domingo, outubro 29, 2006

Mas isto foi apenas o começo da história...

E a passarada reunida em volta, não entendia
Porque tanto estardalhaço, porque tanta gritaria,
E o passarinho promete muita quirera e fubá
E o Tico-tico, passando, chegando do Ceará
Vai sonhando um velho sonho: Tico-tico no fubá!
No alto do abacateiro, Tucano pós-graduado
Assiste de cima a cena: galinheiro alvoroçado,
Galos, Perus, Galinhas, aves lá do cercado
Que jamais podem voar, cujo futuro é panela,
Contentando-se com milho bem barato na escudela...
O repórter Bem-te-vi vai saindo de mansinho,
Chama Sabiá de lado, Beija-flor e Canarinho,
Leptop já enviando mensagens para os jornais
Fogo-apagou gritando: “Vão chegando os federais!”
Os Gaviões sobrevoam, vêm planando bem baixinho.
Bicos, garras, já mirando o galinheiro inteirinho.
Passarinho interrompido, virou estranho no ninho.


Mas isto foi apenas o começo dessa história inventada...
Quem me contou diz que enfim a coisa virou todinha e que o passarinho esquisito acabou sendo aclamado pelo povo do galinheiro, e que nele até alguns pássaros voadores colocaram sua última confiança.
Mas, também dizem que lá, hoje em dia,

Pau de galinheiro é cadeira cativa nos ambientes (outrora) os mais respeitáveis,
E que a velha Ética ficou tão embolorada que hoje é usada por qualquer um pelo avesso,
Que os antigos Valores cederam lugar às mentiras, aos engodos e à roubalheira mais desavergonhada.
Que o povo do galinheiro, enganado por um punhado de milho e por todo tipo de patifaria não sabe mais em quê, ou em quem acreditar.
E que o Pomar...
Ah, o lindo Pomar, está cada vez menos verde...

sexta-feira, outubro 27, 2006

O Passarinho Esquisito

Esta figura é de minha autoria, feita agorinha, com o Paint. Algum de vocês já tentou desenhar com o Paint? É uma experiência interessante. Estou escrevendo livros para crianças e preciso de ilustrações toscas e, assim, comecei a treinar no Paint. Experimentem!

Estranho no Ninho

Ainda o Passarinho Esquisito 
(e a saga do Pomar Verde Amarelo) 


































Dizia que governava um pomar enorme e rico
“Será que é um Tucano?” pensava o Maçarico...
Dizia que era o melhor, o passarinho sem dedo.
Dizia saber de cor, da peça todo o enredo...
Falava por quanta junta que não tinha o menor medo...
No meu reino, ele dizia, reduzi a fome a zero!
“Será o Pássaro Roca?” matutava o Quero-quero...
Contava papos de viagens, de carruagens, de rainhas...
“Será que é um Papagaio?” cochichavam as Andorinhas...
E o passarinho falava... sibilava redondinho,
Mas quando alguém mais sabido pergunta do mensalinho
O passarinho se agita, levanta o pé e o dedinho
Que lhe falta e faz a fita, finge chorar, até grita
Que de nada ele sabia! Não sabe de nada, neca!
Que os camaradas punia quando voavam de cueca!
Cueca?! pensa a Araponga, do quê ele está falando?!

quinta-feira, outubro 26, 2006

Adivinhação

Há anos um passarinho apareceu num pomar.
Era um pássaro esquisito que gostava de falar.
O pássaro não voava, não cantava e era rouco.
Mas quando sua voz saía, ele sibilava um pouco.
No pomar ninguém sabia a espécie do passarinho
Água pura não bebia e lhe faltava um dedinho.

Alguém conhece essa raça?
Alguém conhece o bichinho?

terça-feira, outubro 24, 2006

Nome do Quadro: Mãe e Filha

Foi um dos quadros mais felizes que já pintei. A garotinha chama-se Dudinha e a mãe, Priscila e são priminhas do lado do Nelson.

domingo, outubro 22, 2006

Rebecca nasce em Janeiro, em Sydney

Que tal minha filhotinha que mora na Austrália e que, por sua vez, vai também ter uma filhotinha? Sou mãe coruja, mas vejam como ela está bonita e super feliz! Estamos de passagens compradas para 22 de Dezembro. Iremos passar o Natal com ela e o Jimmy e ficaremos por lá até 27 de Janeiro, se Deus quiser! Esperaremos pelo nascimento da pequena Rebecca, que já está muito ativa e faz fitness e acrobacias na barriga da mamãe dela.

sábado, outubro 21, 2006

Fórmula Um

Velocidade é um jogo

Que aguardamos ano todo

E jogamos pra ganhar.

Supermáquina possante,

O dragão estrondeante

Com o piloto no centro

Projeta-nos a pensar

Que nós é que estamos dentro!

Estamos quase no ar!

E quando ele executa

Difícil ultrapassagem

Naquela curva impossível,

Sentimos o “indefinível”:

Nós é que estamos na luta,

Nós é que temos coragem!

Quanto maior o perigo

A que o piloto inimigo

Noutro carro desafia,

O carro no qual estamos,

Nesse momento exultamos,

Ufanos, somos heróis!

Nessa batalha de machos,

Nossos olhos são faróis,

Nossos cabelos penachos

Em elmos de Cavaleiros,

Que sonhamos verdadeiros

E queremos sempre mais!

Os eternos Don Quixotes,

Buscando mil holofotes

Que iluminem nossa glória,

Perseguindo uma vitória,

Lado a lado com a Morte:

É este o inimigo forte

Que temos de exorcizar.

Meu filho Flávio Rubens é aficcionado pela Fórmula Um, desde pequeno. Entende barbaridade desse assunto, coleciona tudo e adora as corridas. Esta é uma pequenina homenagem a ele. O "nós" aí são meus filhos e meu marido.

terça-feira, outubro 17, 2006

UM DIA DE CÃO

...Mas tanta argumentação acaba revertendo o humor do guarda diante do drama e o Nelson consegue que, pelo menos o carro seja liberado e estacionado dentro da Faculdade. Mas o policial ainda assim o acompanha. Já lá dentro, Nelson encontra um dos alunos que, preocupado pela presença do guarda pergunta o que aconteceu com o professor. O Nelson explica e o aluno se apresenta como capitão da Polícia Militar. Leva o guarda para um lado e o Nelson vai dar as provas. Levou duas pesadas multas, mas sem a apreensão do carro.

Duas classes fazem as provas, cem alunos por classe, cada prova duas ou mais folhas, uma enorme pilha de provas para corrigir.

No final da noite, exausto além da conta por causa de todo o ocorrido, ele junta as provas de todos os alunos e prepara-se para ir para o Paineiras, onde fora escalado para participar da Olimpíada dos Coroas, no time de basquete da Equipe 51. Vai até o carro, coloca a pasta fina e macia sobre o teto do carro, a papelada das provas por cima dela, para poder pegar as chaves. Coloca todo o resto no banco de trás, o paletó, uma porção de livros e entra no carro (não seria a primeira vez...). Dá a partida e vai saindo devagar pelo corredor do estacionamento, em meio aos alunos que deixam a faculdade. Todos ficam “acenando” para ele, que se sente gostosamente acarinhado e feliz, depois de tamanho dissabor... Acena para eles de volta, chega ao portão e à rua. Faz o contorno pelas ruas próximas à FMU e atravessa a Av. Liberdade. Na paralela a essa avenida, que é uma rampa, ele acelera o carro para ganhar a Av. 23 de Maio. Só então olha pelo retrovisor e o que vê o enche de horror: centenas de folhas de provas estão voando atrás do carro! Um caminhão velho, sucateado, passa a seu lado e por cima de inúmeras provas já espalhadas pela rua! E passa por cima também da pasta macia, que continha agenda eletrônica, canetas e outras coisas delicadas.

Em pânico, pára o carro, deixando-o aberto, com a chave no contato e vai catando pasta e provas uma por uma, pela rua!

Mas, pasmem: inacreditavelmente, recupera todas as provas, muitas delas sujas, muitas com marcas de pneus, mas sem faltar nenhuma, que são devolvidas aos estudantes com as notas limpas em cima de papéis sujos... E dentro da pasta, tudo intacto, apenas uma caneta Bic esmagada...

Obs.: Afirmo que isto não é ficção. Os alunos da FMU devem se lembrar.

segunda-feira, outubro 16, 2006

UM DIA DE CÃO

Nelson, meu marido, é um homem dos sete instrumentos. Faz mais coisas do que qualquer outra pessoa que conheço. Adora trabalhar, é certamente um workaholic. Nem vou enumerar tudo o que faz porque poderia parecer até antipático...

Mas, isto sim: joga tênis, faz sauna, corre, nada, vai a todos os congressos, seminários, almoços de negócios, reuniões no bairro e inúmeras outras coisas do seu interesse que possam surgir , além de sair comigo uma ou duas vezes por semana.

Nos anos 90, Nelson somou a isso tudo ser professor de Direito Comercial na FMU. Como tudo na vida tem seu preço e, provavelmente por excesso de afazeres e um tanto de stress, numa certa ocasião teve o seu dia de cão.

Era dia de provas finais na Faculdade. Para começar, saiu do escritório muito em cima da hora num daqueles dias em que tudo acontece, sem perceber que era dia de sua placa no rodízio Logo na Avenida Liberdade, ao lado mesmo da FMU, topou com uma blitz. Um dos policiais ordenou-lhe que parasse e pediu-lhe os documentos:

O senhor está no dia da sua placa e na hora errada...

E o pesadelo começou. Ao abrir a pasta, viu-se numa daquelas situações infernais que todo paulistano um dia já amargou. Não portava nem a carteira de motorista, nem os documentos do carro.

Não acredito que esqueci os documentos do carro!!!! ruge o Nelson...

O guarda, de talão de multas em punho, levanta as sobrancelhas e depois os olhos:

Vou multá-lo pela placa e pela falta dos documentos.

Já nervoso com o atraso para as provas, meu marido começou a argumentar que era professor da faculdade ali ao lado, que era dia das provas finais dos alunos e por aí além...

E o guarda, irredutível, só balançava a cabeça. E ele continuando.

— Mas, seu guarda, isso não pode estar acontecendo comigo! Veja bem!... Eu sou advogado!...

O guarda engrossou, ele implorou:

— E professor de Direito, aqui na FMU! Eu nunca, mas NUNCA esqueço os documentos! E as provas, seu guarda , provas finais, seu guarda!!... Fim de ano, os alunos, seu guarda, precisam passar de ano!... Seu guarda, eu preciso entrar! Depois a gente conversa etc. etc. etc....

— Deixa ver sua carteira, rosna o guarda. E ele, nervoso, procura a carteira que, é claro, estava junto com os demais documentos... em casa...

— Pois é, também não está comigo... mas que INFERNO!!! Isto não está acontecendo!!!

—Advogado, hein? E sem documentos, hein? Pois multado o senhor já está, mas ainda por cima, doutor, vou apreender seu carro!

Se fosse comigo, já estaria chorando, ou aceitando, ou dando razão ao guarda... Mas não o Nelson! Não, não ele!!! Não se deu por vencido! Argumentou tanto, mas tanto que o policial, cada vez mais truculento e pronto para apreender o veículo, diante dos pedidos incessantes de liberação, quase enlouquecido, teve uma reação inédita:

Vou tirar este uniforme e vou pra casa!!! Com tudo isso que o senhor tá falando, pra que serve um policial?!! Não tenho mais função alguma aqui!!

continua

Esperança

Respondendo ao teste da Primacaçula...

Vicente de Carvalho

Só a leve esperança, em toda a vida,
Disfarça a pena de viver, mais nada;
Nem é mais a existência, resumida,
Que uma grande esperança malograda.
O eterno sonho da alma desterrada,
Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
É uma hora feliz, sempre adiada
E que não chega nunca em toda a vida.
Essa felicidade que supomos,
Árvore milagrosa que sonhamos,
Toda arreada de dourados pomos,
Existe, sim: mas nós não a alcançamos
Porque está sempre apenas onde a pomos
E nunca a pomos onde nós estamos.


Atentem para o trocadilho: está sempre apenas onde "há pomos" e nunca "há pomos" onde nós estamos... Uma coisinha interessante aí: Vicente "amarra" a felicidade em "pomos". Podemos pensar que, realmente, se não houver pomos, isto é, alimento, não pode mesmo haver possibilidade de felicidade para o coitado faminto. Ou, também, esses "pomos" podem ser um alimento de outro tipo, do espírito, ou da mente. Que acham vocês?

sexta-feira, outubro 13, 2006

Maria Gilka







ANTES DE MARIA GILKA E DEPOIS DE MARIA GILKA


Ah, a vontade de pintar! Foi por algo assim que fui envolvida numa das vezes em que assisti, no vídeo, Maria Gilka pintando o auto-retrato, sem desenho prévio.

Célere e competente, aquele pincel parece ter vida própria: aparece do nada uma forma ovalada e plana em vermelho inglês diluído, aquarelado. E logo, uma órbita única, vazia e inquietante. Veloz, um traço vertical marca o nariz, seguido de um pequeno toque que sugere a boca. E então, a outra órbita compõe as sombras. Finalmente, uma íris escura começa a prenunciar a expressão do rosto.

Antes que se perceba, já estamos em plena viagem. A postura corporal muda, flagramo-nos na ponta da cadeira, coluna para frente, olhos literalmente colados na imagem de nascimento que se desenrola à nossa frente.

Mão e pincel são um só, levando-nos pela face recriada de Maria Gilka, do escuro para o claro, das sombras para a luz, ressaltando os volumes e fazendo surgir uma interpretação muito interessante de si mesma. A modelagem do nariz é deliciosa. Com poucas pinceladas ele vai se tridimensionando, quase saindo para fora da tela.

Não pude deixar de pensar na beleza que é poder ver um artista criando. Não há hesitação, Maria Gilka sabe exatamente quais as cores que precisa para dar o efeito final, tanto de um retrato impressionista, como de um fotográfico.

Aprendi muito com ela e continuo absorvendo o que posso, nos dois vídeos que conheço.

É por isso que digo sempre que minha pintura é AMG e DMG.


São Paulo, 1999.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Que acham disto?

O segundo está ocupado...

Biblioteca do Paineiras

Andei retirada do Clube por uns tempos, desde que faleceram três dos meus parceiros de xadrez e, principalmente, minha querida amiga Lenita.
Mas neste semestre, estimulada por meu marido, resolvi voltar a estudar inglês no Wizard do clube. Logo no primeiro dia, depois da aula, passei pela biblioteca, que ainda não havia visto reformada. Fiquei encantada. Não pude deixar de pensar nas pessoas que não têm esse privilégio. Tive muita vontade de levar lá pessoas interessadas, principalmente crianças carentes...

Acima, à direita, meninas do Pueri Domus, estudando e fazendo pesquisas.

À esquerda, a seção das crianças pequenas




Fico por ali escolhendo os livros, sento-me e esqueço de tudo o mais por algum tempo... E estou feliz.

Você sempre pergunta, Timtim, onde está a felicidade. Pois respondo: ela está onde a colocamos. Ela está sempre lá para nós. Lá onde a pusermos. É um estado de espírito e, como tal, só existe dentro da gente (ou não...). É claro que ela é fugaz. E é óbvio que vivemos num mundo real em que vemos e sabemos de coisas terríveis. Mas acredito que temos a obrigação de viver nele da melhor maneira, de cuidar dele, de ser o melhor que conseguirmos, de perdoar nossos próprios erros e os dos outros, oferecer ajuda e, principalmente, tentar não julgar. E ainda sem parecer bons demais, nem pretensiosos, como sugere Se... de Rudyard Kipling... E também temos o dever de não desperdiçar as maravilhas que recebemos e que temos à nossa disposição em todos os lugares...

TIMTIMDEZ


Biblioteca do Clube Paineiras do Morumby










Estive agora (novamente) no blog do Timtimdez e ele não escreveu nada novo. Que frustração!
Timtim, ou você escreve pouco ou eu escrevo muito! Será que eu não deixo para você?
Acho que vou parar de escrever até achar algo novinho em folha no seu blog... Que tal?

terça-feira, outubro 10, 2006

REFULGIR!

Deto, Flávio José, Maria Cecília e Maria Christina

Parece que o Refulgir é o nosso ponto de encontro, não é mesmo, companheiros blogueiros?
Às vezes penso, porque nada sei a respeito de blogs, que talvez estejamos invadindo uma área do tipo "NÃO PISE NA GRAMA" que, aqui no Brasil, costuma ser mais ou menos ignorada...
Lá deixamos recados uma para a outra, não é, Primacaçula? Lá falamos sobre outros blogueiros, não é, Timtim? E é onde dizemos ao Caos e Ordem e à Zelia que estamos com saudade...
Lá pedimos ajuda sobre blog, deixamos recados frenéticos, voltamos quase imediatamente e dizemos: tudo bem, esqueça, já achei!
Mas, acima de tudo o Refulgir é divertido como um livro que entrelaça e dá nó em neurônios, fazendo-nos duvidar da própria memória, pois o Shiost gosta de misturar tempo, espaço e filosofia com laivos de ironia satírica, jocosa e bem humorada ...
Entrar no Refulgir é uma delícia, parece aquela casa em que somos sempre bem recebidos, em que conhecemos novos e importantes amigos, onde estreitamos relacionamentos com primos muito queridos e onde tudo pode acontecer!...
Não é pouco, nos dias de hoje, em que as pessoas em geral são tão frias e desconfiadas, cínicas e indiferentes...

segunda-feira, outubro 09, 2006

New York, New York

Brooklyn Bridge

Opera

New York City Opera

domingo, outubro 08, 2006

A Escada Assassina

Esta é a escada assassina
 
Depois de ler o Refulgir!, lembrei-me de um acidente que aconteceu comigo no Shopping Butantã.
Era véspera do Dia das Mães e minha sogra, de noventa anos, acabara de sair da UTI, onde ficara por doze dias, recuperando-se de uma cirurgia. Tínhamos temido pela sua vida e em nossos corações, estávamos nos rejubilando com sua melhora. Se há no mundo hoje em dia alguém que mereça todo o amor e carinho, é ela que, para mim, é mais mãe do que sogra.
Meus cunhados planejaram uma reunião com almoço para o dia seguinte, para festejar o Dia das Mães. Fui comprar para ela um anel que simbolizasse uma vida longa pela frente. Era um anel de ouro com um pequeno brilhante.
Depois de escolhido, saí um pouco para pensar, longe da loja, se nosso orçamento comportava. Calculadora em punho, comecei a dividir o preço no número de parcelas          que a loja facilitara.
Tão concentrada estava e andando tão depressa, que não vi a escada de ferro bem à minha frente e... BAM!!!, dei-lhe uma testada tão violenta, que bati e voltei para trás meio tonta. Mas, como vaso ruim não quebra, só tive um galo enorme e roxo por uns dias e, depois, uma marca meio afundada para sempre... (Ainda bem que o meu “sempre” não será tão longo...)
Mas que cabeça dura! Como disse no Refulgir, “quem cabeça dura tem, dura mais também”!!!

sexta-feira, outubro 06, 2006

PINTANDO O CENTRÃO

PINTANDO NAS RUAS DE SÃO PAULO

Aconteceu quando resolvemos sair às ruas para pintar nossa telas. Formávamos um grupo de sete ou oito artistas, chefiados pelo Mestre Francisco Cimino, desafiados pela maior ou menor dificuldade de pintar ao ar livre.

Naquela manhã de 1989, em frente ao Palácio das Indústrias, belo prédio do centro de São Paulo, depois de nos aprontarmos, tentávamos nos concentrar em meio ao incessante movimento de pessoas e veículos.

Um de nós, que fechava o grupo, Gilberto Macrina, ficando protetoramente bem na esquina, era constantemente importunado por passantes que pediam informações. Depois do quinto ou sexto, nosso amigo não teve dúvidas. Pintou as palavras SURDO MUDO numa pequena tela que colocou apoiada na frente do cavalete e continuou seu trabalho.

Até havíamos esquecido a brincadeira, quando, ao próximo a perguntar onde ficava alguma rua, nosso amigo apontou o improvisado cartaz. A pessoa arregalou os olhos, abriu a boca e parou para observar o grupo. Logo outro curioso se juntou ao primeiro. Em pouco tempo tínhamos uma pequena platéia, bastante interessada no nosso trabalho. Um deles, com mímica e em voz muito alta e muito pausada, perguntou:

— “V-o-c-ê-s... s-e-m-p-r-e... v-ê-m... p-i-n-t-a-r... a-q-u-i?

E nós, concentrados na pintura e pegos de surpresa, assentimos com a cabeça, confirmando sem querer que éramos todos o que o cartaz dizia...

RECOMPENSA DE UMA ARRUMAÇÃO


“BAGUNÇA? LIVRE-SE DELA. JÁ!”

O artigo da Revista Seleções parecia ser dirigido especialmente para mim. Extremamente envergonhada, a carapuça enfiada até o pescoço, decidi obedecer imediatamente à intimação!

Começando pelodepósito”, atravancado há anos com tudo que podemos precisar um dia, fui colocando na rua objetos empoeirados, queridos e muito usados. O apego viciante e lacrimoso no fundo, tentando me comover e me fazer sentir culpada... “Puxa, mas... poderia consertar... E isto, que lindo!... Compramos quando nasceu o primeiro filho... É uma lembrança... Será que não convém guardar mais um pouco?...”

Mas o artigo, como a única solução para a minha falta de inspiração para pintar, impiedosamente me puxava para a realidade. E me estimulava a ir aumentando a pilha fora.

Foi então que passou um senhor, alto e meio gordo, numa frágil bicicleta Caloi Ceci quase nova, apresentando-se como Roberto e perguntando se eu queria vender aquelas coisas que estavam na calçada e se havia mais, pois ele possuía uma loja de objetos usados ou mesmo antigos. Contou que havia acabado de comprar aquela bicicleta ali na rua de baixo. Mostrei a ele algumas outras coisas e ele se interessou pela bicicleta do meu marido, sem pedal. Quis comprar, não consenti, ofereceu a Caloi feminina em troca, gostei da idéia. Pagou em dinheiro R$ 60,00 pela pilha na rua e trocou as bicicletas. Viu meus quadros e encomendou um. Ficou meu amigo. Daí a alguns minutos ele voltou, contando que na rua de cima uma casa estava trocando o telhado, que o dono estava querendo doar as quatro mil telhas velhas e se eu queria algumas, de graça. Ora, cada vez que temos que trocar as telhas, precisamos mandar fazer, pois não são mais fabricadas e, de repente, me vi acompanhando o senhor Roberto até a tal casa, onde constatei que as telhas eram iguais às minhas. Ganhei noventa delas e ele ainda me ajudou a colocá-las no carro e a descarregá-las na minha garagem.

Moral da história: por arrumar a casa, fiquei mais rica em R$ 60,00, ganhei uma encomenda de quadro, uma bicicleta e noventa telhas! Valeu a pena?

Musa Intermitente

Esta poesia foi criada ao mesmo tempo em que estava sendo escrita. E de uma vez só. Parecia uma avalanche, uma enchurrada que não queria parar. Foi muito estranho e muito gratificante.

As rimas prontas, não precisaram de retoque de espécie alguma. Não entendi o fenômeno, nem me importa, porque amei-a todinha, do jeito que saiu. Mas ainda tive de tirar várias estrofes, senão iria ficar ainda mais quilométrica...

Qual é a mancha
Que me desonra?
Que avalanche
Me angustia?
Que abulia
Mexe comigo?
Que alforria
Não conquistada
Me submete
Nesta Cruzada?
Quem é a Força
Que me combate?
Que disparate
Me deixa louca?
De quem os moucos
Ouvidos fúteis?
De quem inúteis
Conversas rasas?
De quem o pranto
Que me transforma?
De quem a forma
Que me encanta?
De que garganta
Esta cantata,
Que me arrebata
E me fascina?
De quem a mina
De ouro e prata
Que me relata
O velho índio?
Que merovíngio
É descendente
Da antiga raça
Desse Graal?
Porque o medo
Desse segredo
Tão bem guardado
Pela Vestal?
Quem é a onda
Que me transporta?
De quem é o ombro
Que me suporta?
Quem é a rocha
Que não se move?
De quem a asa
Num vôo cego?
De quem o Ego
Que me ignora?
Quem é que ora
Com tanta fé?
De quem é o pé
Que acaricia?
Quem é a água
Que se derrama?
Qual é a cama
Que me repousa?
Quem é que ousa
Ser meu mandante?
Quem é o amante
Que me recusa?
De quem a boca
Que me enlanguesce?
De quem os braços
Que me aquecem?
Quem é o césio
Que me dissolve?
Quem me devolve
A confiança?
Quem é que usa
O meu berrante?
Quem é a Musa
Intermitente
Que, inconseqüente,
Me faz feliz?
De quem os dentes
Na boca muda?
De quem o véu
Nos olhos cegos?
De quem os pregos
Nos meus sapatos?
Que peculato
Me Causa horror!
De onde a dor
Que me perfura?
De quem as garras
Que me seguram?
De quem a louca
Risada impura?
De quem a pura
Risada louca?
De quem a teia
Que me aprisiona?
Quem é a aranha
Que vive nela?
De quem o negro
Velho casaco?
De quem o taco
De beisebol?
De quem o brilho
Azul da lua?
Quem é que atua
Naquele palco?
Porque o álcool
Nessa garrafa?
Porque se estafa
Pai de família?
E da vasilha
Não vejo o fundo?
Porque o mundo
Está tão mudado
Que desse mundo
Não faço parte?
Eu quero em Marte
Plutão
, Saturno

Ouvir noturnos
Da velha arte...
Quem é o barco
Que me naufraga?
Qual é o marco
Que me assinala?
De quem o sopro
Que me estimula?
De quem a chula
Conversa oca?
De quem as penas
Das asas sujas
Do negro óleo,
Como gangrenas?
Qual é a prata
De compra e venda?
De quem a moeda,
De cunho estranho,
Que foi meu ganho
Em outra vida,
Quando bandida,
Morri matada?!
De quem a morte
Que me aguarda,
Dentro da farda
E do passaporte?
De quanto sangue
Precisa a veia?
De quantos fios
Se faz a teia?
De quantos rios
Precisa o homem,
Louco de fome,
Pra poluir?
Quem abandona
Velhos na rua?
Quem é a nua
Mulher que dança?
Dessa criança,
Quem é o pai?
Quem é que alcança
Um sonho louco?
Quem ama pouco
Não ama nada!
Em quantas fadas
Eu acredito?
De quem o grito
De orgasmo quente
Que, de repente,
Emudeceu?
Qual é a nota
Dessa sonata?
Qual o compasso
Da melodia?
Qual é a rima
Dessa poesia?
Qual é o aço
Desse punhal?
De onde a bala
Que me atinge?
Quem é a falange
Que me destrói?
Se mais não posso
Falar, engulo,
Tornando nulo
O que me dói...

Jane e Ian 5 meses depois








E Jane realiza seu sonho a cada dia.

Jane e Ian



Ian é o

bebê mais

feliz !

NY Jantando no Metrazur

Ronaldo, Nice, Nelson, Zé, Naná, Jane e Robson

Chegada a NY em 2004

Da esquerda para a direita: Ronaldo, Robson, Nice e Nelson

quinta-feira, outubro 05, 2006

A Velha Aranha Sonhadora

A velha Aranha tão feia

Pendurada em sua teia

Teia já toda esgarçada

Todo dia esburacada,

Toda noite remendada...

E a velha Aranha pensava

Que estava como uma renda!

Tanto fio, tanta fenda...

Que trabalho caprichoso!

Que desenho primoroso!”

E a velha Aranha sonhava

Com bailes e com castelos

E com príncipes tão belos,

Com chegadas e partidas...

E pensava que sua teia

De tão linda e delicada

Podia ser incrustada

Com muita delicadeza

Como adorno numa saia

De um vestido de princesa

Ou num punho de rainha

A velha Aranha pensava

Que linda teia é a minha!

E a teia balança ao vento

Num suave movimento

E a Aranha vai e vem...

Ela não sabe que é feia,

Pendurada em sua teia.

Ela sonha que é bela,

Que é princesa e que é dela

Aquele palácio lindo

E que um Príncipe Encantado

Chega num cavalo alado

E lhe dá um beijo infindo...

(Para crianças que têm medo de aranhas, como eu tinha...)

A Mensagem

Mãe,

Procure-me nos raios do sol, pois é quente e aquece a alma.

Ouça-me nos cantos dos pássaros, pois é a melodia que canto somente para você.

Mãe, veja-me nos olhos de um idoso, pois é lá que encontrarás o afeto.

Sinta-me nas mãos de um desabrigado, pois é doando que florirá o amor.

Mãe, estou nos seus sorrisos, nas suas angústias, nos seus pensamentos.

O perdão já veio, o amor já é fato.

Você será para sempre minha mãe e eu serei para sempre seu filho.

Irei de uma forma ou de outra para seus braços.

Tenha a certeza, serei o seu filho e será você minha mãe. (Ipsis litteris)

Um mês depois alguém ligou sobre um bebê recém-nascido, um menino. Fazia uma semana que Robinho estava nos Estados Unidos. Minha mãe foi comigo buscá-lo, novamente o quarto preparado, a malinha no carro, a expectativa, o grande receio de voltar de mãos vazias. Não tive forças para sair do carro. Minha mãe foi. Numa angústia mortal, esperei.

E então, ela surgiu com Ian, que graças a Deus está comigo e é muito amado. Estou enviando fotos dele, que está com cinco meses e é muito fofo...”

Como já dizia Shakespeare, “Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”...

Jane me contou tudo isso por telefone e minha emoção foi enorme. Que Deus abençoe o casal e a esse menininho tão querido e por tanto tempo esperado.

Que todas as crianças do mundo, filhos biológicos ou não, sejam amados como Ian!


Robson e Jane

Capítulo IX

A História de Jane

Já preocupado, pensando em uma possível queda do outro, resolve decolar e faz um vôo esquadrinhando a mata, procurando o parapent. Numa das voltas vê algo estranho lá em baixo, e manobra para passar outra vez pelo local. O que ele mais ou menos adivinha entre as árvores é uma das rodas de um carro capotado, quase completamente escondido entre as folhagens. Ele ainda tenta se aproximar, mas o local é de difícil acesso e ele decide voltar para o alto da serra, onde encontra o amigo. Robson então comenta o que viu e o amigo diz que há a notícia do desaparecimento, há dez dias, de uma garota de dezoito anos, num carro. Robson e o amigo chamam algumas pessoas e descem mais de 180 metros serra abaixo, procurando pelo carro capotado. Já é quase noite quando o encontram. Dentro está o corpo de uma mulher, em decomposição. Procuram as autoridades e fica confirmado ser a garota desaparecida e que havia deixado um bilhete de suicídio. O pai faz o reconhecimento e a mãe cai em desespero.

Robson fica arrasado. Jane e ele fazendo de tudo para serem pais e uma mãe perde a filha de 18 anos dessa maneira trágica! Além de tudo, seu coração está pesado por ter sido ele a encontrá-la. A mãe da garota, porém afirma que ele foi um anjo e que seu parapent eram as asas. E ele, o homem forte, que sempre oferece o próprio ombro para quem precise, chora no ombro dessa mulher.

Daqui para a frente, é Jane quem continua:

“No sábado ao amanhecer, acordo e faço uma oração pedindo a Deus que se não fosse meu destino ser mãe de jeito nenhum, que me desse uma luz e assim eu pudesse viver a minha vida sem essa expectativa.

Fomos almoçar na casa de meus pais e uma amiga deles que estava lá convidou-nos para ir nessa tarde a uma casa espírita de caridade (é como um hospital), onde há sessões de cura e tratamentos espirituais. No estado em que Robinho e eu estávamos, resolvemos aceitar o convite. Depois de uma meia hora, sou chamada lá dentro e entro preocupada e desconfiada. Ah, meu Deus, será que ele vai me dizer que nunca vou poder ter um filho? O médium me pergunta por que motivo estou lá. Respondo que gostaria de fazer um tratamento para engravidar. Ele pede para eu me deitar, passa alguns instrumentos na minha barriga e na minha cabeça e me diz que em uma outra vida eu havia cometido um aborto e que esse espírito abortado não havia me perdoado e não me deixava engravidar, nem adotar. Por isso eu deveria rezar e pedir perdão e também estar mais em contato com crianças carentes e necessitadas, pois é dando que se recebe.

De repente ele se dirige a Robinho, em pé a meu lado e diz que ele está muito atormentado, mas que deve ficar tranqüilo agora, pois já cumpriu sua missão de encontrar a garota, que precisava muito ser encontrada. Agora vocês só devem orar por ela.

Nesse momento, ele nos convida a participar da mesa, que acontece quando termina o atendimento. Decidimos aceitar.

Na hora da mesa somos orientados a ficar de olhos fechados e em oração e que não precisamos ter medo. Estou muito calma.

Senta-se a meu lado uma moça que não conheço, apagam-se as luzes e alguns médiuns começam a encorporar espíritos. A moça ao meu lado faz sinal de que quer papel e caneta e começa a escrever. Num determinado momento, puxa meu braço e coloca várias folhas de papel sob minha mão. Sem saber o que fazer, aguardo o final da sessão para perguntar o que devo fazer com os papéis. Ao serem acesas as luzes, olho para a primeira folha, vejo a palavra Mãe e começo a chorar. Mal posso ler os restante, de tanta emoção. É uma carta, que guardarei para sempre e diz:

POLITICAGEM

Quem são os ratos

Lá no palácio

Porque a hilária

Democracia

Porque de novo

Somos otários

De governantes

Tão bilionários

Quem é que junta

Tanto dinheiro

Do pobre povo

Que visionário

Ainda crê...

Que bandoleiros

Em diligência

Quem é que afronta

A inteligência

Quem é que vê

A Inconsciência

Na complacência

Se espojar

Quem é que pensa

Que engana o povo

Que vê de novo

Mais uma ofensa

E o seu voto

Escarnecido

Por governantes,

Pelos partidos

E desiludido,

Não quer votar...