quinta-feira, fevereiro 28, 2008

Nietzsche


Quem tem medo de Nietzsche?


Palavras dele:


PREJUÍZO OCASIONAL DO CONHECIMENTO

A utilidade que a procura incondicional da verdade traz é tão continuamente demonstrada ao cêntuplo, que é necessário conformar-se sem hesitar com coisas prejudiciais, levianas e raras, em resumo, com as quais o indivíduo pode chegar a sofrer por causa dessa busca. É impossível evitar os riscos que o químico corre de se queimar ou de se envenenar por ocasião de seus experimentos. ─ O que se pode dizer do químico se aplica à nossa civilização inteira: de onde resulta claramente, dito de passagem, como é importante para esta ter bálsamos para as queimaduras e uma provisão constante de contravenenos.

A VERDADE NÃO SUPORTA OUTROS DEUSES PERTO DE SI.

A fé na Verdade começa com a dúvida a respeito de todas as "verdades" nas quais se acreditava até o presente.

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

Gula é mesmo pecado, Timtim?

Então hoje pequei, absolva-me...

Hora do almoço: a Cida me traz uma tigelinha de mandioca frita, derretendo por dentro e crocantíssima por fora, dourada e perfeita, daquelas de comer gemendo...
Adivinhe se fui buscar mais...

Vou ter de fazer penitência? Quantos Pai Nossos?

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Relatório Para a Feinha do Refulgir

Há poucos anos consultei um monte de médicos para tentar curar minhas dores na perna e no quadril.
O primeiro (ortopedista), depois de várias radiografias e até ressonância magnética, diagnosticou problemas na coluna, mas me mandou para um reumatologista, que diagnosticou fibromialgia e receitou três remédios (entre eles Fluoxetina) que, acreditando que me fariam bem, tomei por mais de três meses.
Foi quando começou uma violenta alergia de pele, que parecia um sarampão no pescoço e colo, além de uma queda de cabelo aos punhados.
Por isso procurei uma dermatologista, que nada encontrou como causa, mas receitou cremes e antialérgicos. Mais exames de todo tipo e ela desconfiou de hepatite dos dois tipos, porque nessa altura, com tantos remédios meu pobre fígado estava reclamando.
Como as dores tivessem piorado, voltei ao ortopedista, que me mandou a um neurologista. Mais exames, inclusive aquele chatíssimo de choquinhos nos nervos da perna dolorida que, nessa altura estava mais dolorida do que nunca. Nada encontrando, me receitaram novamente a Fluoxetina, que me derrubou mais punhados de cabelos.
Descobri que eram os remédios que me davam a alergia e a alopecia e não curavam as dores, nem sequer amenizavam.
Senti-me uma cobaia de laboratório.
Decretei minha independência dos médicos, antes que morresse de tantos remédios e, ainda por cima, carequinha! Parei com tudo e passei a tomar só remédios para dor, quando preciso.
E fim!
Por isso pergunto: se eu tivesse procurado antes disso tudo um tratamento espiritual para tentar curar minha perna e quadril, tenho certeza de que não estaria agora com metade dos cabelos que tinha, meu fígado não teria ficado tão mal e não teria levado aqueles horríveis choquinhos. E que ainda por cima, não me curaram.
Lá no Refulgir a Primacaçula fala que o Shiost estava "tirando uma" dela por causa disso.
Primacaçula, aqui estou eu de peito aberto, para lutar por você!

A História de Rodrigo

─ Talvez a morte de meu sogro, em Julho de 1973, tenha me abalado, ou talvez eu estivesse trabalhando muito, não sei. Além de dar minhas 34 aulas semanais de Educação Artística num Colégio Estadual do Sumaré, nos períodos da tarde e da noite, ainda pegara uns desenhos em bico-de-pena para fazer em casa depois da aula e acabava desenhando madrugada a dentro.
Em outubro desse mesmo ano, meu bebê Rodrigo estava numa barriga de 5 meses e já louco para nascer...
No meio da noite, levei o maior susto ao sentir algo errado. Tivemos de acordar a médica às 3 da madrugada. Ela veio prontamente. Mas seu diagnóstico foi o pior:
─ Ah... minha filha, este bebê você já perdeu...
─ Não quero! por favor, faça alguma coisa! Por favor, por favor! Eu chorava, em desespêro.
─ Acho que não vai dar, você está com uma hemorragia forte e dois dedos de dilatação. Um feto de 5 meses passa facilmente por aí... Não chore, você pode ter outro...
Mas eu não queria saber. Chorando muito, segurei a mão da doutora, implorando:
─ Não quero outro, quero este! Por favor, FAÇA ALGUMA COISA!
Vendo que não me convencia, a boa doutora Adelaide resolveu contemporizar:
─ Está bem, vamos ver... vamos ver... Se você ainda não o perdeu, vamos ver se consegue segurar... Mas não posso garantir nada, está entendendo? Vou aplicar hormônios e você terá de ficar na cama até o final, acha que consegue?
─ Faço qualquer coisa, qualquer coisa! Mas me ajude, me ajude!
A doutora aplicou as injeções, recomendou listas de cuidados, receitou alguns remédios e foi para casa, deixando-nos com muita vontade de ajudar o Rodriguinho a ficar mais calmo. Ficamos acordados até amanhecer, Nelson e eu, com nossas mãos em minha barriga, falando para o filhinho o quanto o amávamos, e que era para o queridinho ter paciência, muita paciência, e ficar ali dentro mais um pouquinho de tempo, só mais um pouquinho, bem calminho... "Papai quer você, meu filhinho, mamãe quer você, fique aí bem quietinho, fique... Nós estamos aqui com você, filhinho, queridinho"... O Nelson nessas horas de crise tem um jeito incrível.
O bebê já tinha esse nome, Rodrigo, desde os dois meses de gravidez, por causa do tio-avô de oitenta e poucos anos, por quem eu me tomara de amores.

Conheci o Tio Rodrigo Terra no velório de meu sogro. Minha sogra me pediu para ir avisá-lo e se ele quisesse, para trazê-lo em meu carro. Ele morava num bairro meio afastado, numa casa muito simples. Atendeu uma moça negra, muito bonita. Tio Rodrigo ainda nem sabia que "seu" Jair havia morrido e que estava sendo velado na Igreja do Rosário.
Mas em segundos estava pronto. Ao entrar no carro, deixou escapar um "Ai!".
─ Que foi, tio?
─ Ah, não é nada, é só a minha faca que me picou, essa danada... E tirou da cintura uma enorme faca de uns trinta centímetros...
─ Tio Rodrigo... O senhor não vai deixar a faca na sua casa?
─ Mas de jeito nenhum, menina! Onde já se viu um tropeiro desarmado? E ria gostosamente do meu susto.
Ajeitou a faca e já foi contando sua vida de tropeiro de burros. Que levava os burros do Mato Grosso até o Rio Grande de Sul e vice-versa, que essas viagens duravam muitos meses e que tinha as paradas certas nas fazendas para descanso dele e dos animais. Chegando à Igreja, "animou" o velório à antiga, contando piadas e "causos" que aconteceram a ele durante sua vida aventurosa. Não dava para a gente ficar chocada com a animação dele em pleno evento tão triste.
Fiquei fascinada por ele. Não desgrudei os olhos dele nem por um minuto. No dia seguinte, depois do enterro, que foi muito emocionante, por ver o quanto a cidade toda gostava de seu Jair, eu disse ao Nelson:
─ Se o bebê for menino, será Rodrigo, como seu tio avô.
D. Zélia não gostou muito:
─ Você tem coragem, Nice? O tio Rodrigo foi um homem muito fora de série, foi terrível! Era valentão, ninguém tinha coragem de enfrentá-lo, teve não sei quantas mulheres, e agora mesmo, você viu a mulher que mora com ele? Uma moça de trinta anos e... negra!
─ Pois eu gosto dele mais ainda, acho isso tudo o máximo, ele é o próprio bandeirante, e meu filho vai levar o nome dele.
Rodrigo ficou na barriga até o final da gravidez, que foi bem difícil. E quando nasceu, no dia 25 de Fevereiro de 1974, loirinho e lindo, com 3.820g, encontrou do lado de cá uma mãe corujíssima.
Ontem ele fez trinta e quatro anos.

Parabéns, meu querido! Amo você de todo o meu coração.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

LOTERIA


Eu gostaria de ganhar na Loteria

Se ganhasse, o que faria?

Eu iria viajar...

Eu compraria um barco bem equipado

E com ar refrigerado e iria para o mar...

Durante um tempo ficaria numa ilha

Que teria já comprado e lá seria meu lar...

Ilha pequena de areia muito branca,

Água azul e transparente, onde iria me deitar...

O sol brilhante de lá não seria quente,

Bronzearia docemente, colorindo sem queimar...

Que bom seria se eu tivesse essa ilha

No centro de um mar imenso

Muito azul, no ar suspenso,

E pudesse lá ficar...

domingo, fevereiro 24, 2008

Hoje é dia de Oscar

Vocês pretendem assistir?
Embora eu não goste do AUÊ americano, e esteja meio enjoada de filmes hollywoodianos cheios de carros destruídos, todos aquelas explosões, ainda acho que Cinema é uma arte interessante. Adoro mesmo aqueles filmes singulares do tipo do Fabuloso Destino de Amelie Poulin ou Chocolate, ou Dogville, entre muitos outros.
Somos em casa, sem exceção, aficionados pelo telão, mas como hoje a telinha não é mais tão pequena, às vezes penso que é mais seguro esperar que os grandes filmes cheguem às locadoras para serem assistidos em casa, confortavelmente.
Fazemos alguns baldes de pipoca, algo gostoso para beber e passamos algumas horas em família viajando na história.
Confesso que sou romântica e, pior do que isso, que amo um drama daqueles de chorar muito, como Uma Carta de Amor...
Infelizmente, neste ano, por causa do descolamento da retina do Nelson, tivemos um "deslocamento da rotina" e ainda não fomos ver nenhum dos candidatos ao Oscar, como fazemos todos os anos.
Gostei demais do primeiro Elizabeth e quero ver este segundo também. A Cate Blanchet é maravilhosa e sou fanzoca.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

Mudando de Dono

Nada é "nosso" nesta Terra.



Apenas conquistamos, por mais ou menos tempo, o direito de usar. Quando compramos uma casa e moramos nela, defendendo o território com unhas e dentes, temos a ilusão de que é "nossa", mas temos de pagar os impostos, a água e a energia elétrica que utilizamos, o gás etc.. Depois, deixamos em herança para os filhos que também pensarão que é "deles"...


Assim também quando compramos roupas, ou jóias, carro ou o que for. Mas, se um ladrão nos assaltar, "nossas" coisas mudam de dono... Se nos matar, tudo o que supúnhamos que tínhamos, ficará para outros. No Brasil, pensamos em malfeitores ou enchentes, mas em outros países, as catástrofes são incêndios, tsunamis, tornados, vulcões, tempestades.

Acho que por isso é que os hindus chamam esta vida de Maya, ilusão...


Descobri isso há vinte e tantos anos quando fui buscar meu filho adolescente que estava no apartamento de um amigo. Resolvi esperar dentro do carro. Era uma tarde quente e o sol de verão batia forte na rua linda e sossegada, próxima à Ponte Cidade Jardim, destacando as linhas elegantes do prédio, as altas grades de ferro ladeando o portão monumental, tudo muito classudo.


Lembro-me de ter ficado ali admirando o bom gosto arquitetônico do conjunto. O jardim era espetacular, patrulhado por dois seguranças de preto. Eu poderia ter entrado, fui convidada, mas preferi ficar ali em frente, olhando para o prédio sem defeito. Pensei estar segura, pois os dois musculosos de preto estavam andando de um lado para o outro logo atrás das grades. Na verdade, nem me ocorreu nada negativo.


Meu carro não tinha ar condicionado e as janelas estavam abertas. Meu filho custou para descer, mas eu não estava entediada, apenas distraída com a beleza toda. Foi quando senti por fração de segundo algo quente e macio no pescoço e a linda corrente de ouro com pingente que o Nelson me dera no último Dia da Mães foi puxada e levada. Simples assim. Nem entendi como. Saí do carro e vi lá longe o ladrão correndo à toda. Sumiu na virada da esquina antes que os dois seguranças pudessem sequer abrir o lento portão eletrônico. Era tarde. Minha joinha se fora... Já não me pertencia... Ainda fiquei matutando que os dedos do ladrão não me machucaram em absoluto. Ele provavelmente roía as unhas até o sabugo.


Voltando para casa, filosofei com meu filho sobre os destinos que "minha" jóia tomaria daí em diante. Agora é do ladrão, daqui a algumas horas será de quem comprar dele e depois... sabe-se lá... Engraçado, filho, pensei que fosse "minha", gostava tanto dela, presente do seu pai... Mas na verdade, apenas ganhei o direito de usá-la por uns tempos... Como todas as coisas materiais...


DONO:
do Lat. domnu por dominu, senhor
s. m., senhor de alguma coisa,

proprietário,

possuidor.

A Passagem


Já não importa
Quantos anos tenho
De onde venho
Ou o que sou agora...
Nem os meus gostos,
Ou meu desempenho,
Nada que era
Importante outrora...
Pois se aproxima
A hora mais sagrada
Que a gente enfrenta
Uma só vez na vida
E esse momento
É doce ou é tormenta,
Ou sono leve
Ou brusca arremetida.
E de repente
Não há mais passado,
Nem há futuro,
Apenas o presente...

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

Ladrãozinho


Roubar é fácil .
Comecei com galináceo
Depois fui roubar na rua,
Assaltar quem não recua,
Puxar bolsa de velhota ,
Dividindo co’a patota
Prá comprar umas pedrinhas...
Depois o ponto
Do semáforo na esquina ,
Dá prá juntar uma nota
Prá comprar a cocaína ...
À tardezinha ,
Do meio pro fim do dia
Vou fazendo uma boquinha
Que é prá força não faltar.
Passa a madame
No carango importado,
“Mora bem,” lá doutro lado
Desta nossa capital,
Dona bacana ,
De apartamento duplex,
De solitário e rolex,
Tudo muito desigual...
Depois o berro
Bem na frente da polícia
Que olha prá outro lado,
Eu não vou ficar parado
Dou metade pra “milícia”
Que me acoberta,
Quando prende solta logo,
Se não solta eu advogo
Prometendo “engraxar”...
Eu mostro a grana,
Sempre cumpro a promessa,
Me liberam bem depressa,
Vou de novo assaltar...
É o meu “trabalho”,
Tenho que manter família,
Tenho mulher tenho filha,
Tenho casa pra cuidar...
Quando perguntam
Por que não mudo de vida
Digo: não tenho saída
Pois quem vai me empregar?
De vez em quando
Topo um policial novato
Que me leva de imediato
Pro fundo do camburão.
Eu olho em volta
Procurando um conhecido,
Um sacana corrompido,
Que me livre da prisão...
Sempre aparece
Um polícia bem maneiro
Que diz: largue o biscateiro,
É companheiro de pensão!
Que me conhece,
Que sou meio alucinado,
Que sou cara perturbado,
Bagunceiro, não ladrão...
Então me soltam
Recomendando juízo,
Tô de volta ao “paraíso”
De roubar para comer...
Tudo mentira...
Gosto mesmo dessa vida,
Sou de fato alma perdida
Que não quer se converter...


Esta é do ano passado, saiu também de uma vez...

domingo, fevereiro 17, 2008

Dona de Casa Feliz - Dica do Dia

Quem se lembra da antiga propaganda da Brastemp em que uma esquimòzinha varria enquanto cantava:
"Sou dona de casa feliz...
O meu maridinho é o maior!
Me deu de presente Brastemp...
Brastemp lava melhooooooor"...
ou... cozinha... ou... seca... melhooooor...
Dica do Dia:
Você tem formiguinhas em casa? Daquelas do açúcar? Que mamãe dizia que não tinha importância que elas ficassem entrando e saindo do açucareiro ou se afogando nele? Nem que entrassem pelo pão ou se estatelassem na manteiga? Ou que você tomava com o café da manhã e só no final da xícara descobria os cadaverezinhos? (Estou brincando... não era tanto assim...) Mas a verdade é que mamãe dizia que eram limpinhas, pura proteína, vitamina A, boas para os olhos etc.. Vocês ouviram falar nisso?
Até que há pouco tempo atrás, uma equipe médica de um grande hospital (qual hospital mesmo, Primacaçula? O Einstein?) descobriu que, depois de lutar inutilmente contra a infecção hospitalar, as tais formiguinhas eram as bandidas causadoras. Segundo eu li, os médicos espalharam spray de tinta branca nas costinhas delas e ficaram observando e seguindo as taizinhas por todo o hospital. E ficaram estarrecidos quando encontraram formiguinhas de costas brancas no cesto de papel higiênico e alguns minutos depois já estavam nos sanduíches dos médicos. Horrorizados, começaram um combate para valer contra essas criaturinhas. Acabando com as formigas, acabaram com a infecção hospitalar e se puseram a divulgar isso.
Em minha casa comecei batalha sem perdão. Sinto muito, porque não gosto de matar nem uma formiga, mas nesse caso...
Comecei com aquele gel Formibel ou Formigel (tem mais de um), que é "formidável"! Acabei com a raça delas durante bastante tempo. Mas neste tórrido verão começaram a aparecer timidamente algumas sobreviventes. Então experimentei deixar a pia e toda a cozinha imaculada, sem uma única isca de restos e parece que nem vou precisar usar o gel...
Esta dica acho que não é novidade para nenhum de vocês, não é mesmo? Foi mal...

sábado, fevereiro 16, 2008

Um Cofre Nós Todos Temos

Um cofre nós todos temos
De bem guardados segredos
Que muito bem escondemos
Protegendo nossos medos.

Nossos medos são momentos
Que não devemos mostrar
Pois teremos julgamentos
Que nos irão infamar...

Um cofre nós todos temos
De bem guardadas razões
Razões para o que fazemos
Neste mundo de ilusões...

Razões por vezes tão puras
Que nos induzem a errar
E esses erros são agruras
Que queremos ocultar...

Um cofre nós todos temos
De bem guardados amores,
Amores só de esperanças,
De lágrimas ou de flores...


Estes simplíssimos versos me saíram assim como um parto. Também não sei porque usei a primeira pessoa do plural. Provavelmente a generalização não caiba aqui. Ou vocês compartilham a idéia do cofre comigo? Ou talvez o cofre seja tão secreto que o ignorem ou o reneguem? No meu caso, prefiro assumir e enfrentar meus sentimentos mais profundos.

sexta-feira, fevereiro 15, 2008

Outra porta - O Ponto Mal Humorado

Há pouco mais de quatro anos, em pleno surto de pintura, tive de sair correndo para comprar mais telas e tintas.
Do nada, começou a se formar uma idéia em minha mente, em forma de poesia: era uma forma de ensinar às crianças as primeiras noções de desenho geométrico. E saiu pronta. Era o Escritor passando por cima do Pintor... Eu estava em pleno trânsito e não tinha nenhum papel para anotar. Que arrependimento de não ter levado meus cadernos, sempre a postos...
Mas a idéia se repetia, se repetia, até que resolvi parar o carro numa rua transversal, mesmo correndo o risco de ser assaltada. Se eu não escrevesse na hora, tudo se dissolveria no mundo das idéias perdidas, já havia acontecido algumas vezes. Esse mundo abrira novamente uma porta que eu não podia desprezar. Eu e minhas portas...
As telas que comprara eram cobertas uma a uma por um plástico fino e transparente. Resolvi o problema escrevendo sobre esse plástico. A poesia era esta:
O Ponto Mal Humorado
Um Ponto mal humorado egocêntrico e ranzinza
Tornava seu geométrico universo cor-de-cinza.
Julgava desse universo que era o centro, ali sozinho,
Não olhava para os lados, não via nenhum vizinho.
Mas cada Ponto apertado no Geométrico Universo
Sabia que lado a lado havia um Ponto diverso,
Que faziam todos parte de uma Força bem maior,
Ou de uma obra de arte, ou de uma Idéia melhor.
Assim como uma andorinha sozinha não faz verão,
Um Pontinho só no espaço não faz diferença não...

Vamos supor...

Apenas supor...

Que tenho mesmo um "santo" que baixa de vez em quando me trazendo idéias.
É um caso sério, minha gente, pois na verdade, tenho dois "santos": o que pinta e o que escreve. Talvez seja por causa daquela confissão que fiz a vocês no ano passado, da minha velha idiossincrasia, de que tudo que tenho, tenho dois.
Só poderia ter também dois "santos"...
Brinco com isso, mas a Primacaçula me entende.
Já disse a quem quiser ouvir que não os domino. Quando preciso pintar, baixa o Escritor. Quando quero escrever, às vezes baixa o Pintor... Acho que vocês já perceberam que gosto mais de escrever do que de pintar...
Mas eventualmente, como no presente momento, estou precisando mesmo pintar, precisando muito terminar um quadro de encomenda para entregar. Mas cadê o Pintor? E sem ele... (porque digo ele e não ela? Não me perguntem. Não sei. Só sei que é assim...).
Mas como ia dizendo, sem ele, neca de pinturas. Já tentei de tudo, mas não sai. Isto é, até sai, mas não gosto. Então digo que "esse quadro pintei sozinha, sem ele". Ele quem? perguntam. O Pintor, respondo. Como assim, Pintor? É o meu Pintor quem pinta bem, Eu Sozinha não pinto nada que preste... Não encontro a cor, desmancho e recomeço n vezes e não fico satisfeita. Até que... de repente... simplesmente "sei" e aí fica bom... De repente sei a cor, sei onde colocar o traço ou a mancha ou o detalhe que faltava, ou de repente "vejo" onde está o defeito, a sem-gracice, e o "aquilo" que faltava cai como uma luva sobre o trabalho.
Pior é escrever sem o Escritor. Até escrevo, mas também fica bem mais difícil, erro, corrijo, começo de novo, leio, não gosto, rabisco, deleto tudo, começo outra vez etc....
Mas quando o escritor dá o ar de sua graça, tudo muda, sai de primeira e até já me aconteceu de ler algum tempo depois e, se não estivesse com minha própria letra, não acreditaria que fui eu que escrevi. É aí que penso que há realmente um "santo" que baixa às vezes.
O Timtim e o Caos devem estar escandalizados pensando ela é maluca, só pode ser... O Turini também, deve estar pensando consigo a mesma coisa, apesar de já ter me ouvido brincar sobre isso... O Shiost, como tem o Mesmeu, não vai estranhar, a Primacaçula vai entender e até explicar melhor para todos nós, a Edi é atriz e escritora, a Maria Gilka é artista e sabe que os artistas voam sem vassoura, minhas filhas me conhecem e todos do meu círculo de amigos já me ouviram falar dos meus "santos", então... Qual o problema?
O problema é que agora eu preciso pintar o tal quadro e o Pintor não quer nem saber...
Então eu poderia estar escrevendo, mas o Escritor acho que tirou férias...
E agora, nem um, nem outro! Pensei que era falta da Cida e dei um jeito para ela voltar três vezes por semana e isso antes da Chris e o Jay chegarem. O trato era ela ficar só até a Chris ir embora. Meu golpezinho funcionou e ela continua por mais algum tempo. Então meu tempo não está tão precário assim. Daria para terminar o tal quadro, daria para estar escrevendo pelo menos no blog, mas nada disso está acontecendo.
Venho aqui e começo a escrever sobre arrumar uma cozinha, a assassinar o camarão. E ainda no dia seguinte comento eu mesma que não acredito que escrevi isso. A Maria Gilka me ligou e disse que nem ela acredita...
Pois bem, decidi acabar com isso. E decidi denunciar aqui a deserção dos dois "santos", tornar público o abandono deles. Onde já se viu?
E agora fico esperando para ver o que dá...

domingo, fevereiro 10, 2008

Peripécias na Cozinha...

Tenho a mais santa inveja (como dizem Timtim e Caos) daquelas pessoas abençoadas que entram numa cozinha e, com um pé nas costas, iniciam uma refeição maravilhosa para a família, parece que do nada... como a Clélia, mulher do Turini, excelente cozinheira, ou minha amiga Jacyra, ou a outra amiga Ana, ou a outra amiga Celina, ou a Telma, ou... quer saber? todo mundo cozinha!
Minhas primas, Maria Christina e Maria Cecília, as mulheres dos primos, como a Lucy, as tias e primas do Nelson, a Chris e o Flávio, meus filhos, o próprio Nelson faz uma bacalhoada de dar água na boca, enfim!
Todos... menos eu...
Mas o que me deslumbra é a facilidade e a versatilidade com que, por exemplo, minha filha Chris cria pratos, enfeita, produz, e serve. Ela é apenas um exemplo, porque de todas as pessoas que citei, todas agem assim, como se fosse fácil.
Para mim é um bicho de sete cabeças! Hidra de Lerna!
Sou na arte de cozinhar quase absolutamente ignorante, meu repertório minúsculo chega a ser uma vergonha para uma senhora da minha idade e nesse encantador recinto fico mais atrapalhada do que um elefante numa loja de cristais.
Quando nos casamos o Nelson já sabia disso... e me aceitou assim mesmo. Graças a Deus ele não se importa. Foi ele quem me ensinou a fazer o trivial arroz e feijão, imaginem... É verdade que fui uma aluna entusiasmada, mas ao estudar freneticamente o livro de receitas que minha sogra "bondosamente" me presenteou (na esperança que eu não deixasse o querido primogênito dela morrer de fome...), não encontrei nenhuma lição para sub-principiantes. Lá não dizia quanto tempo o feijão deveria ficar na panela de pressão, nem quanto de água deveria ser colocada para isso, nem que excesso de sal não se resolve colocando mais e mais água, entre outros problemas que tive de resolver sozinha, na ausência do marido.
Vocês estão de boca aberta? Minhas amigas ficavam assim, no começo. Agora, riem. Riem e riem...
Lembram do Almoço de Domingo, que contei no ano passado? Naquele tempo eu já sabia algumas coisas e mesmo assim, demorei umas oito horas para conseguir servir um almoço que virou jantar...
Minha prima Dirce me convidou há alguns anos (muitos anos) para almoçar em casa dela e fez na minha frente o mais lindo e delicioso risoto de camarão. Fez facilmente, conversando comigo e se desculpando por só ter isso e a salada... E precisa mais? disse eu encantada com a facilidade. Comi e amei de paixão. Sempre foi um dos meus pratos preferidos.
Saí dali pensando: nossa, que fácil! Vou fazer hoje mesmo, que está fresquinho na memória! Acabei de ver como se faz, não sou burra, então... vou fazer uma surpresa para o Nelson! Não conto nada e ele vai ficar estupefato com a mulherzinha dele.
Passei no supermercado e comprei um pacote de camarão e lá fui toda feliz, rindo atoa, imaginando a cara do marido, os parabéns, os elogios: Como? Foi você? Que maravilha, etc. etc..
Fiz exatamente como a Dirce, isto é pensei que estava fazendo exatamente igual, mas em algum ponto fiz errado. Agora sei que foi na compra do camarão... Ficou tão salgado que "tive de ir colocando mais e mais água e depois de umas duas horas de fervura, o camarão sumira e só restou um caldo horrivelmente salgado. Nem misturei o arroz. Quando o Nelson chegou encontrou uma criatura desanimada, sentada à mesa com o rosto entre as mãos, sentindo-se pateta e ainda tentando entender onde estava o erro. Mas enfrentei a situação com coragem para contar a desgraça.
O Nelson ria e ria, mas depois foi comigo para a cozinha e elogiou muito o arroz...

sábado, fevereiro 09, 2008

Na Cozinha

Devo ser uma das únicas pessoas que gostam de arrumar uma cozinha...
Minhas duas amigas ficam assombradas; mas adoram quando, depois de um almoço ou jantarzinho delicioso e informal na casa de praia de uma delas, lá vou eu entusiasmada para a pia.
E não é por que lá tem pouca louça não! Gosto quando tem bastante louça também. E panelas, talheres, copos e xícaras e tudo o mais.
Pasmem.
(Pausa)...
Pasmaram?
Quando conto, ninguém acredita...
O Jay, marido da Chris, deu gargalhadas quando eu disse isso a ele e pensou que eu estava apenas querendo poupá-lo da tarefa... Pois todas as manhãs ele tirava a louça do café (e também a do almoço e do jantar) e levava para a cozinha e punha-se a lavar! Depois de várias tentativas de impedi-lo, apelei para a Chris, que respondeu que lá nos States é assim mesmo: comeu, tem que lavar! Sei disso, pois já estive em casa dela duas vezes, mas ainda não havia o Jay. Eles estavam começando a namorar. E revezávamos na cozinha com a Raquelzinha, a outra moça que dividia o apartamento com a Chris. Eu sempre aviso que na cozinha sou visita na hora de cozinhar, no máximo ajudante e detesto... Mas que podem contar comigo para arrumar tudo, durante ou depois. Adivinhem se sou sempre benvinda...