quarta-feira, junho 23, 2010

Carta a Antônio Gilberto

Meu querido primo Deto,

Fiquei ontem no Refulgir com suas palavras agora transformadas em lembranças,  postagem por postagem, até as 3h:20 da madrugada. Não queria sair. Não queria deixar você, parecia que estávamos conversando ao vivo.

Li muitas e muitas das páginas, ora engraçadas e gozadoras, ora contundentes para com os políticos, ora irreverentes, ora de humor non sense, mas sempre cheias de espírito. Meus neurônios tiveram de multiplicar as sinapses para tentar compreender suas brincadeiras...

Que saudade, meu querido! Pensar que não poderei ouvir o som de sua voz por um bom tempo, até que nos escontremos aí onde você está agora...

A sua voz, com sotaque limeirense, um pouco lenta e arrastada, que sempre me passou um pouco da sua tranquilidade... Que saudade!

Os seus olhos, marotos e sorridentes, que faziam pensar que estávamos falando com o próprio Mesmeu, o seu "Filósofo Triste", sua invenção, sua criação e seu porta-voz... Quanta saudade!

Lendo quase inteiramente os seus dois blogs e sentindo sua alma, entendendo melhor suas idéias, percebendo você nas entrelinhas, comecei a sentir um imensa e dolorida saudade, quando me veio a constatação de que você se foi mesmo... e está fora do nosso alcance físico.

Só agora estou começando a acreditar nisso.

Até aqui não me parecia verdadeira essa hipótese. Você sempre esteve ao alcance de uma curta viagem, ao toque de um celular ou de um telefone ou de um Skype. Sempre esteve ali quando eu visitava a Esther e Maria Christina em Limeira, e o visitei tão pouco!

Não há como não me lembrar de nossa infância, de você pequenininho, em Pirassununga, o nosso Nenê, com aquela linda "boquinha de chupa-ovo", como dizia a Geny, você de terninho e gravata, você no velocípede, no patinete, depois maiorzinho,  no "automovinho", crescendo cada vez mais bonitinho, sempre com uma carinha séria, mas quando ria os cantos de seus lábios viravam para cima...
Que saudade!
Nice, Flávio José, Antônio Gilberto e Maria Christina

Nice, Flávio José, Tia Santa, Maria Christina e Deto no "automovinho"

Depois você chegando para as férias na vovó com seus irmãos, você com três anos apontando candidamente para a chupeta pendurada ao meu pescoço de cinco anos "A Nice ainda usa chupeta!", cobrindo-me de rubor e da decisão de largar aquela vergonha na mesma noite. Devo a você a façanha de me fazer largar a chupeta! 

O cachorro Brotinho aos pés do dono

Ainda um pouco mais tarde, você encompridando, virando um rapazinho, depois nossas gozações quando começou a aparecer um bigodinho, mas você não ligava...

Deto aos 15 anos e o bigodinho...

E quando você passou no vestibular da FEI, quando ficou um moço que já fazia a barba, quando se formou e conheceu a Lucy, o seu casamento com essa moça incrível! Quando veio nos contar que desceu no último elevador durante o incêndio do Edifício Andraus, onde trabalhava! 

Depois o nascimento dos filhos, Flavinho e Márcio... 

Mudanças de emprego e de cidade... A mudança para Limeira, a construção da casa, os casamentos dos filhos... 
 
Nossos encontros em família na casa da Esther, ou na fazenda da Maria Christina para os aniversários da Cláudia e da Eliane, nossas bebedeiras, muitas risadas e vida vivida! 

E sempre presentes seus comentários do tipo " Nice, quem precisa de óculos para ler não está velho, tem apenas um 'problema ortopédico', uma questão de afastar o livro até achar o foco! Mas quando o problema começa a ser de ouvido e a pessoa não entende direito o que os outros dizem e tem de fazer uma concha com a mão, aí sim, não tem mais jeito! É velhice mesmo!" 

Por último, o seu blog, a sua insistência em me fazer criar o meu próprio, e nossas conversas e comentários que nos uniram mais do que antes, a criação do "Provérbios", a amizade com os outros blogueiros e comentaristas, enfim... Você teve uma vida bastante boa, rica e deixou muita coisa escrita e é isso que ficará... 

E para terminar, transcrevo aqui, do seu blog Refulgir, o post de 30 de Agosto de 2006:

30 Agosto 2006


Resposta do Teste

Pois é, amigos, o autor é um velho conhecido do Zecão, o Richard Bach. Esses versos fazem parte do livro "Ilusões- Aventuras de um Messias Indeciso". Os trechos copiados são do Manual do Messias, que o Messias Indeciso, chamado Don W. Shimoda, empresta ao piloto do Fleet, para que tente se tornar um novo Messias, porque ele já está enjoado de ser Messias. Segundo alguns críticos, este livro é melhor que o Fernão Capelo Gaivota, que eu não li e, portanto, não posso comentar.
Olhem que interessante uma das máximas do Manual:

Eis aqui
um teste para verificar
se a sua missão na terra está
cumprida:

Se você está vivo,
não está.

13 Comments:

At 23/6/10 2:37 PM, Anonymous primacaçula said...

Conclue-se portanto, Deto querido, que sua missão aqui na Terra está cumprida.
Mais tarde, após o "refazimento" necessário aos que retornam "à casa do Pai", sua missão continuará no estudo, no trabalho.... na continuidade da sua vida...
Eu e a Lucy temos a certeza disso.
Graças a Deus!

 
At 24/6/10 7:46 AM, Blogger Polemikos said...

Fiquei comovido com seu afeto e seu testemunho

 
At 28/6/10 1:14 PM, Anonymous primacaçula said...

Poque ninguém mais entrou aqui?
Não podemos parar, amigos!
Não é isso que o Shiost deseja!

 
At 28/6/10 1:15 PM, Anonymous Anônimo said...

CAMINHEMOS!

 
At 5/7/10 10:55 PM, Blogger caos e ordem said...

Comentário da Zélia:
Lindo texto, como tudo que a blogueira escreve, e pensar que graças ao Shiost ela se tornou blogueira.Registro aqui minha gratidão a ele por sua criatura.
Tenho que elogiar também as fotos, muito enriquecedoras.
Sei que o Zeca vai fazer seu comentário e deixo para ele outras palavras.

 
At 9/7/10 8:15 PM, Anonymous timtim said...

Mas é isso mesmo. Aproveito para lhes (a vc irmãcaçula, à Nice, ao Turini, Zeca, Lucy e a quem mais ler este comentário) lhes confessar uma das minhas loucuras: tenho uma certa inveja de quem morreu. Fico pensando: este já passou pelo momento supremo. Agora vejo que o Richard Bach me apoia, pois está afirmando que aquele que morreu cumpriu sua missão na terra.

 
At 9/7/10 8:18 PM, Anonymous timtim said...

Eu estava ausnte dos comentários por dois motivos: viagens, cuidando das crises de dor da Antonina e cuidando das crises do PC (que agora está formatado e ligeirinho).

 
At 9/7/10 8:22 PM, Anonymous timtim said...

Seu texto, Nice, evocando o Deto, está um primor e me fez muito bem, me ajudou a assimilar a ausência dele. Lembra-se que nós tínhamos combinado um grnade encontro na volta do Aguiar p/ Limeira. Acho que ainda devemos fazer este encontro, para comemorar a "missão cumprida".

 
At 11/7/10 6:54 PM, Blogger caos e ordem said...

Já faz uma semana que eu li este belíssimo texto. Fui passando e indo em frente e pensando: como estou firme, eu que sou molão para chorar, estava surpreso. De repente, quando chegou no texto do Richard Bach no final, aí meu choro explodiu. Também gostei
muito das fotos.

 
At 12/7/10 2:27 PM, Anonymous primacaçula said...

NICE... VOCÊ ESTÁ SUMIDA!?

 
At 12/7/10 2:27 PM, Anonymous primacaçula said...

NICE... VOCÊ ESTÁ SUMIDA!?

 
At 25/7/10 4:00 AM, Blogger caos e ordem said...

Olá sra. blogueira, já faz quase um mês que não posta nada. A vida continua e sentimos muita falta.

 
At 26/7/10 3:59 PM, Anonymous primacaçula said...

POIS É!
A VIDA CONTINUA!!!

 

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