Histórias da Vovó Tina
Este gelado mês de Junho leva-me a viajar no espaço/tempo novamente, para a casa da querida Vovó Tina.
A casa era antiga, de pé direito muito alto e cômodos muito grandes. A sala de visitas tinha duas janelas altas dando diretamente para a rua, um comprido corredor, sala de jantar com mesa para doze pessoas, cozinha e banheiro único; da sala de jantar outra porta comunicava ao quarto grande, separado em dois por enormes guarda-roupas e dali ao quarto dos avós, que também tinha uma janela para a rua e outra porta de comunicação com a sala de visitas, fechando o círculo.
No inverno Vovô Jango apagava todas as luzes e íamos para a cozinha, o lugar mais quente da casa. Arrastávamos cadeiras em volta do grande fogão de lenha que esbanjava luzes e calores de lareira, adultos e crianças devidamente agasalhados, ouvindo o crepitar da lenha e nos maravilhando a cada vez com o mistério de sua transmutação em brasas.
Vovó Tina rebentava pipoca e servia para os mais velhos aquele café fresquinho e fumegante, feito com coador de pano direto no bule. Para as crianças, leite com Toddy.
Depois que ela se acomodava, as histórias começavam. Eram sempre as mesmas, mas não nos cansávamos de ouvir. “Vovó, conte aquela do mingau!”
Ao voltar para o quarto pelo corredor, comecei a ouvir passos arrastados às minhas costas e assustada, voltei-me: nada, ninguém. Estou imaginando coisas, pensei. Continuei andando e escutei a colher mexendo na panela. Olhei rápida para trás e nada havia. Os arrepios ficaram mais fortes e continuei andando, quando ouvi a voz masculina nítida e clara: “Ai, que mingau tão bom!” Olhei de novo e outra vez não vi ninguém.
— Não sei... Não tinha ninguém lá... Vai ver, era algum fantasma que gostava de mingau...