gravar o nome dela numa face e na outra o número de meu telefone. Pronto! Agora, se acontecesse de ela sair à rua, estaria identificada. Ufa! Alívio! 



RGA  Nº 0.808.654 é o número da Domitila, que chic!
(RG Animal) 


A belezinha, porém, não gostou nem um pouco da coleira! Sentiu-se subjugada e revoltou-se pulando para baixo e para cima, dando saltos mortais e sacudindo a cabeça para livrar-se. Parecia um cavalo de rodeio... 
Pena que não estávamos com a câmera para filmar aquilo...


10 Comments:

At 9/10/12 4:46 PM, Blogger marianicebarth said...

Se eu soubesse prever o futuro teria chamado a Domitila de Tinkerbell (Fada Sininho) porque depois que se acostumou com a coleirinha ela é anunciada pelo guiso batendo nas plaquinhas tlin tlin tlin...

 
At 9/10/12 8:12 PM, Blogger caos e ordem said...

Hoje sou o primeiro, deixando o mineiro pra trás.
Dizem que o gato é um símbolo da liberdade, não há como prendê-lo, o máximo que se pode fazer é colocar a tal plaquinha.
O sininho ficou muito legal.
Tudo muito bonito e bem descrito. Parabéns.

 
At 10/10/12 12:01 AM, Anonymous timtim said...

Estou gostando desta muito dos textos da Nice. Preciso destacar:"miados coloridos", o que será isto? "Pchiuí, pchiuí" Gostei da criatividade. Estou gostando tbm da saudável rivalidade entre os fãs mais ardorosos, disputando p/ ser o primeiro a comentar. A Nice coloca mesmo a gente na cena. Fiquei aflito na procura pela gatinha fujona. Bom que teve final feliz, com direito a a registro, coleira, guizo, coraçãozinho,plaquinha.

 
At 10/10/12 7:31 AM, Blogger caos e ordem said...

Pelas descrições fica a impressão de que a Domitila é uma gata excepcional (positivamente), com suas capacidades e habilidades muito acima da média.
Fico me perguntando se Ela realmente é tudo isso, ou se é a capacidade da autora de colocá-la nos píncaros.
Já foi despertada também uma forte curiosidade para conhecer pessoalmente a DESTEMIDA.

 
At 11/10/12 4:54 PM, Blogger marianicebarth said...

Talvez ela não seja "tudo isso", Zeca... Talvez todos os outros gatos sejam tudo isso e muito mais.Talvez eu nunca tenha conhecido muito bem as outras gatas que viveram em minha casa.
Sabe porque? Estou assistindo a vídeos sobre gatos e fico pensando que, com certeza, o gato é o animal mais inteligente que existe.
Prova disso é a não submissão ao ser humano, tão cheio de si que pensa ser o "Dono da Criação"...
A palavra que define o gato é dignidade.
Quando um gato OLHA para você com aquele ar enigmático quando você está tentando ensinar-lhe alguma coisa, você tende a julgar que ele não entendeu o que foi pedido. Mas não é isso que acontece. Ele apenas não quer fazer aquilo e pronto. Vira-lhe as costas e sai com a cauda bem erguida e some de sua vista, vai procurar algo mais interessante...

 
At 12/10/12 4:48 AM, Blogger caos e ordem said...

Entendo que o importante é vc. estar vivendo esta paixão.
Me parece que paixão significa sofrimento (vide Paixão de Cristo), mas vc. sempre teve paixão pelos bichanos, e agora está vivendo esta.
Todos temos nossas paixões e elas valorizam nossas vidas, dão sabor e intensidade.
Enquanto não sai outro texto (este é tão recente) vamos comentando, filosofando e curtindo.

 
At 13/10/12 11:51 AM, Blogger marianicebarth said...

É isso aí, Zeca! A paixão é o sentimento mais forte do ser humano. E felizmente ou infelizmente, sou uma pessoa apaixonada por muitas coisas... Família, pessoas, ciência, filosofia, religiões, computadores, informática, tecnologia, livros, blogs (o meu e o dos meus amigos), fotos, vídeos, filmes etc. etc.

Agora... por essa gatinha também, que trouxe tanta alegria a esta casa com sua personalidade incrível.

 
At 13/10/12 11:58 AM, Blogger marianicebarth said...

Onde digitei guiso, leia-se GUIZO... pois guiso é do verbo guisar (refogar, cozinhar...)
Gente! Como estou ficando "desalfabetizada"!...

 
At 17/10/12 7:32 AM, Blogger caos e ordem said...

Olá Sra. blogueira, agora já faz uma semana, este texto está ficando velho, queremos mais da Domitila.
abração

 
At 23/10/12 3:03 PM, Anonymous primacaçula said...

Realmente esta gatinha tomou o seu coração... Parece eu falando dos meus netos...os maiores tesouros da minha vida. Nunca pensei que fosse me apaixonar assim....

 

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