quarta-feira, junho 29, 2011

Histórias da Vovó Tina

Este gelado mês de Junho leva-me a viajar no espaço/tempo novamente, para a casa da querida Vovó Tina.
A casa era antiga, de pé direito muito alto e cômodos muito grandes. A sala de visitas tinha duas janelas altas dando diretamente para a rua, um comprido corredor, sala de jantar com mesa para doze pessoas, cozinha e banheiro único; da sala de jantar outra porta comunicava ao quarto grande, separado em dois por enormes guarda-roupas e dali ao quarto dos avós, que também tinha uma janela para a rua e outra porta de comunicação com a sala de visitas, fechando o círculo.
No inverno Vovô Jango apagava todas as luzes e íamos para a cozinha, o lugar mais quente da casa. Arrastávamos cadeiras em volta do grande fogão de lenha que esbanjava luzes e calores de lareira, adultos e crianças devidamente agasalhados, ouvindo o crepitar da lenha e nos maravilhando a cada vez com o mistério de sua transmutação em brasas.
Vovó Tina rebentava pipoca e servia para os mais velhos aquele café fresquinho e fumegante, feito com coador de pano direto no bule. Para as crianças, leite com Toddy.
Depois que ela se acomodava, as histórias começavam. Eram sempre as mesmas, mas não nos cansávamos de ouvir. “Vovó, conte aquela do mingau!”

— Outra vez? – reclamava, mas não se fazia de rogada. Sempre havia algum netinho mais novo para ouvir...
Uma noite - contava ela - eu estava inquieta me virando para cá e para lá na cama. Fazia um frio de gelar os ossos, como hoje... Depois de muito tentar e tentar dormir sem conseguir, pensando nos problemas, resolvi levantar e fazer um mingauzinho de maisena bem doce para esquentar o corpo. Fui até a cozinha, e enquanto mexia a panelinha, comecei a sentir uns arrepios pela nuca, como se tivesse alguém por ali. Verifiquei que a porta da cozinha estava com a tranca, olhei a janela, tudo em ordem, serenei. Mas os arrepios continuavam. Terminei o mingau, que ficou muito gostoso e sem caroço, tomei um pouco e deixei o resto na panela.
Ao voltar para o quarto pelo corredor, comecei a ouvir passos arrastados às minhas costas e assustada, voltei-me: nada, ninguém. Estou imaginando coisas, pensei. Continuei andando e escutei a colher mexendo na panela. Olhei rápida para trás e nada havia. Os arrepios ficaram mais fortes e continuei andando, quando ouvi a voz masculina nítida e clara: “Ai, que mingau tão bom!” Olhei de novo e outra vez não vi ninguém.
— Então... quem era, vovó?
— Não sei... Não tinha ninguém lá... Vai ver, era algum fantasma que gostava de mingau...
Até hoje, quando me lembro dessa história sinto um leve arrepio desde a nuca até as costas, principalmente quando estou sozinha em casa à noite... 

sexta-feira, junho 24, 2011

Vendaval

Vendaval que passou por aqui em 2007, 25 de Fevereiro

Texto do fundo do baú... de um caderno entre muitos.
Quando uma tempestade está se desencadeando em sua vida, você não consegue entender direito o que está acontecendo.
Um vento forte e destruidor passa arrastando tudo, levantando sinistras poeiras, embaralhando as idéias e revolvendo sentimentos.
Você não sabe como, nem por quê começou, sente-se em carne viva, a alma ardendo em dores...
E quando finalmente a ventania se acalma e tudo parece ter voltado à normalidade, você percebe que alguma coisa mudou profundamente, mas ainda não compreende.
O tempo não espera e você vai se deixando levar pelas urgências das obrigações diárias. E, de repente, lentamente, você começa a se interessar pelas pessoas e situações, como antes da tempestade.
Muito tempo depois vem a compreensão.
Você olha para trás, em perspectiva... e vê.