sexta-feira, maio 29, 2009

A PEQUENA LOJA NUMA RUA ESCURA


Estou andando por uma rua pouco iluminada. Já anoiteceu e cai uma chuva fina de fim de outono. Poucos são os transeuntes, envolvidos em pesados casacos e sobretudos. O comércio fechou suas portas há algum tempo. Por isso tive a atenção despertada ao atravessar uma rua estreita e deserta, em que brilhava a luz solitária de uma lojinha, aberta ainda. Após alguma hesitação, dirijo-me para lá, passando entre altos muros, portas antigas e venezianas fechadas. O silêncio é absoluto e envolvente.

A loja, fracamente iluminada, parece pequena, mas em sua vitrine há uma variedade de objetos incoerentes. Tento inutilmente encontrar uma ligação entre eles; brinquedos e camafeus, tecidos finos e lindas caixinhas de vários tamanhos; fitas de cetim e blusas de cashmere; roupinhas de bebê e um punhal de punho rebuscado; caixas de costura e um copo de cristal; echarpes e uma estatueta em resina transparente representando uma bela cabeça feminina, mas que surpreende portando uma peruca de cabelos maravilhosos; um vaso de rosas frescas num canto e muito mais. “Um bazar oriental” — concluo surpresa, intrigada e muito interessada, pois tudo é de alta qualidade e gosto apurado.

O tempo parou. Estou tão entretida que mal percebo o velhinho de cabelos brancos revoltos e olhos sábios, que me convida a entrar. Diz que essa não é uma loja comum, pois posso escolher alguma peça, apenas uma entre as preferidas, para levar comigo, se quiser e, que o único pagamento é deixar alguma coisa em troca. Franzo as sobrancelhas, sem acreditar... Ele explica que a loja tem de tudo o que há no mundo. Sorrio do exagero, cativada, mas penso que há alguma coisa estranha.

Entro e fico instantaneamente maravilhada com a temperatura perfeita, o colorido, o perfume das rosas, a suave luz indireta e a música no ar, ao fundo. A loja, que parece pequena por fora, tem vários recintos e cantos atulhados de coisas diferentes e raras. O velhinho acompanha-me só até a primeira sala e me aconselha a ficar à vontade e a não me preocupar com o tempo, pois não pretende fechar antes da meia noite. Andando devagar pelo piso inteiramente coberto por tapetes macios, entrego-me ao privilégio de examinar cada peça com cuidado: porcelanas finíssimas, pratos sofisticados, talheres de prata e de ouro, principescos, vasos de alabastro, estatuetas de âmbar, mármore e bronze, um lindíssimo Buda, tiaras e coroas reais, incrustadas de pérolas, rubis e safiras, colares e anéis de diamantes, pulseiras.. “Devo estar sonhando”, penso... Rolos de seda, lãs, rendas preciosas; coleções de objetos raros, livros em primeira edição, CDs, DVDs, fitas de vídeo, velhos discos LP e raridades em 78 rotações; sapatilhas de balé, botas pesadas para montanha e para neve; sinos de latão e bronze em vários tamanhos e desenhos, cincerros e apitos; um ou outro instrumento musical, entre eles um dourado saxofone que me atraiu muito. Paro de resistir ou julgar e resolvo entrar na brincadeira.

Continuo andando, cada vez mais deslumbrada com a gama de tesouros. Não consigo me decidir. “O velhinho disse que posso levar qualquer coisa”. Mentalmente, anoto algumas opções: uma máquina de costura, uma xícara de porcelana, ou aquela sopeira que sempre desejei; um sino; aquela echarpe de lã macia e leve como pluma, o livro pequeno e antigo, o saxofone ou... o cavalo! (ora, um cavalo de verdade, como diz o cartaz com a foto e o pedigree, não posso acreditar!) ou a passagem com estadia para aquela praia de sonho no Caribe, ou ainda o cruzeiro para as Ilhas Gregas. Experimento não raciocinar mais, estou transportada para um estado de euforia diferente de qualquer outro. “Isto é magia pura: todos os meus sonhos, desde criança, estão ali, à minha disposição, será possível?” E de repente, já estou querendo checar: “será que vou encontrar o sonho mais divertido que já tive: “o meu Jaguar”? Nem bem pensei e lá estava ele: entre outros carros, um Jaguar do modelo e cor exatos do velho sonho, o “meu” carro, meu sonho secreto que nunca pensei realizar. Sorri para a idéia. “Poderia ser meu agora?!” Imagino-o na minha garagem. Imagino minhas mãos no volante, ruas e paisagens passando pela janela. Sinto a tentação de levá-lo. Mas quero ver mais e continuo andando, o Jaguar engrossando a lista mental.

A próxima sala é apenas um canto com prateleiras, papéis e fotos. Um discreto cartaz diz que você pode ter aquelas coisas, no momento em que quiser. Isso é mesmo incrível! São escrituras de imóveis de todo tipo, desde pequeninas cabanas de caça, casas, apartamentos ou palácios e até castelos, “no estado”... tudo ilustrado com fotos coloridas. Há também fazendas, chácaras e propriedades rurais, de tamanhos diversos. E, no último canto, moedas antigas, de ouro e prata. “Não, isso não existe, não pode ser! A brincadeira já vai longe demais. Mas... pensando melhor, tudo isso apenas significa, nada mais nada menos, do que objetos de troca”... — mas saio dali.

A última sala, ao fundo, parece abandonada em relação às outras. Penso que deve ser um depósito e estou quase virando as costas, quando o velho e conhecido arrepio me eriça a nuca. “Vou entrar sim, vou ver tudo e no fim decido entre as coisas que já escolhi; estou me divertindo muito e ansiosa para ver como o velhinho vai resolver a situação”.

Nesta sala não há tapetes e o piso de madeira lavada e cinzenta está empoeirado, assim como as prateleiras e as poucas peças, toscas e sem graça em comparação com a riqueza e brilho das salas anteriores. “Estou certa de que ninguém chega até aqui, devem correr os olhos e voltar correndo para os sonhos maiores. Mas vamos ver o que está guardado aqui tão displicentemente... Ninguém limpa esta sala? Tanta poeira...” Vou observando: uma pluma de cauda de pavão, uma de faisão, um livro grosso e pesado de capa muito manuseada, pequenos seixos pardos de rio, uma carta de amor amarelada dirigida a alguém chamado Henry, uma velha colcha de retalhos, um dedal meio amassado, um par de óculos de aros dourados, uma ponta de cobre de soldadeira antiga, um pé de sapateiro, um par de sapatilhas de balé muito usada, uma cesta de junco com tampa, muito estragada, dois ferros antigos de brasa, de passar roupa; um grande pilão rachado com mão em madeira de lei muito polida; algumas campainhas de bicicleta, algumas chaves de todos os tamanhos, pedaços de arame de várias espessuras, uma taça de cristal antigo, embaçada de dar dó, um pequeno baú feito à mão, de madeira escurecida e lascada à faca... Novo arrepio na nuca, este mais forte.

Paro bruscamente. Pego o baú. Sinto seu peso, espano a poeira. — “Parece um cofre em miniatura do tesouro de piratas...” Não tem mais de 25 centímetros e é de madeira maciça, a tampa arredondada. O fecho de ferro parece que aderiu, pois não se solta. Reviro-o entre as mãos e alguma coisa se mexe lá dentro e cai no forro da tampa, fazendo um barulhinho surdo. “Deve ter um forro macio, talvez veludo...”. Percorro sua superfície com dedos e olhos, apertando cada tacha e cada saliência e nada do fecho abrir. “Deve ter um segredo” — pensei. Depois de longa manipulação sem resultado, acabo desistindo e o recoloco no lugar.

Sigo em frente, olhando as outras coisas, mas não consigo ver mais nada. O bauzinho cresce em minha mente e exerce agora uma desafiadora atração, de problema não resolvido. Volto atrás e o seguro, decidida a abri-lo, custe o que custar. Uso força, uso as unhas, mas nada acontece. Examino bem cada milímetro e descubro logo abaixo do fecho meio enferrujado, uma fenda vertical quase imperceptível na madeira, de quase um centímetro por nem dois milímetros. “Pode ser uma fechadura, mas onde está a chave? Tem de ser uma chave bem estreita para caber nessa fenda..”. Mas não vejo nenhuma chave. “É claro que tem chave! Pode estar na coleção!” A lembrança vem num átimo.

Levando o bauzinho, vou até o canto da coleção de chaves avulsas de todos os tamanhos e escolho a menor, mas não é fina o suficiente, não entra. Onde estará a chave perdida? Procuro na prateleira do bauzinho, mas no espaço vago não há nada. Outra idéia vem à cabeça: “Quem sabe caiu no chão?” A sala é mal iluminada e preciso me ajoelhar no chão sujo de tábuas nuas e ásperas. “Inútil. Nem sombra de chave. Foi perdida”. Fico desolada, mas agora, não mais desisto: “Pense! Pense! Vamos"!” Mais uma idéia chega: “Na prateleira, por trás, não olhei direito!” Passo a mão, levanto os objetos vizinhos. “Nada! Não há nada!” Mas olhando melhor, há um vão entre a prateleira e a parede, mas só se vê poeira. Passo as unhas, que ficam em estado lastimável. Mas isso também não resolve. Outra idéia acode: “Os arames! É preciso ir mais fundo!” Corro buscar, virei criança e estou gostando disso. Escolho um pedaço forte e fino e volto ao vão da prateleira, rente à parede. Corro o pedaço de arame, até encontrar algo. Bingo! Um objeto de metal, deslocado em meio à poeira acumulada, depois de limpo faz surgir uma pequena e estreita chave, de complicado perfil. Coloco-a na fenda e parece que ela é sugada, de tão certinha. Ajeita-se e gira com uma leve pressão, como se estivesse azeitada. Clique! O fecho salta e a tampa se abre.

Dentro, em seu berço de veludo negro intocado pelo tempo, repousa a mais linda chave que já vi em toda a minha vida. Meus olhos enchem-se de lágrimas, sem motivo. Ao lado dela um rolinho de papel tão fino e transparente que, ao ser aberto, quase se desfaz. Nele, algumas palavras num idioma desconhecido. Eu tinha de descobrir o que estava escrito. Não há mais nenhuma dúvida. Nesse momento jogo fora as anotações mentais, o cavalo, as viagens, a porcelana e o Jaguar. Quero o baú. Não sei por quê. Não importa. Só sei que estou profundamente emocionada e que desejo aquela chave, com todas as minhas forças. E o significado das palavras. Com o baú nas mãos, fui conversar com o velhinho e buscar dele a solução do enigma.

— Você fez uma excelente escolha, minha filha. São poucas as pessoas que encontram esta rua e esta loja e, entre essas pessoas, são raras as que escolhem com sabedoria.

Mostro a ele o papel com as palavras e ele conta que a pessoa que trocou isso há muito tempo, traduziu: — Esta é a chave de todas as Idéias — e eu acrescento que, de todas as riquezas, esta é a maior, pois se multiplica.

— Você poderá criar o que quiser, com essa chave – diz ele. - Como esta é uma loja de trocas, não se usa dinheiro como valor, mas apenas objetos. Mas as pessoas enganam-se, pois não são elas que trocam os objetos, mas são eles que vêm aqui para trocar de guardião. Você leva a chave no baú e deixa alguma coisa de que você é guardiã. Não precisa estar com ela agora”.

Fico em silêncio, durante alguns segundos pensando “o que poderei dar em troca que seja tão valioso quanto este baú e seu conteúdo... O quê será suficiente?”

Adivinhando meu pensamento, o velhinho repetiu: — Não se preocupe minha filha. O valor dos objetos é relativo. Na última sala estão os mais significativos, na verdade, pois pertenceram a pessoas muito especiais. Só é preciso saber enxergar. Alguma coisa sob sua guarda está querendo trocar de guardião. Por isso, você encontrou a loja. O principal é que ela lhe tenha servido muito bem e que lhe seja importante. Você saberá. E voltará aqui para trazê-la. Algumas pessoas trocam coisas por dinheiro, ou cheques, pois não conseguem compreender o verdadeiro valor das coisas.

Realmente, assim foi. Ao voltar àquela rua dois dias depois com um objeto interessante e muito querido, entreguei-o ao velhinho que o recebeu sorridente, recomendando que eu não divulgasse o nome ou o valor desse objeto a ninguém, pois isso não fazia diferença nenhuma para o objeto, mas seria fundamental no bom resultado da troca.

Até hoje sou guardiã da chave, que já me abriu portas de idéias incríveis.

Uma semana depois dos fatos que relatei, tentei encontrar a ruela só para conversar com o velhinho, mas por mais que tentasse, não conseguia me lembrar do endereço, pois nenhum dos objetos que estava comigo queria trocar de guardião. Também nunca mais me referi a coisa alguma como sendo “minha”.

terça-feira, maio 19, 2009

O Moço da Locadora

— Reconhecimento de um ser humano sensível —

Há uma locadora muito boa perto de minha casa, onde trabalha um jovem chamado Danilo. Ele está lá para ajudar os clientes a encontrar os filmes que desejam. Muitas vezes os clientes sabem o tipo de filme que desejam ver, mas não se lembram do nome ou já viram muitos filmes e estão indecisos. Eu sou uma dessas pessoas.
Danilo sempre vem em meu socorro, amável e solícito. Parece que já assistiu a quase todos os filmes da locadora e sabe sempre indicar um dos bons. Está sempre de bom humor e de boa vontade. Perde comigo seguramente mais de meia hora de cada vez, pois engrenamos num papo sobre este ou aquele filme, falando do livro em que se baseou e por aí além.
Tenho notado cada vez mais, que a sensibilidade desse rapaz é de uma frequência tão alta quanto pode ser a de um ser humano.
Suponho que ele tenha conhecimento disso, mas expressada por outra pessoa, uma avaliação destas cresce na mesma medida em que é feita.
Suponho também que essa sensibilidade pode ter-lhe causado transtornos e até ocasional sofrimento. Mas isso apenas o engrandece e acrescenta capítulos importantes à sua própria história de vida. Não sei se ele sabe disto.
Pude perceber que ele observa e avalia cada pessoa, indicando a cada uma o filme adequado para o gosto dela. Fiquei ontem na fila esperando pela sua orientação e constatei isso facilmente. E mais, vi que ele consegue ler o coração dos clientes da locadora, com uma capacidade psicológica de que Jung ou Freud teriam inveja.
O filme que ele me indicou no sábado passado, como sendo um dos que mais apreciou e que o marcaram, é um dos filmes mais belos e fascinantes que assisti até hoje.
Mas, nesse mesmo dia, pela primeira vez, vi no Danilo uma aura de melancolia. Pude sentir a tristeza que lhe pesava no olhar e que o envolvia como uma neblina, num raio de dois metros. Atendia às solicitações de seus clientes com a mesma cálida atenção, mas um nadinha ausente.
Alguma pedra machucou-o em seu caminho, alguma frustração ou rejeição, ou talvez alguma palavra de grosseria. Alguma coisa que o fez sentir-se cansado de tudo, que amargou seu dia e lhe tirou momentaneamente a paz.
Senti que ele desejava estar longe dali, sozinho, num lugar tão zen quanto o pequeno monastério flutuante no meio do lago, do filme que me indicou, quando me disse algo mais ou menos assim: “Este filme é muito bom. É a história de um velho monge que, ao ver seu pequeno discípulo maltratando animaizinhos, corrige o menino sem violência, nem aspereza, e a forma que ele usa para ensinar ao menino é a coisa mais linda e interessante que eu já vi.” Seus olhos brilharam e criaram vida ao dizer isso, quase com o entusiasmo de sempre.
Imediatamente incluí esse filme entre os outros e, mais uma vez, ele provou sua competência. Vi o filme à noite e fiquei maravilhada. Cada cena é delicadamente conduzida numa direção perfeita, cada gesto, cada elemento é colocado de maneira a fazer pensar.
Ao acordar no domingo, as mensagens sutis e enigmáticas dessa obra de arte já estavam impressas indelevelmente em minha memória, iluminando cada minuto do meu dia, enquanto tentava durante várias horas decifrar os significados.
Isso, em minha opinião, é que se pede de um filme, ou de um livro — a lembrança que perdura e que impregna a alma.
Mas o rapaz, Danilo, estava triste e magoado.
E isso também não saiu de minha mente.

sexta-feira, maio 15, 2009

A Família da Rebecca

























Família Barth Prentice
Depois das aranhas, para embelezar meu blog...

quinta-feira, maio 14, 2009

Olhem a Fera!




Uma verdadeira fera, a Armadeira! Estas fotos não são minhas, emprestei da Internet para mostrar a vocês.
Esta está dentro da caixa de vidro, exatamente como ficam lá no Butantã.



E aqui uma outra, que está tranquila, sentindo-se em casa, andando no braço do homem corajoso e destemido que ou adora esses bichos (tem muita gente que cria em casa para mostrar aos amigos...) ou então... trabalha no Butantã.
As quelíceras são aquelas duas partes avermelhadas que estão viradas para baixo quando ela não está atacando e por isso vocês não podem ver os ferrões.

segunda-feira, maio 11, 2009

Acabei com elas!

Durante mais de vinte anos entreguei ao Instituto Butantã mais de quarenta aranhas Lycosa Tarantula e duas Phoneutria Nigriventer (Armadeira), todas capturadas dentro de minha casa, na parte térrea.
A Lycosa pode atingir uns 5 cm, mas não é agressiva e deixa-se apanhar facilmente, com vidro de boca larga, como os de maionese.
Mas a Armadeira, que atinge até 17 cm, além de perigosa é extremamente belicosa, saltando até 40 cm na direção da pessoa que tenta capturá-la. Ela apoia-se nas quatro pernas traseiras e levanta-se nas quatro dianteiras, "armando" o bote. É impressionante a cena. E então, ela pode saltar para cima da gente. Nenhuma outra aranha sobe pelo vidro, mas a Armadeira sobe. Por isso o vidro deve ser grande e ficar muito bem fechado. Essa aranha pode matar um cachorro em quinze minutos, assim também uma criança pequena. Existe o soro antiaracnídeo, mas o problema é o tempo rápido em que o veneno age.
Para capturar as duas que apareceram em casa, uma de cada vez, meu filho mais velho, Flávio, teve de me "assessorar", ficando na frente da fera para distraí-la, a uma distância segura de 1,5 m, ela de bote armado e dançando de brava, as quelíceras vermelhas providas de ferrões com a aparência de espinhos apontadas para ele (que tinha treze anos na época). Eu, por trás dela, cobri-a com o vidro de boca para baixo, segurando firme; o Flávio então deslisou o pedaço de cartolina grossa por baixo do vidro. Em seguida, virei o vidro com o cartão por cima e coloquei a tampa, deslisando por baixo dela o cartão já manchado com duas gotas de veneno. Ufa! Conseguimos! E a adrenalina fervia no sangue da gente... A ferinha dentro do vidro continuou armando o bote o tempo todo, atirando-se na tampa do vidro. Azar dela, ficou sem água... Mas eu não iria arriscar nossa segurança destampando o vidro para jogar lá dentro o algodão com água.
A segunda, que apareceu alguns dias depois, foi mais fácil; a equipe de mãe e filho já aprendera. O Flávio já me ajudava a pegar tarantulas há bastante tempo e já não tinha medo delas. Mas pedi a ele que me chamasse para pegarmos juntos as armadeiras que aparecessem. Só que nunca mais vimos outra.
Aos poucos, à medida que pegávamos vivas tais "belezinhas", parece que um boca-a-boca foi correndo entre elas, que foram rareando e acabaram desaparecendo do jardim. Mudaram de endereço! Nunca houve qualquer acidente, nem com os jardineiros que passaram por aqui, nem com os cachorros ou gatos.
Mas como não há bem que sempre dure, já estão aparecendo novamente alguns filhotes. Sabendo que cada fêmea põe mil ovos, tendo a empregada matado um recentemente, restam novecentos e noventa e nove...

sábado, maio 02, 2009

Aranhas no meu jardim!


Quando me mudei para esta casa, há quase trinta e três anos, tinha como vizinhos apenas terrenos baldios. Minhas vizinhas e companheiras de jardim eram as aranhas... muitas aranhas! E também uma cobra que apareceu, de uma cor amarela-esverdeada e que, literalmente, "saiu pelo cano" pulando no Nelson, que se assustou muito.
Tinha chovido muito e um dos ralos do jardim estava entupido; o Nelson pegou um cabo de vassoura e começou a cutucar, quando uma cobra de uns 60 cm subiu rapidamente pelo cabo e quase passou para o braço do Nelson! Se ele não tivesse dado um grande pulo para trás, talvez tivesse sido mordido, pois a cobrinha estava bem ouriçada com os cutucões.
A nossa empregada na época, Geni, mineira de boa cepa, acostumada a “matar a cobra e mostrar o...” cabo da vassoura (...) deu um fim bem triste na cobrazinha. Como toda mulher que consegue matar uma cobra, ela golpeou a cabeça da infeliz até não restar nada que identificasse se era triangular e, por conseguinte, venenosa.
E era a única coisa que eu sabia sobre cobras: se a cabeça for triangular e a cauda afinar abruptamente, corra, saia de perto, ou pegue um galho suficientemente comprido e tente matá-la. Confesso que não seria capaz de matar uma dessas... preferiria sair de perto.
A Geni colocou o cadaverzinho dentro de um vidro grande, tampou bem (para que? de medo que ela revivesse e se tornasse uma "cobra sem cabeça?”) e eu parti imediatamente para o Instituto Butantã, que fica aqui pertinho para que eles analisassem os restos mortais e me tranqüilizasse. Afinal meus quatro filhos tinham entre um ano e meio e dez anos!
Procurei a seção de cobras e fui atendida por um senhor de uns quarenta anos que ao ver o corpo dentro do vidro e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, perguntou “Por que alguém teve de matar a coitadinha? É uma cobra d’água, não venenosa e inofensiva!”
— Mas ela quis morder meu marido! Defendi. E contei como tinha sido.
O homem sacudiu a cabeça e me pediu para esperar um minuto. Foi lá dentro e voltou com três cobrinhas amarelas esverdeadas enroladas em seu braço, na maior amizade...
— Está vendo? Elas são inofensivas!... Quer pegar uma?
— Deus me livre! — recuei. O senhor disse que elas não mordem... não mesmo?
— Até mordem, se forem atacadas, como foi o caso do seu marido, mas não são venenosas, como já falei. Estas cobras não são problema no Morumbi. O problema grave mesmo são as aranhas. Você tem aranhas em casa?
Arrepiei-me toda.
— Já vi várias desde que nos mudamos para a casa nova. Uma delas, deste tamanho — e mostrei uma circunferência de oito centímetros — estava na copa, passando por baixo da minha cadeira.
Ele perguntou mais detalhes da invasora, falei e ele ficou preocupado.
— Vá ali na frente, na seção das aranhas e veja se as suas são iguais a algumas delas e converse com o encarregado.
Meu Deus! Acho que ninguém “gosta” de aranhas, mas ali estava um pesadelo de horror para ninguém botar defeito!
Logo na saleta da frente, onde o encarregado atendia por um tipo de guichê, podia-se ver numa vitrine vários espécimes vivos e diferentes.
Fui tomada por aquela atração do terror que esses bichos nos infundem. Minha curiosidade e vontade de conhecer para poder lidar com elas e defender meus rebentos foi maior que o pavor-pânico que sempre senti por aranhas.
Ali aprendi que a terceira aranha mais venenosa e perigosa para o ser humano é a aranhinha marrom e que a enorme e peluda caranguejeira não oferece perigo (é venenosa, mas sua peçonha não é ativa no homem. Não é agressiva, não ataca, mas se for pisada ou maltratada tratará de se defender...)
Aprendi também que as aranhas (muitas) do gramado da minha casa estavam no pódio, em segundo lugar. Aprendi que a aranha de grama é denominada Lycosa tarantula (Que coisa, pensei, tenho tarantulas aos montes em casa...) e crianças pequenas!
— E agora? — perguntei ao encarregado — O que eu faço? O Butantã vai mandar alguém fazer uma limpeza, matar, pegar, o quê?
— Não! O Butantã não faz nada disso. Nosso trabalho é aqui com as aranhas que as pessoas pegam VIVAS e trazem.
— VIVAS?!
— Vivas sim! Para que nós possamos tirar o veneno delas todos os dias. São necessárias muitas aranhas, para que juntemos a quantidade de veneno que precisamos para o soro anti-aracnídeo. Voluntários trazem aranhas todos os dias. E cobras e escorpiões, lacraias... No Morumbi tem muitos escorpiões. Você tem algum em casa?
— Ai... Não! Pelo menos ainda não vi nenhum...
— Bem. Sua casa é nova, mas cuidado com entulho, lenha para lareira, escorpião adora uma lenha perto do fogo...
E ele me deu uma aula sobre como caçar vivas as aranhas e escorpiões, com um vidro de boca larga.
— E não se esqueça de colocar dentro do vidro um algodão com água para que eles não cheguem mortos aqui. E a tampa deve ter furos com um prego para entrar ar. E também é claro que a tampa deve estar bem firme, para que não escapem dentro do seu carro... E ele riu. Pode começar a trazer, que precisamos muito.

Aranha Marrom

Aranha Marrom - Muito cuidado!!!

CUIDADO COM AS CRIANÇAS. REPASSE ESSA INFORMAÇÃO AOS SEUS FILHOS

Tenham muito cuidado com esta aranha. Após lerem este e-mail vejam as fotos e do que ela é capaz!!! Observar roupas de cama, mesa e banho antes de usar, sacudir muito bem sapatos antes de calçar.

Remover freqüentemente quadros, painéis e objetos pendurados.

Vedar frestas, buracos na parede, assoalhos e forros.

Entre as aranhas venenosas existentes no Brasil a pequena aranha marrom é a mais comum.

As fotos que ilustram essa matéria, revelam a evolução do ferimento causado pela picada.

O veneno causa alterações na pele que pode até levar à morte.

Em virtude do desmatamento e redução dos seus predadores (lagartixas, galinhas, sapos, etc...) ela adquiriu hábitos urbanos e os acidentes aumentaram.

COMPORTAMENTO — Essas aranhas não são agressivas e só reagem quando se sentem ameaçadas, causando assim a picada quando pressionadas contra o corpo. A maior incidência do acidente é na primavera e no verão.

HABITAT — Elas habitam em casca de árvores, fendas de muro, parede, forros, pilhas de tijolos, entulhos, dentro de roupas, sapatos e roupas de camas.

Sua picada é indolor e só após 12 a 14 horas surge o inchaço e vermelhidão, dor local e queimação com ou sem coceira. Podendo surgir bolha e necrose (morte do tecido).

Edemas nas mãos, face e pés longe do local da picada. Se ocorrer boca seca, urina escura, pouca quantidade de urina, sonolência e mal estar, CUIDADO!!! Estes são sinais de gravidade.

CONFIRA AS FOTOS DO PRIMEIRO AO DÉCIMO DIA APÓS A PICADA.

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Amigos, vocês conhecem esta aranha?
As fotos são tão impressionantes, que não tive coragem de expô-las aqui. Se meus amigos não gostaram da foto da moça da postagem "Ninguém Merece" e começaram a dizer que ficavam chocados, imagino o que diriam se eu pusesse aqui a fota da mão do homem que foi picado por uma aranha marrom... Mas estou enviando as fotos a vocês por e-mail.
Ela é tão pequena e insignificante que às vezes não ligamos para ela. A foto aqui mostrada está muito aumentada. Ela deve ter, se bem me lembro, menos de 1cm.
Recebi esse artigo que transcrevo aqui hoje, por e-mail de uma amiga bióloga, e soou um pequeno alarme em minha mente: tenho visto algumas aranhinhas marrons aqui em casa, muito parecidas com essa. Um dia desses uma delas estava andando na parede do meu quarto, muito perto das roupas. E em uma outra ocasião tirei uma de cima da cama!
Mas não sei se “as minhas” são dessa espécie perigosa. De qualquer modo, comecei a me lembrar de quando nos mudamos para cá.
Mas para falar de aranhas, tenho de contar como me tornei uma razoável conhecedora delas... e de cobras.