quarta-feira, setembro 27, 2006

Aventuras de Robson


Capítulo V

Não, ele não caiu de uma escada, mas sim de uma altura de mais de seis metros!

A granja, que fica a uns trinta ou quarenta minutos de Sete Lagoas, estava sendo reformada. Em um dos galpões, de 120 metros de comprimento, o teto estava se inclinando e os responsáveis pela reforma resolveram tentar segurá-lo com cabos de aço. Enterraram quatro vigotas para prender os cabos de aço, com catracas, para fazer voltar o telhado para o lugar.

Nesse dia, Robson estava fazendo uma vistoria lá em cima, na “tesoura” e levava na mão um pé-de-cabra para ajeitar os cabos de aço. De repente, ouviu um estrondo e pensou que tudo ia desabar. Virou-se para investigar o motivo do barulho, quando, às suas costas, um dos cabos de aço rompeu-se com violência e, como um chicote, atingiu-o na cabeça. Ele tonteou, desequilibrou-se e tentou se segurar, percebendo ainda que seus braços estavam sem forças. Porém, com esse movimento desesperado, sua cabeça ficou presa na tesoura e seu corpo ficou pendurado, fraturando a sétima vértebra cervical. Então ele caiu, de costas no chão. Perdeu os sentidos por alguns segundos, mas levantou-se rápido, muito assustado. Funcionários e ajudantes da obra correram para socorrê-lo e só puderam ver o corte, que sangrava muito.

O encarregado da obra colocou-o na caminhonete e levou-o para o hospital de Sete Lagoas. No caminho. Robson se mantinha acordado, mas não conseguia se lembrar do telefone de casa, o que deixou o rapaz preocupado. No hospital, foram feitas radiografias da cabeça e aparentemente estava tudo bem. Levou 10 pontos no corte e retornou para casa. A roupa toda ensangüentada e o corte recém costurado assustaram Jane. Robson, porém tranqüilizou-a, que estava bem, mas não pode deixar de queixar-se de dor muito forte no alto das costas, “mas deve ser da queda...”.

Entretanto as dores na base do pescoço e ainda um formigamento nas costas só aumentavam e, contra a vontade dele, Jane procurou um médico, que pediu tomografia computadorizada, aparecendo então a fratura na sétima vértebra. O médico disse que ele tivera muita sorte, por ter sido transportado sem maiores cuidados e que poderia ter ficado tetraplégico. Colocaram uma coleira por 45 dias, que não podia ser retirada nem para dormir, por isso ele dormia sentado. Também não podia dirigir e não deveria nem mesmo se mexer.

Robson, parado? Sem se mexer? Dormindo sentado? Adivinhem se ele ficou os 45 dias! Ahn, ahn! Só 30! Mas, segundo a Jane, graças a Deus, foram suficientes. Ele voltou a trabalhar a todo vapor assim que se livrou da horrível coleira e, em março de 2005...

Continua...

terça-feira, setembro 26, 2006

INTERVALO


É bom dar uma pausa para meditação (minha), para deixar Shiost sem dormir, para esperar que Timtim chegasse de sua viagem (sentimos falta!, assim como do Zecão), para deixar a primacaçula julgando, ou, diria melhor, avaliando o nosso herói...

Mas, principalmente, porque a narradora estava em dúvida sobre alguns pontos da história de Robson e pretende contar aqui somente a verdade.

Tive algumas dificuldades para falar com Jane, em Sete Lagoas, mas só hoje consegui contatá-la por telefone, matamos a saudade e fiquei sabendo melhor dos fatos que se passaram naquele dia fatídico de novembro de 2004, em que Robson caiu.

Peço desculpas ao meus fiéis leitores pelas falhas de memória.

E então, Vamos lá! Vou ter que mudar alguns detalhes, fornecidos hoje.

sábado, setembro 23, 2006

AVENTURAS DE ROBSON


Capítulo IV - Viagem de volta


Depois do almoço, Robson nos levou até um centro de compras que fica próximo e comprou vários rolos de fitas adesivas bem largas e fortes, para fechar e vedar bem as enormes e inúmeras caixas de papelão que ele e Jane encheram de roupas, sapatos, tênis, presentes para um mundo de amigos e parentes. Tudo para mandar para o Brasil. Foi um Deus nos acuda a quantidade de caixas, malas, mochilões e sacos de todo tipo que levaram. Tiveram de pagar 400 dólares pelo excesso de bagagem. Mas, lá se foram.

Jane estava muito apreensiva com essa mudança definitiva. Tinha um certo receio de que alguma coisa não desse certo, de que perdessem tudo o que ganharam nesses longos cinco anos, enfim... Por outro lado, ela estava querendo voltar, mais do que tudo, para poder adotar um bebê. Que sonho grande, esse. As roupinhas e brinquedos para essa criança ainda não nascida enchiam vários dos containers a caminho do Brasil. Infelizmente, Jane não podia ter um filho seu mesmo. Isso já a fizera sofrer muito, mas já estava superado pelo desejo ardente de ser “a mãe de verdade” de uma criança adotada, que seria tão dela como se a houvesse gerado. Ela sonhava com esse filho, ela o queria com toda a força do seu coração.

Chegando ao Brasil, depois de todas as festas e almoços e jantares de todos os familiares e amigos, começaram a arrumar o apartamento novo para mudar. Robson começou a cuidar da granja, construindo, pintando, consertando, contratando pessoal e tudo o que preciso fosse. Tudo ia bem, nos conformes.

Nesta altura Nelson e eu já havíamos voltado também e telefonávamos para eles para saber das novidades.

Até que um dia, o susto: Suely, mãe da Jane, muito aflita, contou que o genro estava com o pescoço imobilizado, com suspeita de fratura e seqüelas... Robson, ao consertar um telhado muito alto (se bem me lembro, a escada não alcançava), teve que levantar muito o braço e uma barra de ferro escapou , ferindo sua cabeça. Parece que, ao tentar se desviar, ele caiu da escada de mau jeito... Havia muito sangue e ele estava desacordado...


Continua

sexta-feira, setembro 22, 2006

Aventuras de Robson

Capítulo III - Sociedade com o “Homem que A bria as Portas”
...“Foi logo que comecei a ganhar um pouco de dinheiro e fui abrir uma conta no City Bank... Tinha uns clientes muito bem vestidos entrando e um homem que ficava lá abrindo a porta para eles. De cada um, ele ganhava uns trocados. Às vezes, algum mais generoso ou mais rico dava até alguma nota maior, porque neste país, todo favor feito deve ser pago e todos esperam isso. Toda vez que eu ia ao banco, o homem estava lá abrindo a porta para todos. Mas havia alguma coisa que eu não conseguia compreender: o homem enfileirava na marquise uma carreira comprida de moedas de 1 cent. Isso eu percebia todas as vezes. Comecei a ficar embatucado com aquilo. Um dia resolvi perguntar o porque daquilo e ele respondeu que as moedas de 1 cent não valiam nada, então ele não as queria...”
— Você não quer? — estranhei.
— E o que você faz com elas?
— Deixo aqui — respondeu.
— E se eu quiser essas moedas?... — sondei.
— Pode levar!” E dizendo isso, passou a mão pela marquise, varrendo as moedas para a outra mão e me estendeu: — Toma, são suas.
— Posso passar por aqui e levar mais dessas... todo dia?
— Of course! — riu ele.
"Assim começou a minha sociedade com o homem que abria a porta do banco. Todo dia eu dava um jeito de dar uma passada por lá bem no fim da tarde e limpava a marquise pra ele... (risos). Fui guardando e, quando já eram muitas moedas, levei ao banco para trocar e tinha 38 dólares!" — Olhou para nós e abriu os braços: — Tá vendo? Ele tava jogando dinheiro fora!”
Nelson e eu ficamos maravilhados. Nunca pensei dessa maneira, acho que eu era mais da opinião do “mendigo”, que moedas muito pequenas nada valem... Mudei de idéia daí em diante...
Continua

quinta-feira, setembro 21, 2006

AVENTURAS DE ROBSON - Capítulo II

Robson e Jane recebem visitas de despedida

Esqueci de dizer que Robson é um homem moreno, alto, malhado pelo trabalho árduo que faz e bonito, além de carismático. Pode ser definido como um dínamo. E que a Jane é linda, artista plástica e de personalidade forte, digna do marido.

No dia da Grande Viagem para o Brasil, depois de cinco longos anos batalhando exaustivamente, Robson e Jane recebem alguns amigos que vêm se despedir. Entre eles, Fernanda, que demonstra grande afeto pelo casal. Nelson e eu já estamos totalmente presos às narrativas que ele encadeia uma na outra.

Num certo momento, a amiga pergunta: “Robinho, você já abriu o cofre?”, ao que ele responde tranqüilamente: “É mesmo, está na hora!”

Levanta-se e some por alguns segundos. E a moça nem bem começa a contar sobre o tal “cofre”, quando ele volta para a sala com ferramentas e uma caixa de madeira crua e clara, que ele mesmo fez. Senta-se e começa a desmontar a caixa, que deve medir uns 40cm por 25 cm e uns 25cmm de altura. Parece muito pesada. Em expectativa, aguardamos para saber o que contém. Ao sair a tampa, mostrou-nos o conteúdo: moedas americanas, de todos os valores. Enquanto ele contava o dinheiro, Jane e a amiga explicam que ele guardava absolutamente todas as moedas que recebia de troco, desde que chegou lá; que na primeira folga confeccionou o “cofre” de madeira forte, muito bem pregado, com a abertura comprida e fina para as moedas e que nunca tentou pescar nenhuma delas até esse dia. Quando ele terminou a contagem, havia 1.500 dólares e alguns cents!

Ohhhhhhhhhhhhhhs e vivas depois, a amiga Fernanda, muito entusiasmada, pergunta: “Robinho, você já contou daquela vez que você fez sociedade com o mendigo?”

E ele: “Ora, ele não era bem mendigo...”

“Como não era mendigo?! Conta aí!”, pede ela.

Ele começa:

“Foi logo que comecei a ganhar um pouco de dinheiro e fui abrir uma conta no City Bank"...

Continua...

terça-feira, setembro 19, 2006

As Aventuras de Robson

Robson é uma criatura energética como um puro-sangue árabe, ao mesmo tempo que transmite aquela calma e confiança de quem sabe exatamente o que está fazendo.
Mineiro de Sete Lagoas, há uns 12 anos, apaixonou-se completa e irremediavelmente por Jane, bela morena da mesma cidade, com quem se casou.
Conta ele que por essa época trabalhava para uma grande empresa como piloto e mecânico de aviões. Mas quando chegava o fim do mês, as contas eram maiores do que os ganhos e as dívidas começaram a crescer.
Decidido a melhorar suas finanças, chegou a pensar em aceitar uma oferta muitíssimo bem remunerada dessa mesma empresa, para ir exercer as mesmas funções no Mar do Norte. Antes de ir, porém, os companheiros de trabalho o alertaram para as condições de extrema dificuldade, por causa da temperatura em até 40º negativos e que os mecânicos de avião manuseiando ferramentas de precisão, acabam sendo obrigados a trabalhar sem as grossas luvas, resultando em rápido congelamento dos dedos, gangrena e amputação. Por esse motivo o salário é tão atraente...
Robson julgou seus dedos ágeis e competentes um preço muito alto apagar, "Afinal, eu vivo das minhas mãos", observou. Desistiu dessa, mas não se acomodou. O imenso desejo de proporcionar à Jane e a si mesmo uma vida melhor, forjou uma vontade de aço. Resolveu partir para Nova York, deixando Jane foi para a casa da mãe para esperar por ele.
Deixando no Brasil somente dívidas , aceitou sem pestanejar, um trabalho que outros brasileiros lhe indicaram, de cozinheiro em pequenos restaurantes. As altas temperaturas nas cozinhas minúsculas enxarcavam-no de seu próprio suor, mas assim mesmo ele saía do emprego noturno direto para o diurno, sem tempo para um banho ou para dormir. Desses primeiros empregos ele saiu para ser barman em um restaurante melhor, seu salário aumentou e ele começou a poder dormir um pouco.
Daí em diante, Robson foi galgando posições cada vez melhores, até ser descoberto por um dos donos do Metrazur, restaurante francês na Grand Station. Já falando um inglês razoável, mais sua atitude positiva e, principalmente, sua habilidade de faz-tudo, conquistaram inteiramente seu patrão, que se tornou seu amigo. Pois naquele país, ninguém faz mais do que aquilo para o que foi preparado.
Robson tornou-se ainda construtor, pintor, marceneiro, eletricista e até decorador da rede de restaurantes de seu chefe e depois, também dos amigos deste.
Tendo seu trabalho reconhecido, tem recebido dinheiro bastante para comprar e mobiliar, em Sete Lagoas, um ótimo apartamento de quatro dormitórios, enviando por navio, containers cheios dos mais modernos tipos de material de construção de que se tem notícia e eletrodomésticos da mais avançada tecnologia. Comprou também uma granja que já está em plena produção. Jane foi ficar com ele até poderem voltar para o Brasil definitivamente, o que ocorreu no final de setembro de 2004.
Nós o conhecemos em Nova York, no dia da viagem deles de volta, através de nossa filha Chris, que mora hoje no apartamento que ele alugava.
Robson deliciou-nos o dia todo com histórias de sua conquista da dura cidade de Nova York, que irei contando aqui.

A MULHER DE VERMELHO - O Quadro

A Mulher de Vermelho olha para fora da janela de seu quarto. Está mergulhada em uma tristeza tão grande quanto o mar que contempla e envolta numa aura de solidão.

segunda-feira, setembro 18, 2006

VIADUTO ARICANDUVA


(Pensamentos desconjuntados de um morador de rua) 



Viaduto Aricanduva em São Paulo






























Chupando a última uva
No Viaduto Aricanduva...
Poças de água da chuva
Encharcam os meus sapatos
Furados, comidos de ratos...

Sinto o solo trepidando,
A chuva vai acabando,
Deixando um frio paulista.
Olho pra baixo na pista...
Sinto turvar minha vista,
Carros passando, passando...
Tamanha velocidade
Desafia a sanidade,
Causa dor em minha alma.
Digo pra mim: tenha calma...
Tenha calma, tenha calma...

Venta muito, sinto frio,
Sinto um enorme vazio,
Sinto medo, sinto fome,
Não vejo mulher, nem homem...
Madrugada, estou sozinho,
Molhado até o colarinho
Da camisa muito usada,
Encontrada na calçada,
Dentro de um saco de lixo,
Cheirando igual a um bicho
Sarnento, abandonado,
Como eu, pobre coitado
Sem morada e sem destino...

Assustadora cidade,
Equívoca realidade
É São Paulo... um desatino...
Razão demais tem Caetano
Quando viu o lado insano
E definiu como avesso
Do final para o começo,
Este solo paulistano.
O avesso do avesso ...
Do avesso do avesso...

sábado, setembro 16, 2006

A MULHER DE VERMELHO

A MULHER DE VERMELHO


1930. Um quarto num sótão, com uma água-furtada. Paredes forradas de madeira clara. Em frente à janela, uma prateleira com pequenos vasos e frascos com flores.

Lá fora já é dia e uma neblina rala umedece o ar. Do ponto onde estamos, não podemos ver o que quer que seja da paisagem.

Mas o mesmo não acontece com a jovem mulher num vestido de algodão vermelho, decote redondo e mangas compridas. Seu corpo está em três-quartos, mas apresenta-nos o rosto em total perfil.

Em pé, ela olha através dos vidros fechados da janela. Estática, dá a impressão de ter passado toda a noite ali. Os cabelos fulvos, fartos e macios, penteados devagar e longamente, agora estão presos num coque frouxo.

A luz fraca da manhã que entra pela janela ilumina seu rosto e colo. Apoia o braço direito na prateleira em frente à janela, deixando pender a mão de dedos compridos e afilados. Sua face tão bonita está carregada de tristeza. Nos olhos de um azul intenso, uma lágrima antiga começa a brotar. O nariz avermelhado e os cantos da boca, quase imperceptívelmente puxados para baixo, transmitem um mudo desespêro e uma enorme resignação.

Em que pensa a mulher de vermelho? Porque chora? E o que vê lá fora, ou o que não vê?

NO FIO DA NAVALHA


NO FIO DA NAVALHA


Quem é que está andando no fio da navalha?
(Coro) É a nação, é a nação, é a nação...

Quem é que está votando nessa gente tão canalha?
(Coro) É o cidadão, é o cidadão, é o cidadão...

Quem é que pede pão e lhe atiram só migalha?
(Coro) É meu irmão, é meu irmão, é meu irmão...

Quem é que pede vida e recebe só mortalha?
(Coro) É o peão, é o peão, é o peão...

Quem é que por semana compra um quilo de feijão?
(Coro) É o povão, é o povão, é o povão...

Quem é que enche a barriga de ovas de esturjão?
(Coro) É o figurão, é o figurão, é o figurão...

Quem é que anda solto, livre e fora da prisão?
(Coro) É o ladrão, é o ladrão, é o ladrão...

Quem é que ainda crê num Palácio da Alvorada?
(Coro) É o bobão, é o bobão, é o bobão...

Quem é que ainda sobe aquela rampa da esplanada?
(Coro) É o canastrão, é o canastrão, é o canastrão...

Quem é que pensa ainda que a Justiça é sagrada?
(Coro) É o cabeção, é o cabeção, é o cabeção...

Quem é que está dançando tão igual a um joão-bobo?
(Coro) É o cidadão, é o cidadão, é o cidadão...


Quem é que está beijando aquela boca que é de lobo?
(Coro) É o pifão, é o pifão, é o pifão...


Quem é que está esperando aquele bico lá na Globo?
(Coro) É o garanhão, é o garanhão, é o garanhão...


Quem é que anda mostrando impropriamente seu traseiro?
(Coro) É o bufão, é o bufão, é o bufão...

Quem é que está fazendo aquilo tudo por dinheiro?
(Coro) Politicão, politicão, politicão...

Quem é que está votando de novo no torneiro?
(Coro) Aberração, aberração, aberração...


sexta-feira, setembro 15, 2006


Mulher

É amena, é bravia,
É a noite, é o dia,
É inteira, é fatia,
É Raquel e é a Lia...

É serena, é ansiosa,
É ferina, é amorosa,
É valente, é medrosa,
É gentil, é perigosa...

É violino, é orquestra,
É cidade, é floresta,
É sinistra, é a destra,
É discípula e a mestra...

É feliz e é felina,
É antiga, é menina,
É a lua, é neblina,
É real, é esterlina...

É fugaz, é permanente,
É a Eva, é a Serpente,
É furiosa, é carente,
É nascida e é matriz...

É certinha, é descuidada,
É o filé, é a salada,
É a sombra na calçada,

É o réu, é o juiz...

É Cassandra, é Medéia,
É malandra, é atéia,
É o Nada, é a idéia,

É gerânio, é flor-de-liz...

É a bruxa, é a fada,
É canção, é trovoada, 

É inimiga, é camarada,

É o ombro, é a risada...


É a massa, é a caça,
É a pedra, é a fumaça,
É a boca, é a mordaça,
É o vinho, é a taça...

É a graça, é a raça,
É o limão, é a cachaça,
É o banco, é a praça,
É o ódio, é amor...

É a dor, é indiferença,
É a fé, é a descrença,
É a vida, é a morte,
É tão frágil, é tão forte...

É espírito, é matéria,
É terrena, é etérea,
É riqueza, é miséria,

É esboço, arte final...

É volúvel, é constante,

É tangente, é secante,
Diapasão altissonante,
Fusa tridimensional...