sábado, setembro 29, 2012

Domitila vem para casa




Alegria, Alegria!!!
A moça mora no Ipiranga e foi lá, perto do Palácio do Imperador, que ela ouviu o miado fraquinho. Com o carro equipado com as coisas da gatinha, a caixa de transporte toda forrada com uma almofada e um cobertorzinho de flanela estampado de florzinhas minúsculas, tudo feito por mim, lá fui eu toda feliz e ansiosa. Como ela estará, será que cresceu, será que vai me estranhar, será que... será...?
Deu tempo de ir pensando no nome, que foi mais ou menos óbvio: Palácio do Ipiranga – gatinha siamesa/vira-lata... Poderia ser Leopoldina, como a nossa primeira Imperatriz, se fosse de sangue puro; também poderia ser Domitila (ou Domitília para alguns historiadores), como a amante de D. Pedro I – Maria Domitília de Castro Canto e Mello que, de plebeia que era, foi elevada pelo Imperador à aristocracia como Viscondessa e, mais tarde, Marquesa de Santos.
Prezo muito e respeito Dona Leopoldina, mas a Marquesa de Santos era uma personagem tão controversa e teve uma influência tão grande sobre o Primeiro Reinado que nem sei bem por que me encanta. Talvez por ter sido uma mulher muito à frente de seu tempo e que foi capaz de provocar em Pedro I, reconhecidamente um mulherengo inveterado, uma paixão tão tórrida quanto uma admiração sem limites. Não era uma beldade, devia ter alguma coisa maior do que beleza. Ou não? Seria apenas sexo?
De qualquer maneira acabei ficando com Domitila, sem o i. Menos doce, mais forte, mais sonoro, mais impactante.

Foi difícil encontrar a casa, que fica numa ruazinha secundária, quase invisível e minha ansiedade ia aumentando. Teria errado o endereço, teria ouvido mal? O número não existia naquela rua. Não era aquela rua? Ai meu Deus, que saga! Telefonei e a moça indicou uma espécie de beco em rampa e sem saída, onde carros não entravam. Depois de várias voltas consegui ver a tal ruazinha, que tinha o mesmo nome da outra e formava um T com esta.  
Enfim, encontrei a casa e pude ver que a Domitila estava maior do que me lembrava há apenas 22 dias. Mas era ela mesma, toda ronronante no colo da Adriana. Eu deveria levar para vacinar e castrar etc., rações etc., tudo certinho e pronto.

Foi colocada na caixa de transporte e levada até o carro, no banco do passageiro. Tchauzinho, obrigada por tudo, até qualquer dia etc..
Já eram seis da tarde e pegamos o maior transito caótico como sempre. Domitila miava e eu falava com ela, para acostumá-la à minha voz. Coloquei os dedos nas aberturas da portinha da caixa e ela esfregava neles sua cabecinha. Se eu tirava os dedos, ela recomeçava a miar.
Começamos imediatamente a estabelecer um relacionamento intenso. Fiquei surpresa com sua carência de contato físico. De todos os gatos que conheci, nenhum demonstrava tal dependência, deixavam-se acariciar, mas não necessitavam disso.
Tive de dirigir com uma só mão na maior parte do trajeto, o que não me desagradou nem um pouco.
Chegando à nossa casa, levei Domitila ao banheiro que estava preparado para ela, o azul, com almofadas, tapetes, pratinhos com ração e água. Ela cheirou e experimentou tudo, curiosa e investigadora. Logo o banheiro perdeu o interesse e ela foi procurar outros ambientes. Eu a acompanhava, mostrando tudo e quanta coisa interessante ela ia encontrando pela casa! O arranhador para afiar as unhas foi devidamente arranhado, as gavetas dos quartos farejadas e tentativas foram feitas de adentrá-las, as camas observadas com toda atenção, os sofás das salas e as cadeiras da copa bem escalados, e os vasos de plantas... ah! os vasos... com terra! -  que delícia para quem viveu algum tempo primeiro pelas ruas, depois numa gaiola compartilhada com mais oito gatos, uns mansos, outros indiferentes e outros mais agressivos, quase sem contato humano. 

E esse contato físico que ela procurava o tempo todo. E miava de um jeito que nunca ouvi antes: fazia (e faz ainda) 
1) três sons A a a? 
2) Au? (e não miau) interrogativo
3) mmmm... 
E isso só nas primeiras horas em casa. 

Brinquedo? Qualquer pedacinho de papel, qualquer lápis, canetas, uma pena do espanador, enfim, qualquer coisa que se mexa serve. E ela resolve as situações críticas sem choro nem pedidos de ajuda. Vejam este vídeo, feito dois dias depois que ela chegou. 
http://youtu.be/p1_q9c7aGQI

quinta-feira, setembro 27, 2012

Longa, Longa Espera



Talvez a longa espera (22 dias...) tenha sido uma boa coisa, afinal. Foi quase como uma maternidade, que me perdoem os horrorizados “anti-gatos”... 
Escolhi sessenta nomes entre muitos, optando ora por este, ora por aquele, chamando em voz alta para “sentir” a vibração e a sonoridade. Inicialmente queria um nome curto, duas sílabas, depois fui abrindo o leque. 
A cada dois ou três dias telefonava para a moça da ONG para perguntar da Minha Gatinha Ainda Sem Nome e ela dava as notícias. 
— Estamos fazendo o tratamento, dez dias de antibiótico Zitrax, colírio Still uma gota uma vez ao dia, ração seca Golden Filhotes e um sachê de ração úmida Whiskas Filhotes uma vez por semana. Ela está resistindo, mas não se anime muito não, porque às vezes morrem e a gente não consegue fazer nada, é muito triste... 
— Ai, meu Deus... 
Ou: — Ela está melhorando, acho que vamos conseguir.
— Viva!!! Estou na torcida aqui. Já fiz uma almofada para ela. 
Noutro dia: — Ela sarou dos olhos, e está melhorando a cada dia. E come bem.
— Eu sabia! Eu sabia! Viva!!! Quando posso ir buscar?
— Já falei, só depois da castração. 
— Que vai ser... 
— Isso não sei, porque a veterinária da ONG está com a mãe na UTI e não sabemos o que vai acontecer. 
— Mas... eu posso mandar castrar por minha conta. Já comprei até uma caminha linda com babados e travesseirinho...
— Mas a ONG não permite, já avisei etc. etc.. 

Para encurtar o assunto, essa conversa repetiu-se algumas vezes igualzinha. No dia 12 de Maio fui novamente à Cobasi da feirinha, vi mais gatinhas, nenhuma era Aquela, mas falei com a moça pessoalmente e demonstrei minha vontade de trazer a Ainda Sem Nome, com o argumento de que se eu não era uma boa candidata a ter um filhote da ONG, quem mais seria tão determinada e tão maternal? Será que esse esforço todo não contava?

Ali mesmo comprei tudo o que a ONG exigia: caixa de transporte, arranhador, caixa sanitária com pá, um pacote de cristais de sílica (isto foi um luxo meu... para que tudo o que ela produzisse não tivesse o menor cheiro) e um pacote da ração Golden mais alguns sachês da Whiskas Filhotes. Também um brinquedo, uma vareta com um ratinho todo molinho na ponta. Mostrei à moça tudo isso. E ela foi vencida pelo cansaço. 

No dia 22 de Maio, uma terça-feira, ela me ligou:
— D. Nice, estive pensando e conversando com minha família e achamos que a senhora merece ter a Sua Gatinha. Vou fazer por fora da ONG, mas a senhora vai me prometer que irá castrar a bichinha. Só vou fazer isso porque estamos sem veterinária e também porque fui eu quem a tirou da rua, então é como se fosse minha. Assim eu posso doá-la. 
— E quanto posso dar a você em dinheiro?
— Nada, a senhora não me deve nada. 
— Vou buscá-la hoje mesmo! 

quarta-feira, setembro 26, 2012

Domitila é "Aquela"!



Coincidências não existem mesmo!... 

Era um domingo bem frio, depois daquela semana toda muito gelada. Você se lembra daquele frio de Maio? Num momento em que deveríamos estar em pleno "veranico"? 

Gabi (a neta), que estava passando o fim de semana em minha casa e a Norinha (Nádia) estavam muito ansiosas para que eu tivesse enfim meu desejo realizado. Entramos na Internet mais uma vez, vimos uma belezinha preta e branca, que já havia sido doada. 
Uma amiga  da Nádia trouxera três gatos brancos de uns quatro meses, que não fizeram minha cabeça. Nenhum deles era "Aquela"...

Gabi iria para Itapetininga nesse mesmo domingo, mas não antes de irmos ver uns gatinhos.
Resolvemos ir à Cobasi aqui pertinho de casa, mas nessa loja não havia feirinha de animais. Gabi não se conformou: Vovó, vamos à outra Cobasi! Não vou sair daqui sem que você tenha ido ver gatinhos! Quem sabe você gosta de algum? Minha amiga disse que tem feirinha de adoção todo fim de semana e feriados na loja perto do Parque Villa Lobos e do CEASA. Vamos lá! Agora!
Lá fomos nós três, muito ansiosas. Só o fato de "ver", "tocar", "sentir" a maciez dos bichinhos já nos animava, pelo menos a mim. 

Num canto da loja estavam as gaiolas, com mais de um gato em cada uma. Estavam lá uma veterinária e a moça que tomava conta dos animais. No chão, cercados estavam os cãezinhos, latindo muito, procurando chamar a atenção. Não quero mais ter cachorro, não desde que o Bug morreu, levando um pedaço do meu coração. Gatos são mais independentes, sabem virar-se sozinhos. 
No meio daquela balbúrdia canina, olhamos todos os gatos, um por um, perguntando ás moças se eram fêmeas, que idade tinham etc.. Gostamos de alguns, toquei e senti cada um através das gradesmas todos eram maiores do que eu queria. Que pena, nada conseguiria?
Por último, numa gaiolinha afastada de todos, sozinha, quase invisível, estava uma gatinha clara com as patas, a cauda e a carinha mais acinzentadas, siamesinha de uns dois meses, encorujada e dormindo. Olhei para ela e “soube”: era Aquela! 
— É aquela! — disse eu, animada — É ela! Achei!!! E ela parece siamesinha! Quero aquela pequena ali! 
— Ah, essa não pode! 
— Como assim, não pode?! O que você quer dizer com isso? Não está aqui para doação? — e meu coração já se apertava, ai... 
— Não, essa nem é da ONG ainda, peguei hoje no Parque do Ipiranga ao vir para cá, está doentinha, com febre e seus olhos estão infeccionados. E nem é siamesa, é vira-lata mesmo.
— Não faz mal, eu cuido dela, pode deixar! Quero essa! 
— Não, não, não pode mesmo! Sinto muito, mas a ONG não deixa doar sem estar sadia e castrada. Ela só está aqui porque peguei na vinda e não dava tempo de voltar. Foi por acaso que o carro parou no semáforo e ouvimos um miado fraquinho. Fiz meu filho parar o carro para procurar e encontramos a coitadinha no meio das plantas. Estava molhada, magrinha, com fome e doente. Ela vai ter de tomar antibióticos para os olhinhos e fazer um tratamento para pneumonia. Também não sei se vai sobreviver. A senhora escolhe outra.
 — Ah, meu Deus! Não quero outra! Coitadinha! Jura que não posso cuidar dela eu mesma? Tenho um veterinário ótimo, levo lá amanhã! 
— Não mesmo, me desculpe, a senhora precisa entender, as ONGs são rígidas nesse ponto de saúde e castração. Olhe, a gatinha já até pode ser considerada sua, se sobreviver! Mas só poderá ir para sua casa depois que sarar e depois da castração. Certo? Isso se a senhora ainda a quiser daqui a um ou dois meses...
— Mas vai demorar muito! Ela estará grande! Quanto maior mais difícil de acostumar! A conversa foi longe, continuei insistindo até perceber que a moça não cederia...

Não teve jeito. Tive de aceitar, mas fiz a moça prometer que não a doaria a mais ninguém, porque aquela era minha! Ela prometeu. Peguei seu número de telefone, dizendo que ligaria para saber notícias da "minha Gatinha"! Ela agora sorria ao dizer que estava feliz por sua protegida ter conseguido tão logo um lar e alguém para tomar conta dela com amor. 

Levamos Gabi até a Rodoviária e voltamos para casa, Nádia e eu já escolhendo nomes. 



Era uma pobre coisinha abandonada e doentinha 

terça-feira, setembro 25, 2012

DOMITILA Gata Brava




Tanto tempo! 
Desde que Rebecca veio ao Brasil, há três anos já, que venho pensando em ter uma gatinha. E depois, com o nascimento do Andrezinho, a vontade de ter em casa uma gatinha foi crescendo cada vez mais.

Mas a verdade - vou confessar - é que gatos sempre fizeram parte do meu cotidiano familiar. E como gosto deles! Então, para confessar tudinho mesmo, devo dizer que estava realmente precisando de uma gatinha.

Uma gatinha e não um gatinho. Por quê? Porque elas são mais carinhosas, mais companheiras. 
Queria que fosse novinha, dois a três meses no máximo, para que se acostumasse comigo, com meus familiares e com os diversos espaços da nossa casa. 
Sempre tive pseudo siamesas ou (ou seja, gatas com a aparência dessa raça). Tive duas, uma mais linda que a outra, que comprei e que foram especiais. E outras que não cheguei a amar tanto. Todas de estrutura física esguia, cauda fina e comprida. Não queria mudar, mas desta vez não queria comprar. Num passado mais remoto só tive autênticos vira-latas, dos quais não guardei grandes memórias e que não davam nenhum trabalho. 

Julgo-me um pouquinho entendida em gatos, embora quem cuidasse deles era mamãe. Eu apenas usufruía da beleza e da maciez no toque e muito cedo aprendi a respeitar e admirar a diferente personalidade felina, que não se deixa prender, nem escravizar. 

Há pouco mais de dois anos comecei a procurar. Nas clínicas veterinárias, pela Internet, nas ONGs, sem encontrar. Sem encontrar “aquela”, a coisinha única em que eu bateria os olhos e já reconheceria, “saberia” que seria a minha. 

A busca foi tranquila e paciente. As pessoas das ONGs pressionavam um pouco e algumas vezes quase me deixei levar. Mas a dúvida persistia. Eu não queria uma gatinha, queria AQUELA. Esperaria por ela. 

Minha neta Jéssica, de 21 anos, também aficionada por gatos, cerrou fileiras comigo e passei a procurar com mais afinco. A outra neta, Gabi, de 22 anos, e minha norinha Nádia começaram a ajudar. Procuramos em sites de adoção, vimos alguns gatinhos fofíssimos, mas ou eram machinhos ou já tinham sido doados... 

E, em 1º de Maio deste ano de 2012, aconteceu uma coincidência. Apesar de que acredito que coincidências não existem...