Ostenbarth
quinta-feira, maio 31, 2007
quarta-feira, maio 30, 2007
O vendedor de passarinhos
Não havia ninguém na praia como acontece fora de temporada.
Seu vulto traçava na areia uma sombra comprida e ondulante.
No quiosque só estávamos nós, o casal maduro, tomando um refresco e trocando idéias. Minha atenção foi atraída pela sombra que se aproximava.
De perto via-se que era mirrado, baixinho e muito maltratado pelo tempo. Parecia ter centenas de anos. Seu rosto magro era como um pergaminho, ou mesmo couro marrom enrugado. Os olhinhos vivos, alegres, poderiam ter sido castanhos, mas agora estavam enevoados. Os pés nus e encarquilhados como grossas cascas de árvore, não conheciam sapatos.
O velhinho com as mini gaiolas chegou até nossa mesa, sorrindo confiante, exibindo um único dente e acocorou-se:
- Ei, "pessoarrr"! Dia "bunito", né? Marrr verrrde! "Meuch" passarinho "gochta"! "Cêich"r qué vê?
E sem esperar resposta, pegando uma das gaiolinhas, pediu:
- Bate "parrrma", patroa!
Bati. E os dois passarinhos pipilaram. Senti uma coisa estranha, uma alegria despertada lá do fundo, com sabor de infância, que há muito tempo estivera ausente. Bati de novo e de novo cantaram. Não me contive:
- Ah!... Que bonitinhos!
- Num é "merrrmo", patroa? "Déi" real!
Seu sotaque era forte, puxando os erres numa mistura de Rio de Janeiro com Bahia e demorei um pouco para entender:
- Dez? perguntei.
- "Chô" caro, patroa? Faiz "otcho"!
- Oito?!
Pensando que eu ainda estivesse achando caro, baixou mais:
- "Setch", patroa!
Antes que ele nos desse de graça, pedi:
- Tudo bem, fico com dois!
Eu pagaria qualquer preço para sentir outra vez aquele calorzinho, aquele pedaço de lembrança, aquele sentimento sem nome que me surgira e que me despertara uma memória esquecida, um cheirinho de café com pipoca à luz do fogão na cozinha da minha infância.
Uma demora gostosa na escolha da cor e na beleza dos passarinhos e observando a expressão do velhinho, enlevado coma própria arte, o pagamento, e lá se foi ele todo feliz:
- Tchau procêis, pessoarrr! Êêê dia bunito!
Fiquei batendo palmas, deliciada, um tempão.
Já no carro, de volta para São Paulo, virava-me para trás para ver minha recente aquisição sonora que até hoje me diverte e me leva de volta às noites de inverno, com a família reunida ao pé do fogão da velha cozinha, tomando uma caneca de café quente e comendo pipocas, olhando as brasas que mamãe sopra de vez em quando, enquanto alguém conta histórias de fantasmas.
Pendurei uma das gaiolinhas perto da janela, na copa, de onde posso ver e curtir os passarinhos, que cantam quando rio alto.
sábado, maio 26, 2007
Super Chris
Recém nascida e sorrindo. |
Hoje é o aniversário da Christina. |
quinta-feira, maio 24, 2007
Lição de Vida
Nisso chegaram duas crianças de tamanhos diferentes e uma adolescente. Ela "olhava" para cada uma nos olhos e falava com elas como se enxergasse. Novamente pensei que parecia que ela via alguma coisa e disse isso.
Lição de vida
Esta foto não é do jogo que estou relatando. |
- Que tem minha Dama? sussurrou de volta.
- Está atacada pelo meu cavalo.
- Onde?! Onde?! Não "vi"...
LENITA
Era solteira e sócia dos irmãos na fábrica, que fornece um certo produto para o Metrô e de que ela também muito se orgulhava. Morava sozinha no apartamento de seus pais, que ficara em herança para ela. Tinha um carro preto, um Escort e voava baixo nele. Não diminuía a marcha nas esquinas e costurava no trânsito. Uma vez nos deu carona para casa e o Nelson, brincando, comentou:
- Puxa! Lenita!... que emoção! No seu carro a gente entra passageiro e sai sobrevivente. Ela ria deliciada...
Na quarta, ao meio dia, recebi um telefonema de um dos irmãos. Ela não fora trabalhar, coisa impossível nela. Ligaram para seu apartamento e não atendeu. Foram até lá e a encontraram morta. Disseram que seu coração literalmente explodiu. Ela estava na cozinha, onde ficava sua bombinha, presa na parede . Caíra a um metro, com o braço estendido.
segunda-feira, maio 21, 2007
Almoço num domingo de maio
Vocês precisam fazer uma visita ao blog do Turini.
Ele escreveu um texto muito bom , dizendo em poucas palavras porque deixou de jogar xadrez. Eu não diria melhor.
Era o que eu ia dizer hoje, mas faço minhas as palavras dele.
domingo, maio 20, 2007
Capítulo 3 - A Revanche
Enfrentando Elisa - Capítulo 2
Lenita e Zinah, da Equipe Raspa, treinando no Bar do Snooker |
─ Então porque você está aqui?
─ Porque minha equipe não tem mais ninguém.
─ Mas porque você não gosta? Não posso entender!
─ Porque eu trabalho com a cabeça e a esta hora da noite, já deveria estar em casa, descansando...
─ No que você trabalha? perguntei inocentemente.
─ Sou física nuclear.
(Assombro... meu queixo caiu...).
E ela completou, gèlidamente:
─ Faço parte da Equipe de Física Nuclear da USP.
Pronto! O jogo dela já estava ganho ali mesmo, antes de começar! Mas ainda tive tempo de perguntar:
─ E você...hã... joga... há muito tempo?
─ Desde criança. Jogava com meu pai e com meu avô, que era Mestre de Xadrez.
sábado, maio 19, 2007
Nice e Lenita no bar do snooker do Paineiras
quarta-feira, maio 16, 2007
Idiossincrasia
É a maneira de ser inerente a cada um, a "marca registrada" que vem com a gente e que quase todos temos. É aquilo que faz os outros dizerem: ninguém é perfeito.
Tenho dois filhos e duas filhas... Quatro netas... (Aliás, preciso contar das outras, que estão mocinhas).
Quando gosto de um sapato que calça bem e é confortável para o dia-a-dia, compro dois. Se for fenomenal, volto pra buscar mais dois (e deixo guardado...). Se amo de paixão um livro que me "divinizou" e se o leio muitas vezes ou o empresto para pessoas queridas, mas pouco cuidadosas e ele volta em triste estado, não tenho dúvidas: compro outro. Como o livro Xogum, de James Clavell, que precisei comprar duas vezes. A primeira pessoa nem leu e ainda o perdeu (!). Comprei outro, numa edição do Clube do Livro em dois volumes, encadernados em capa dura, lindos, e outra pessoa quis muito ler. Emprestei com todo carinho e ela também perdeu o segundo volume. Hoje fico olhando para a estante onde se encontra solitário o Volume I. É claro que isso não é suportável, pois é no segundo volume que tem a "Cerimonia do Chá", a coisa mais delicada e cheia de significados que existe. Então tive de comprar outro Xogum, mais dois volumes.
Quando me pedem para pintar um retrato, pinto dois e fico com um. Demoro para terminar, porque, na verdade, não quero ficar sem o quadro.
Tenho duas pinças, duas blusas e duas calças de cada cor, duas canetas na bolsa etc.. E por aí vai. Estranho...
sexta-feira, maio 11, 2007
Livros
- "Desde que a conheci - encontrei-a somente três vezes, sendo que a segunda e a terceira foram breves - pensei com freqüência na tia de Helen, Éva. Há pessoas que permanecem na nossa memória com muito mais clareza depois de um rápido relacionamento do que outras que vemos todos os dias durante um período prolongado. A tia Éva era certamente uma dessas pessoas vívidas, alguém que minha memória e imaginação conspiraram para preservar com cores fortes por vinte anos. Usei muito a imagem da tia Éva para imaginar a aparência de personagens de livros ou de figuras históricas; por exemplo, ela se encaixou automaticamente quando dei com a ardilosa e bem-apessoada Madame Merle, do Retrato de uma Dama de Henry James.
segunda-feira, maio 07, 2007
Sonhos
Não "aqueles sonhos" que a gente teve um dia e que se realizariam ou não!
quarta-feira, maio 02, 2007
TEMPLO DE JÚPITER EM TERRACINA
A vida é um corredor com portas. Vamos passando por elas sem notar. Se pudéssemos viver novamente a mesma vida, escolheríamos algumas portas e entraríamos em salas com móveis e objetos interessantes para cada um de nós.