quinta-feira, junho 28, 2007

TREINANDO A AUDIÇÃO


Olhos fechados, aguçando o ouvido. Dentro de casa, o silêncio.

Fora, o longo pio de um pássaro. Outra vez, bem perto. Mais ao longe, várias séries de quatro pios entremeados de um longo em uma nota que sobe e desce formando um arco de som. Os quatro pios são em duas notas (como do ré do ré... mi?). Deu pra entender? Assim: ♫♫ ♪ ♫♫ ♪ ♫♫ ♪ ♫♫ ♪
Zunido constante do trânsito longe, na Avenida, aumentando e diminuindo. Voz de mulher em comando rápido. E cessa de repente. Alguém martelando alguma coisa de madeira, marteladas de três em três, em série. Os pássaros.

Intervalo de silêncio. Só o trânsito não pára.

Um avião se aproxima, seu ruído desagradável chega em ondas de som entrecortado. Motor de um carro acelerando. O avião, por um segundo. Outro tipo de veículo mudando a marcha. Agora entra ao longe uma serra elétrica fizzzzzzzzzzzzzzzzzzzz... Reforma ou construção? O pássaro em quatro notas e pio longo. A mulher. Trânsito. Latidos agora, mais de um cachorro. São dois, em duas notas alternadas. Um longe, o outro mais longe. Latem sem parar. Um terceiro começa a ganir. Um dos cachorros, o que late mais fino, parece histérico. Agora cessa tudo. O avião. É outro avião.

Outros cachorros, latidos mais graves, mais próximos. O avião, em ondas, outro avião? Minha casa não é rota. O avião se afastando, longe. O problema dos controladores de vôo me vem à cabeça. Flashes das fotos nos jornais, de passageiros deitados, dormindo, no aeroporto de Congonhas. E a Marta Suplicy, em tudo que é piada com sua frase infeliz “Relaxe e goze”... dirigida a eles.

Outro avião. Terão mudado a rota? Outro, quase junto! Isso está ficando perigoso. Quando foi que um bateu a asa na asa do outro que estava parado na pista? Segunda? Terça? Um para e outro se movimentando para decolar? Nunca me dei conta de tantos aviões. Não moro perto do aeroporto.

Um minuto de silêncio e tudo recomeça. Um latido, outro avião passando ao longe calmamente, muito alto Outro motor acelerado várias vezes. O ruído surdo do trânsito lá em cima, na Avenida. Passarinhos variados. Latidos longínquos. Um carro. Novo pássaro em duas notas ♫ ♫ ♫ ♫ repetidas muitas vezes, com resposta igual de outro mais longe. Serão amigos conversando? Um ônibus. Outro avião, este feroz, turbinas a toda. Subindo ou aterrissando? Subindo, acho. O pássaro de duas notas não pára mais, só que agora intercala com uma nota só, interrogativa: ♫ ♪ ? ♫ ♪ ? ♫ ♪ ? ♫ ♪ ? Outro passa voando e gritando em várias notas iguais exclamativas, bem na minha janela ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! ♪! Seu piado vai sumindo rapidamente.

Outro avião. Deus! Está muito barulhento hoje! Este está quase em cima de minha casa, bem baixo, fazendo lembrar o 11 de Setembro. A serra elétrica fizzzzzzzzzzzzzzzzzzzz... Nem parece a minha casa, sempre tão silenciosa...

Agora outro intervalo de silêncio bem-vindo e relaxante, acalmando o sangue.
Lá longe, bem longe, um cachorro late um pouquinho.
A cidade se acalma, mas não pára.
Logo tudo recomeça.
Hoje ainda não ouvi o choro da criança do vizinho.
São Paulo estuante de vida.

Agora paro de ouvir e continuo escrevendo. Abstraio-me de tudo, até o meio dia. Quando os sinos da Igreja de Santo Antonio começam a tocar. Paro e ouço. É uma gravação de Ave Maria tocada por sinos, muito bonita. Todos os dias, ao meio dia e às seis da tarde, os sinos tocam lentamente e é muito gostoso ouvir. Três minutos e vinte segundos, contados no relógio. E, todos os dias, nas duas vezes, os sinos são acompanhados por um coral de cachorros, uivantes...

terça-feira, junho 26, 2007

Mini Top Model

4 POSES DE REBECCA PARA VOCÊ

segunda-feira, junho 25, 2007

Rebecca fez 5 meses em 17 de Junho

E ESTÁ LINDA! OLHOS E CABELINHOS CLAROS, AO SOL

quarta-feira, junho 20, 2007

Caindo n(o) Real $


Não faço parte do país da piada pronta

Policial não me amedronta, nem me afronta seu fuzil!

Pois não conheço Mendes Júnior, nem Gontijo

Meu salário é um desprestígio,

Ganho pouco mais de mil.

Mas o que importa para mim é o respeito,

Não riqueza, ou ser eleito Senador do meu país...

Eu me envergonho pelo povo desvalido,

Com promessas, iludido, por risonhos homens vis!

Será que um dia o país da piada pronta

Vai sair do faz de conta e eleger um Senador

Que seja honesto, idealista e ilibado,

E que mantenha no Senado a confiança do eleitor?

Torneio de Provérbios e Ditados

Cadeira antiga no quarto de D. Zélia, minha sogra


Sugiro aos Blogueiros Amigos e Comentaristas um torneio de Ditados Populares.


E com os comentários, podemos aprender alguma coisa.


Que acham?

domingo, junho 17, 2007

UM METRO E MEIO DE SABEDORIA

Foi desta foto que pintei o quadro

A foto é do dia do meu noivado. Ela sempre se vestia assim. Uma saia azul/cinza e uma blusa sem punhos, de algodão xadrezinho azul, por fora da saia. Feitas por ela mesma e, mais tarde quando já não enxergava mais, por uma costureira, a quem levávamos o tecido. E chinelos daquele tipo fechado, macio, azul marinho. Não queria outro tipo de roupa nem outro tipo de sapato. Era um pingo de gente com uma força espiritual difícil de encontrar, uma bondade e retidão infinitas, uma integridade à toda prova.
Cuidava pessoalmente de "seus pobres", que recebia em sua cozinha, da mesma maneira e na mesma cadeira em que recebia o prefeito Dr. Cyro de Albuquerque ou qualquer pessoa que a procurasse. Se fosse viva hoje, estaria descontente por estar feito estrela na Internet, pois também era profundamente modesta e retraída e não gostava de holofotes.
Em minha infância eu a considerava sábia, senhora de todas as respostas às minhas infindáveis perguntas. Era o meu dicionário, a minha grande médica, a maior conselheira e, principalmente, minha melhor amiga, a quem eu podia contar tudo e esperar compreensão e conselho. Em minha adolescência era a confidente de meus bailes, quando me esperava acordada para perguntar com quem eu dançara. Eu ia direto para o quarto dela, sentava-me num cantinho de sua cama de casal e contava tudo baixinho e entre risos, para não acordar papai. Ela ouvia com os olhinhos brilhantes e eu tinha prazer em contar a ela sobre os rapazes e minhas paquerazinhas. Minha amiga.
E não se cansava de servir a todos os que a procuravam.
Uma vez, de madrugada, ouvimos pancadas aflitas na janela do quarto que dava para a rua: — Dona Juventina, Dona Juventina, por favor me ajude! — Era o vizinho médico da casa ao lado, Dr. José Carvalho, desesperado pois seu filho Rubens, de dois anos na época, com febre alta, estava tendo convulsões, não havia farmácia aberta, não havia tempo para ir à Santa Casa e o pai doutor estava nervoso demais para saber o que fazer. Ela sem titubear correu à casa dele mandando preparar duas bacias com água quente e fria, o que era rápido, pois todas as casas ainda tinham fogão de lenha que aquecia a água o dia todo.
Despiu o menino e o mergulhou alternadamente nas duas bacias, quente e fria, quente e fria, até que as convulsões cessassem. O Dr. José disse depois que ela salvou a vida do filho dele.
Vi muitas vezes quando apareciam os "seus pobres" com tumores ou furúnculos para que ela os espremesse e curasse, ou com berne para que ela os tirasse, puxando aqueles horrores para fora com fumo de rolo ou toucinho, comprado às pressas na vendinha. Nenhum nojo, nenhuma hesitação. Fazia aquelas "cirurgias" com a maior serenidade e competência. Conhecia ervas e chás para tudo e gostava muito de homeopatia. Eu fui criada só com homeopatia, sem médicos. À vezes uma Cafiaspirina. Uma ou outra injeção de penicilina contra amidalite, receitadas por ela mesma. As únicas vacinas que tomei na vida foram a de varíola e a BCG, no ginásio. Mas vermífugos (medonhos) ela me dava todos os anos.
Numa tarde de verão uma das "suas pobres" chamada Maria chegou com a penca de 14 filhos, contando que nada tinham para comer há dias e que estava dando a eles apenas água e sal. Que também o sal acabara e então... tiveram de vir... — Será que a senhora... poderia... arrumar alguma coisa...? — pois o marido estava desempregado. Lembro-me da leve bronca que Maria levou por deixar as coisas chegarem a esse ponto. — Oh, Maria, por que não veio antes? Oh, meu Deus! — e sacudia a cabeça de um lado para o outro — e vocês passando fome! Não deixe isso acontecer mais! — E mamãe alimentou a todos e encheu um saco limpo de pano com pacotes de todo tipo de alimento: arroz, feijão, farinha de milho, café, bolachas, pão, açúcar, sal e ainda algumas batatas, cebolas e alho.
Nunca me esqueço do rosto crestado de sol dessa Maria, casada aos 13 anos e que aos 30, com um filho por ano, parecia uma velha, enrugada e sem nenhum dente na arcada superior, o longo cabelo já grisalho puxado para trás e enrolado num birote, por demais envergonhada por ter de pedir, por demais envergonhada por ter de aceitar. Uma velha aos trinta anos. — Dona Juventina, a senhora sabe da minha vida, a senhora sabe... — Nunca pude me esquecer de suas lágrimas correndo pelas rugas abaixo e de suas mãos tão maltratadas que seguraram a mãos de mamãe com doçura. E das suas crianças descalças, as mais velhas carregando as mais novas, as roupinhas tão rasgadas, remendadas, os rostinhos miúdos morenos de sol, descabelados e assustados como animaizinhos selvagens, todos cheirando fortemente a sol, suor e mato.
E da gorda lavadeira, dos meninos engraxates, dos mendigos e dos bêbados. Todos tinham sempre lá em casa um prato de comida. Um prato para cada dois, quando eram muitos, mas com dois grandes bifes e dois ovos fritos na hora além do arroz e feijão quentinho em cada prato. Dona Juventina, mamãezinha, não era rica, muito longe disso, mas a comida em casa não faltava e quando havia muitos pobres para comer, parece que essa comida se multiplicava.
Ajudou a criar duas filhas daquela Maria, e algumas outras crianças, além de mim. Mas tenho certeza de que nenhuma delas, ou nenhuma outra pessoa no mundo, nem mesmo seus sete filhos de verdade, ninguém a amou mais do que eu.

sábado, junho 16, 2007

Vovó "Gordinha"

Esta foto foi tirada quando a Maria Christina estava em Itapetininga, com a vovó por algum tempo. Não sei a data, mas a neta deve saber.
Que bonitinha, que saudade!

Uma Grande Mulher

Vovó Juventina Posted by Picasa


Não era uma belezinha?
Este quadro, muito criticado pelo Shiost, dei de presente para a Tia Pique, no aniversário em que ela fez oitenta, no ano passado. Mas vou pintar outro.
O querido Shiost tem mania de dizer que ela era magrinha e que aqui eu a pintei gordinha. Houve um tempo em que ela não estava tão magrinha, viu, Shiost? Eu é que sei, porque eu é morava com ela o tempo todo. E tenho uma foto em que ela está sentada no sofá com a Tia Santa e está quase gordinha... Vou procurar e publicar aqui.

sexta-feira, junho 15, 2007

Ainda o DICCIONÁRIO



















Veja a "ortographia" antiga. Isso me remonta à infância, quando mamãe me castigava por qualquer coisa errada que eu fazia. Ela possuía um livro do tempo deste dicionário, chamado "Compêndio de Civilidade", todo nessa "ortographia" antiga e procurava nele uma lição o mais possível parecida com a falta que eu acabara de cometer.
Então me fazia sentar à mesa de jantar, bem de frente para a janela de onde eu podia ver e ouvir as crianças (os Aguiar e os outros primos, Marcos e Mabel) correndo e brincando felizes, sem mim; e nessa mesa ela colocava o tinteiro com a caneta de pena daquelas antigas (quem se lembra?) e me fazia copiar a lição do Compêndio para que eu aprendesse a me comportar... E exigia que a letra fosse linda e sem NENHUM borrão. Dizia:
– Se cair algum borrão, mesmo pequeno, você vai escrever tudo de novo!
E lá ficava eu, copiando com um olho e olhando a correria lá fora com o outro e suspirando de cortar o coração de uma pedra... Conseguia chegar ao fim do enorme (na minha cabeça) texto e já antecipando a reentrada na brincadeira, molhava a caneta no tinteiro e... ponto final no trabalho, com alegria! Com tanta alegria que esquecia de ter aquele máximo cuidado... e... adivinhe, caía um pingo medonho, que eu não queria acreditar. A mão ia à boca, tentando abafar o susto. Mamãe vinha verificar, via o borrão, arrancava a página, amassava e simplesmente dizia:
– Pode começar de novo!
Desta vez eu iria ter mais cuidado. Não adiantava nem pensar em reclamar ou ... o quê?! me rebelar?!!! Eu nem conhecia a existência dessa palavra. Mas conhecia muito bem o significado de obedecer... Pois mamãe era a melhor das mães, mas ela pensava que eu seria a melhor das filhas se tivesse disciplina e obediência... E tudo aquilo era para meu bem!
Copiava tudo e, quando terminava já era quase noite e as crianças já teriam tomado seu banho e as brincadeiras ficariam para o dia seguinte. Era assim e estava acabado.
Nunca tive o menor problema a esse respeito. Nunca amei a ninguém como à mamãezinha, era uma verdadeira adoração; e sabia que ela me amava como a ninguém.
Estava tudo certo e, aquela falta cometida, aquela que me privara da brincadeira, nunca mais o seria, pois o terrível compêndio estava ali para me conter.
E também tenho a certeza e a consciência limpinha de ter sido uma boa filha, de nunca ter dado trabalho, nem na infância, nem na adolescência, muito menos na vida adulta.

quinta-feira, junho 14, 2007

DICCIONARIO DA LINGUA PORTUGUEZA


Este Diccionario é de 1813!

É o livro mais antigo que temos. Era do Vovô João.
Nós perdemos completamente a noção de que o Brasil foi um Império. Este dicionário, em dois volumes é do tempo em que D. Pedro I era Príncipe Regente.
















Para quem gosta de antiguidades, como nós aqui em casa, é um prato cheio.

terça-feira, junho 12, 2007

O Rei e os dois Príncipes

Prestem bastante atenção à foto da Família Real: as três mulheres se mostram inclinadas em direção ao Rei de Ouros. Parecem subjugadas a ele. E penso que assim era, naquela época. Ele era um homem muito forte. E os três homens, Vital inclusive estão eretos, firmes em suas posições. Que coisa!
Maravilha! É só olhar!

Família Real


















Olha só!

Vital Brasil Rodrigues de Aguiar e sua linda família. Vejam que ele não era tão alto como o pintei, na postagem anterior. Afinal, eu é que era pequena, aos cinco anos, quando estava querendo ver o Tesouro da Juventude...
Shiost tinha 15 anos com um incipiente bigodinho e ainda não atingira toda a sua altura. Estava "virando gente grande".
A Esther, olhando de lado, estaria pensando o quê? Parece que ela não gostava muito de ser fotografada. Quem me conta o que significava esse olhar? Ou será que o fotógrafo não foi paciente, não esperou que todos olhassem para a câmera? Que câmera era? Alguém se lembra?
Flávio José, com uns 21 ou 22 anos, já na Poli, era tão bonito, elegante e inteligente, que precisava se esconder por trás dos óculos sérios, para não ser abordado na rua por fãs adolescentes, penso eu.
Maria Christina era muito, muito bonita mesmo, parecia-se com a Claudia Cardinale, quem se lembra? Era a feliz possuidora de um corpo-violão, de cintura fina, do tipo Jane Russel e Marilyn. Não existem mais cinturas finas hoje em dia, você percebeu?
E Maria Cecília sempre foi a loirinha linda de olhos cinza-azulados mais doce do mundo. Quantos anos teria aqui, em 17 de Janeiro de 1960? Acabo de perguntar a ela: tinha acabado de completar 11. Que gracinha, não acha? Seu cabelinho era bem mais claro do que aparece nesta foto. Foi no ano anterior a esse que ela, brincando de dar voltas sobre um grande pneu deitado, caiu e a esferográfica que estava em sua mão ... o que aconteceu? Conte, Primacaçula! Você se lembra?

quinta-feira, junho 07, 2007

O Tesouro da Juventude


Eu era bem pequena, pois foi quando a Primacaçula nasceu. Devia ter uns 4 anos. Só sei que olhava lá para cima onde os livros estavam. Como era alta aquela estante impecável da sala impecável na casa em Pirassununga, onde ficavam os livros, os lindos livros que eu queria ver. Ficava olhando para eles querendo ver as figuras, as histórias. Não sei como começou, se tentei subir em alguma cadeira e ele me viu, não me lembro.

Mas jamais me esquecerei da cena que até hoje é nítida: o Vital tirando um dos volumes azuis, eu prendendo a respiração, ele me olhando lá de cima, eu com um medinho dele, ele era muito bravo. Então ele me manda sentar no sofá. Obedeço prontamente, as perninhas esticadas, pezinhos para a frente. Ele continua em pé e de toda a sua altura tremenda, diz:

— Antes de pegar neste livro, você precisa saber que um livro é um Tesouro. E aqui está escrito (mostrou a capa com as letras em baixo relevo, que seguia com o dedo, à medida que lia em voz alta para mim:) TESOURO da JUVENTUDE.

Assenti com a cabeça, terrificada. Meus olhos estavam arregalados.

— E além disso, você precisa aprender a lidar com ele. (Colocou o livro cuidadosamente no meu colo).

Nessa altura eu estava em alerta total.

E agora, você vai aprender como virar as páginas. Assim...

Pegou gentilmente o canto superior direito da página, usando o polegar e o dedo médio apenas para separá-la, enquanto o polegar e o indicador e depois os outros dedos corria por trás da página para virá-la, Oh! tão delicadamente. Ufa! Acompanhei atentamente toda a demonstração e olhei para os olhos dele, que continuou:

— Entendeu direitinho?

— Entendi... falei num fio de voz.

— Agora é sua vez. Vire uma página.

Fiz igualzinho, olhando em seguida para ele, insegura.

— Muito bem! Pode olhar o livro, agora.

E saiu. Ele saiu de perto! Deixou o Tesouro enorme nas minhas mãos pequenas e trêmulas e confiou que eu olharia o livro maravilhoso e pesado, sem amassar ou rasgar ou outra infelicidade qualquer. Ele confiou! Fiquei orgulhosa e cresci naquele momento. Eu também confiava, tinha a certeza de que nunca esqueceria aquela lição. Olhei o livro, virando as páginas do jeito que ele ensinou e vi todas as figuras (em preto e branco), desenhos lindos ilustrando as histórias de fadas e bruxas e príncipes e princesas e animais mágicos e o Livro dos Porquês e tanta coisa!

Essa cena foi marcante na minha infância.

Cada vez que alguma criança me pede para ver um livro, faço a mesma coisa. Peço para sentar e conto essa história que aconteceu comigo e me vejo nos olhos muito abertos dessa criança de hoje que está aprendendo como se trata um livro, qualquer livro, como se vira uma página, como se deve olhar para dentro do livro, que tem muito para nos dizer. Sinto que cada uma cresce nesse momento. Fiz o mesmo com meus filhos e a história se repete. Vou fazer com Rebecca, um dia.

SORTE ou AZAR

Lenda Chinesa

Na longínqua China, em um passado remoto, numa pobre aldeia, havia um menino cujo sonho era um cavalo. Porém os seus pais eram tão pobres, como todos na aldeia. Jamais poderiam realizar esse sonho. Mas o menino mantinha o seu sonho...
Certo dia passou pela estrada da aldeia uma tropa de cavalos. Havia nessa tropa um potrinho que estava atrapalhando a marcha. O dono desses cavalos todos ficou sabendo do sonho do menino e deu a ele o potrinho.
O povo da aldeia toda, ao saber da história, foi à cabana do jovem, para cumprimentar seu pai, dizendo:
— Seu filho tem muita sorte. Sonhou tanto que conseguiu realizar o seu sonho. É, seu filho tem muita sorte.”
— Pode ser sorte, pode ser azar...
filosofou o pai.
Durante dois anos o jovem cuidou do cavalo, que se tornou um belo garanhão e todos os viam galopar pelas pradarias. O jovem era feliz. Mas um dia, passou por lá uma égua fogosa e o garanhão a seguiu, desaparecendo com ela. O povo da aldeia disse ao pai do garoto que este "tinha muito azar!" O pai do jovem respondeu:
— Pode ser sorte, pode ser azar...
Um ano e meio depois voltam ao pasto o cavalo, a égua e mais um potrinho, fruto da união dos dois. Reza a lei das aldeias que os animais que entram numa propriedade, passam a fazer parte dessa propriedade. Portanto o jovem é agora, o dono destes animais todos.
A população inteira da aldeia diz ao pai que seu filho tem muita sorte. O pai do jovem diz:
— Pode ser sorte, pode ser azar...
Mais uma vez o jovem cuida com amor e carinho do outro potrinho. Quando este já está com dois anos, todos podiam ver ao longe o jovem cavalgando pelas pradarias. Num desses dias, uma cobra assusta o cavalo, que derruba o jovem de mau jeito. Ao cair, ele quebra as duas pernas. O povo da aldeia diz ao seu pai que o jovem "tem muito azar". O pai do jovem, serenamente responde:
— Pode ser sorte, pode ser azar...
Uma semana depois estoura uma guerra civil entre todas as aldeias do lugar. O garoto não foi, pois estava com as duas pernas quebradas. O povo da aldeia diz ao seu pai que “seu filho tem é uma danada de uma sorte”!
Moral da história: O pai do garoto era daquelas pessoas especialíssimas que sabem que a sorte ou o azar dependem do que vem depois. Podemos nos lembrar de vários casos de pessoas que perdem um vôo por qualquer motivo e o avião cai... Como diz a Primacaçula, nós sempre estamos no lugar e hora certos. E quando alguma coisa parece que deu errada, é só esperar um tempo, serenamente e veremos a verdade.

domingo, junho 03, 2007

Futebol




















Regina (goleira), Isaura, Heidi, Lenita, Nice e Daniel, o "técnico". Em baixo: Ana, Deise, Rosa e Verinha. Acho que a gente jogava só com 9 nesse ano. 

Respondendo à pergunta do Timtim, da postagem LENITA, se eu jogava futebol:


Nos primeiros anos, logo no começo da Olimpíada dos Coroas, que era uma grande piada, os Coordenadores resolveram acrescentar algumas modalidades como o futebol de campo, futebol de salão e snooker feminino, só de maldade, porque naquele tempo as senhoras não jogavam essas coisas tão típicamente masculinas. E eles queriam se divertir às nossas custas.
Mas algumas dessas senhoras eram "coroas" (30 anos) há muito pouco tempo, um tanto feministas e muito aguerridas e adoraram poder jogar principalmente o futebol. Só que, no primeiro ano a 51, que era a equipe mais light e divertida, não tinha o número necessário de jogadoras e quem foi "pegada a laço" nesse caso fui eu que, incauta, pretendia só observar e torcer, curiosíssima. O jogo não podia começar, enquanto não conseguissem completar o número.
- Olha lá, tem a Nice ali! "Põe ela"! Nice, vem cá! berrou a goleira.
- Nããããão, de jeito nenhum! Nem sei como se joga isso! Não gosto, arruma outra! Por favor! Nããããaoooooo! implorava eu enquanto era arrastada para o campo.
- NÃO TEM MAIS NINGUÉM! Você não vai querer que a gente leve um WO!
- Mas eu não sei nem por onde começar, não corro, não sei as regras. Gente, por favor!
Mas nesta altura eu já estava lá no meio do campo, quase carregada e completamente apavorada. A capitã da equipe, Regina, a goleira, ordenou:
- Põe ela aqui perto do gol! Vem cá, Nice, que aqui não precisa correr!
Obediente, fui para perto do gol como um condenado ao cadafalso e perguntei:
- E agora? Faço o que?
- Agora você fica aí parada e quando chutarem a bola pro gol, você não deixa passar!
- Só isso?
- Só isso! Suspirei aliviada. Não ser tão mau assim. Até dava para encarar...
Regina, o Dínamo, estava nervosa. Ela jogava tudo e a equipe contava com ela. Eu só faltava chorar, porque a platéia masculina ria prá valer! Morri de vergonha. Minha timidez de adolescente voltou com tudo e tomou conta. Precisei de toda a minha força de vontade para disfarçar. Eu queria um buraco para me esconder. Sabia que meu rosto pegava fogo, vermelho como a camiseta. Mas reagi e resolvi fazer o melhor que pudesse. O que não tem remédio...
O jogo começou. Corre prá cá, corre prá lá, a mulherada desajeitada, a bola dando um baile, Lenita atrás, Deise e Heidi se chocaram violentamente e foram ao chão, a bola sobrou prá Lenita , que fez nosso primeiro gol.
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLLLLAÇO! Cinqüenta e Um! Cinqüenta e Um! A torcida vibrava, a outra vaiava. Eu, sem graça perto do gol, até fiquei um pouco mais animada, pois nem precisei sair do lugar...
Mas a equipe adversária que era nada mais nada menos do que a Sanguessuga, muito melhor que a nossa, pois eram jogadoras de Vôlei, cheias de garra e donas da melhor forma física do clube, veio buscar o gol. Depois de muitas cabeçadas, quedas, gritos, mulherada se atropelando, platéia chorando de rir, correria e tudo o mais, de repente alguém chutou a bola para o nosso gol. Regina, a goleira, gritou:
- Pega!!!!!!! Pega!!!!!!!! Depressa, pega a bola, Nice!!!!!! Não deixa passar!!!!!!!
Atordoada, peguei... com as mãos... E fiquei agarrada a ela, segurando com toda a força até o juiz apitar, chegar perto, retirá-la das minhas garras, levantando um braço e berrando:
- Pêêêênalti! E se matava de rir.
A "galera" masculina explodia na risada. Minhas companheiras queriam me matar... Os olhos apertados me fuzilavam... Só Lenita me me deu aquele olharzinho de "não esquenta, tudo bem, é tudo brincadeira...
Mas eu queria entender o que tinha feito de errado:
- Como pênalti? Quê que é isso?
- Você pegou a bola com a mão.
- E daí? Ela mandou pegar!
-Daí que é pênalti! E perdia o fôlego de tanto rir.
- Iiiiiiihhhhhhh, desculpa, gente. Eu falei prá vocês! Que eu não sei! Não quero mais!
Parece mentira, mas realmente eu não entendia "nadica de nada". E até hoje não entendo, porque não me interessa mesmo. Sempre assisti aos jogos do Brasil e só. Torço, mas não entendo. Nem me envergonho... Sei que os nossos jogadores têm nossas cores, mas quando jogam contra Austrália, fica difícil...
É claro que naquele dia fui obrigada a jogar até o fim, porque não havia outro jeito. Perdemos fragorosamente, viramos assunto de piadas e cada vez que eu passava perto de alguns sócios desconhecidos, sempre tinha alguém que apontava :
- Olha ela! Aquela ali que fez o pênalti! E todo mundo ria.
Por isso, minha carreira no futebol nasceu morta... Nunca mais me escalaram.

sábado, junho 02, 2007

Amigos Blogueiros e Comentaristas
















Faço questão de ignorar o que é um blog, no sentido exato da palavra. Parece que não sei nada sobre isso e o Turini diz que estamos todos fazendo uma coisa diferente dos outros.
Aqui, na nossa Praça de Blogs, conseguimos fazer amigos, pois é isso o que sinto a respeito de cada um de vocês.
Aqui mostramos pedacinhos de nossa alma, para cá trazemos e abrimos caixas e mais caixas de nossas vidas e mostramos de cada vez um pouco mais os tesouros de sentimentos, sonhos, medos, coragem, lutas, problemas e soluções; enfim a bagagem mais valiosa, verdadeira e importante que é tudo o que temos, e o que levaremos (ou deixaremos) da vida.
Tenho de dizer a cada um o quanto têm sido reconfortantes e gratificantes estes papos por aqui na nossa Praça, que é um delicioso ponto de encontro.
Mesmo sem deixar nenhuma marca de sua visita, algumas pessoas muito queridas têm passado e depois me contam. Dizem que não conseguiram deixar comentários, ou porque não entendem de blogs ou porque outro motivo qualquer.
Às vezes falta um ou outro dos mais fiéis, não é, Timtim, Shiost, Zecão, Primacaçula, Turini, Chris, Alê, Andréa, Ana Cristina, Lala, Rita e Renato, Danilo, Érika, Camila, Fabiane, Rodrigo, Nádia (Norinha), Flávio Rubens e alguns outros.
Mas quando voltam, que alegria!
Isso não quer dizer que seus comentários devam ser aprovadores, absolutamente, pois nada na vida é 100% aprovação... E aqui é a Vida, do jeitinho que mais gosto.

Abraço carinhoso a todos.