segunda-feira, abril 28, 2008

Adoro Arnaldo Jabor

Seguindo o endereço do site que o Turini forneceu, fui lá e li este texo do Arnaldo Jabor. Adoro esse cara, desde sempre!
Acho que finalmente entendi o recado, Turini...
Caos, leia isto! Podemos chamar de Loucura ou Doidice, ou de Bobo Alegre, ou de Idiota (no bom sentido... Sim! É possível ser idiota no bom sentido!)

Assumo e visto a camisa! Serei idiota, Louca ou Doida Varrida... Mas de qualquer modo, gostei!


"SEJA UM IDIOTA.

A idiotice é vital para a felicidade.

Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, por que fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins.

No dia-a-dia, pelo amor de Deus, seja idiota! Ria dos próprios defeitos. E de quem acha defeitos em você. Ignore o que o boçal do seu chefe disse. Pense assim: quem tem que carregar aquela cara feia, todos os dias, inseparavelmente, é ele. Pobre dele.

Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice. Trate seu amor como seu melhor amigo, e pronto.

Quem disse que é bom dividirmos a vida com alguém que tem conselho pra tudo,soluções sensatas, mas não consegue rir quando tropeça?

hahahahahahahahaha!...

Alguém que sabe resolver uma crise familiar, mas não tem a menor idéia de como preencher as horas livres de um fim de semana? Quanto tempo faz que você não vai ao cinema?

É bem comum gente que fica perdida quando se acabam os problemas. E daí,o que elas farão se já não têm por que se desesperar?

Desaprenderam a brincar. Eu não quero alguém assim comigo. Você quer? Espero que não.

Tudo que é mais difícil é mais gostoso, mas... a realidade já é dura; piora se for densa.

Dura, densa, e bem ruim.

Brincar é legal. Entendeu?

Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteira, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço,não tomar chuva.

Pule corda!

Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.

Ser adulto não é perder os prazeres da vida - e esse é o único "não" realmente aceitável.

Teste a teoria. Uma semaninha, para começar.

Veja e sinta as coisas como se elas fossem o que realmente são:passageiras. Acorde de manhã e decida entre duas coisas: ficar de mau humor e transmitir isso adiante ou sorrir...

Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração!

Aliás, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?

A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore,dance e viva intensamente antes que a cortina se feche! "

Arnaldo Jabor

S.O.S. URGENTE!

From: m.cecilia.r@hotmail.com
To: nicebarth@hotmail.com
Subject: Sumiço dos blogs
Date: Sun, 27 Apr 2008 01:14:56 +0000

Que pena!
Hoje não olhei, mas parece que a febre dos blogs acabou? Será que o ditado popular é verdadeiro; "O que é bom dura pouco?
Tudo bem com vcs? E o Nelson com a vista?
Um beijo saudoso!

RE: Sumiço dos blogs

De: nice barth

Enviada:

segunda-feira, 28 de abril de 2008 14:37:52

Para:

Maria Cecília Rodrigues Aguiar de Oliveira (m.cecilia.r@hotmail.com)


Querida Maria Cecília.

Estamos meio desanimados, acho, com o sumiço do Deto da Praça de Blogs. Você sabe que ele é o Comandante em Chefe, o Guru, o Líder, e que, se ele não aparece durante muito tempo, é possível que a Praça acabe. Eu pretendo continuar. Espero que ele volte o mais breve possível!

Agora pergunto: E você? Que sumiu também...
Vamos acender a chama? Precisamos de você para curar esses Blogs doentes...

Grande beijo,

Nice.

quinta-feira, abril 17, 2008

A LONGA NOITE DO REI DE COPAS

O Rei sugere à Rainha

Com um tom secreto e raro:

“Precisamos de um Herdeiro”...

E a Rainha diz: Mas claro!

E dirige-se ao banheiro.

Entra num banho quentinho,

Bem comprido e demorado,

Lava os lindos cabelos,

Veste traje delicado.

Demora só duas horas,

Mas o Rei fica estressado

Pois não suporta demoras

E sente-se abandonado.

A lua já vai bem alta

E ele sente tanta falta

De sua Rainha charmosa,

Tão bela e tão amorosa...

Tão perfumada e felina...

Como um relógio faz falta

Em cabeça feminina,

Reclama ele em voz alta

Enquanto afasta a cortina,

Rasga os punhos, puxa a gola,

Mas eis que a porta se abre

E aparece a Rainha

Numa linda camisola...

Diáfana, transparente,

O lindo corpo fremente,

Cabelo solto até os pés...

O Rei tudo o mais esquece,

Respira fundo, estremece,

E é quase reverente

Que ele caminha até lá,

Pensando: Mas como é bela!

Chegando onde ela está,

Beija-lhe as mãos e convida:

E agora, vamos, querida?

E ela, de olhar brejeiro:

“Preparar o nosso Herdeiro?

Vamos sim, meu Rei amado!”

Vai andando em sua frente,

O Rei segue-a contente,

Admirando o ondulado

Do corpo muito bem feito

No andar de sua Rainha

Que ela faz com tanto jeito!

Ela rodeia o leito,

Mas, em vez de se deitar,

Ajoelha-se ao lado

E começa a rezar...

O Rei, já desanimado,

Recosta-se do outro lado

E recomeça a esperar...

Revira os olhos, boceja,

Alisa os lençóis, suspira,

Chama a atenção da Rainha,

Mas ela sequer se vira,

Concentrada no seu terço.

O Rei olha para o berço,

Vazio, ali parado...

E fica exasperado

Do desejo reprimido,

Pela longa frustração...

Solta profundo gemido,

Une as reais sobrancelhas...

A Rainha pára a prece

E olha meio de esguelha:

Analisa a situação

Em que se encontra o amado...

Levanta um olhar melado

Ao Rei - e um sorriso incrível,

Plenamente irresistível,

Corre até ele e o abraça,

Beija e acaricia,

Deitando-se ao seu lado.

O Rei fica enfeitiçado...

E o Herdeiro principia...

quarta-feira, abril 16, 2008

Gabriel Garcia Marques, a simpatia


terça-feira, abril 15, 2008

O Aperto - 3ª Versão

(Sugestão do Turini)

At 15/4/08 2:44 AM, Blogger Polemikos said...

Ficou melhor .... eu sei que sou abusado ... mas tenta mais uma coisinha. O texto que começa com "E então o Duque o largou etc ..." põe no fim mesmo!!!
Para o gran finale!!

O Aperto - 3ª Versão

Ele percebeu que não daria mais tempo de nada.

Em desespero, tentando salvar sua dignidade, procurou e viu uma edícula ao fundo, com um mini banheiro e correu para lá. Ao entrar e fechar a porta com estrondo, ainda pôde ver a dona da casa, de olhos arregalados, que dizia alguma coisa e fazia para ele gestos com as duas mãos.

Sinto muito, pensou, não dá mais... Mal teve tempo de arriar as calças e sentar-se, aliviado. Mas de repente ele sentiu sua nuca se arrepiar e foi só então que ouviu o rosnado ameaçador do enorme pastor alemão, preso ali antes dele.
A cena que se seguiu foi dantesca.

Ele plantou um pé entre os dentes do animal enfurecido. Rosna, empurra, empurra, rosna, e o senhor Gatti, tão educado e elegante, percebeu que nesse vai e vem, suas calças já eram... Começou a ouvir ali fora uma voz de homem gritando comandos para o cachorro. — Duque, sentado! Duque, fica! E uma voz aflita de mulher que gritava — O senhor está bem? E uma voz esganiçada, que ele descobriu que era a sua, respondia — Sim.., acho... que... estou bem, não sei... E ela: — Ah, meu Deus! Duque! Pára, Duque! Senhor, abra a porta!

∞∞

Esta história (verídica) se passa no início dos anos 50, quando a etiqueta, o refinamento, o respeito e os pudores ainda existiam. Os nomes foram trocados.

O Senhor Gatti, era um homem muito bem situado na vida, de família hiper tradicional, morava no Jardim Europa, um dos bairros mais elegantes e ricos de São Paulo. Lá residia a nata da sociedade paulistana, o chantilly da capital.

Ele mesmo nos contou o caso pormenorizadamente, mais de vinte anos depois.
Disse que num sábado muito frio de agosto, resolveram almoçar uma deliciosa feijoada em um restaurante conhecido. Regininha, a filha de doze anos, não queria ir, porque tinha sido convidada para a festa de aniversário de uma amiguinha da escola e não queria se atrasar. Toda a classe iria e só se falava nisso desde antes das férias.

O pai conseguiu convencer a filha de que seria um almoço rápido, mas o restaurante estava tão lotado que tiveram de esperar muito tempo para serem servidos. Quando já estavam a ponto de desistir, chegou a vez deles. Mas lá dentro, já acomodados, ainda tiveram de esperar. Chegou a hora da festa e eles nem tinham sido servidos. Enfim, chegou a comida, a das crianças alguma coisa mais leve, tudo muito gostoso, e o Senhor Gatti, que era um “bom garfo”, comeu até fartar.

Regininha estava amuada e se recusava a comer. Girava e regirava o seu garfo no prato e levantava para o pai uns olhos carregados de tristeza e censura no rostinho bonito, pois ainda teriam de buscar o presente em casa.

O senhor Gatti ficou muito nervoso com isso tudo, pois era um pai exemplar e sabia que desta vez fora um pouco teimoso. A filha era o seu dodói e ele não queria vê-la infeliz. Pagou a conta e saíram. Apanharam o presente e a D. Carlota preferiu ficar em casa com o filhinho, para descansar.


O senhor Gatti seguiu com a filha, sentada muito séria, com o presente entre as mãozinhas crispadas. — Que horas são, papai? — perguntava ela a cada cinco minutos. Isso e o seu sentimento de culpa foram enervando o homem, que começou a sentir umas cólicas na barriga.

A casa ficava no Alto da Lapa, um bairro nobre e de ruas quase todas curvas e desertas. O senhor Gatti não o conhecia e quem mora em São Paulo, sabe o quanto é difícil localizar uma rua lá. A tarde caía e nada de encontrar a casa.

As cólicas estavam tão fortes nesta altura que ele realmente precisava chegar. Ficou pensando que naquela situação teria de mandar às favas o constrangimento. A palavra banheiro lhe povoava a cabeça e o deixava alucinado.

Depois de muito rodar e voltar ao mesmo ponto, o senhor Gatti finalmente encontrou uma pessoa que indicou o caminho. Era quase noite, mas a menina não abria mão de ir. E agora ele também precisava muito. Suava frio tentando se controlar. Estava cada vez mais difícil e ele estava com medo de não conseguir.
O céu pareceu se abrir para ele quando estacionou em frente à casa iluminada e alegre, toda enfeitada com faixas e balões. Regininha correu para dentro.

Foi então que ele viu lá ao fundo o banheirinho...

∞∞

E então o Duque o largou. Mas a situação não estava nada boa, as calças sujas e rasgadas e ele não conseguia se levantar, nem se higienizar... Mas como o que não tem remédio, remediado está, ao perceber que o cão não se movia, embora continuasse rosnando e lhe mostrando os dentes, ele levantou o que restava das calças e de sua compostura e esgueirou-se para fora. Cheirava como um porco.

Lá fora uma platéia silenciosa e horrorizada o aguardava. Ele tremia e sentia o rosto em brasa.

E sua filha, as mãos nas faces tão coradas quanto as dele, morria de vergonha.

segunda-feira, abril 14, 2008

Neusa Padovani Martins


Amigos da Praça de Blogs,

preciso apresentar a vocês a Neusa Padovani Martins, psicóloga, pedagoga e escritora com vários livros publicados. Reside em Sorocaba e edita e coordena o site cultural:

www.sorocult.com/

que por sua vez gerou dois "sitezinhos" infantis:

www.sorocultinho.com/

e o

www.sorocultinha.com/

que são gerenciados pela filha jovem e lindíssima, Mariana Domitila e pelo filho Nicolas, de apenas 16 anos e já expert em sites.

Fui apresentada a ela pela minha irmã, Carmen, no lançamento da 2ª Coletânea do Espaço Literário, em dezembro de 2007.

E devo informar a vocês que ela gostou de alguns escritos que lhe enviei e os inseriu no site. E que estarei presente no livro a ser lançado em 2008, a 3ª Coletânea do Espaço Literário e que será a minha primeira publicação, acho que com três páginas.

Neusa é a simpatia e carinho em pessoa, assim como toda a sua família.

quarta-feira, abril 09, 2008

O Aperto 2ª Versão

Ele percebeu que não daria mais tempo de nada.

Em desespero, tentando salvar sua dignidade, procurou e viu uma edícula ao fundo, com um mini banheiro e correu para lá. Ao entrar e fechar a porta com estrondo, ainda pôde ver a dona da casa, de olhos arregalados, que dizia alguma coisa e fazia para ele gestos com as duas mãos.

Sinto muito, pensou, não dá mais... Mal teve tempo de arriar as calças e sentar-se, aliviado. Mas de repente ele sentiu sua nuca se arrepiar e foi só então que ouviu o rosnado ameaçador do enorme pastor alemão, preso ali antes dele.
A cena que se seguiu foi dantesca.

Ele plantou um pé entre os dentes do animal enfurecido. Rosna, empurra, empurra, rosna, e o senhor Gatti, tão educado e elegante, percebeu que nesse vai e vem, suas calças já eram... Começou a ouvir ali fora uma voz de homem gritando comandos para o cachorro. — Duque, sentado! Duque, fica! E uma voz aflita de mulher que gritava — O senhor está bem? E uma voz esganiçada, que ele descobriu que era a sua, respondia — Sim.., acho... que... estou bem, não sei... E ela: — Ah, meu Deus! Duque! Pára, Duque! Senhor, abra a porta!

E então o Duque o largou. Mas a situação não estava nada boa, as calças sujas e rasgadas e ele não conseguia se levantar, nem se higienizar... Mas como o que não tem remédio, remediado está, ao perceber que o cão não se movia, embora continuasse rosnando e lhe mostrando os dentes, ele levantou o que restava das calças e de sua compostura e esgueirou-se para fora. Cheirava como um porco.

Lá fora uma platéia silenciosa o aguardava. O coração só faltava lhe sair pela boca. Ele tremia da cabeça aos pés e sentia o rosto em brasa.
E sua filha, de mãos nas faces tão coradas quanto as dele, morria de vergonha.

● ● ● ●

Esta história (verídica) se passa no início dos anos 50, quando a etiqueta, o refinamento, o respeito e os pudores ainda existiam. Os nomes foram trocados.

O protagonista, Senhor Gatti, que era um homem muito bem situado na vida, de família hiper tradicional, morava no Jardim Europa, um dos bairros mais elegantes e ricos de São Paulo. Lá residia a nata da sociedade paulistana, o chantilly da capital.

Ele mesmo nos contou o caso pormenorizadamente, mais de vinte anos depois.
Disse que num sábado muito frio de agosto, resolveram almoçar uma deliciosa feijoada em um restaurante conhecido. Regininha, a filha de doze anos, não queria ir, porque tinha sido convidada para a festa de aniversário de uma amiguinha da escola e não queria se atrasar. Toda a classe iria e só se falava nisso desde antes das férias.

O pai conseguiu convencer a filha de que seria um almoço rápido, mas o restaurante estava tão lotado que tiveram de esperar muito tempo para serem servidos. Quando já estavam a ponto de desistir, chegou a vez deles. Mas lá dentro, já acomodados, ainda tiveram de esperar. Chegou a hora da festa e eles nem tinham sido servidos. Enfim, chegou a comida, a das crianças alguma coisa mais leve, tudo muito gostoso, e o Senhor Gatti, que era um “bom garfo”, comeu até fartar.

Regininha estava amuada e se recusava a comer. Girava e regirava o seu garfo no prato e levantava para o pai uns olhos carregados de tristeza e censura no rostinho bonito, pois ainda teriam de buscar o presente em casa.

O senhor Gatti ficou muito nervoso com isso tudo, pois era um pai exemplar e sabia que desta vez fora um pouco teimoso. A filha era o seu dodói e ele não queria vê-la infeliz. Pagou a conta e saíram. Apanharam o presente e a D. Carlota preferiu ficar em casa com o menorzinho, para descansar.

O senhor Gatti seguiu com a filha, sentada muito séria, com o presente entre as mãozinhas crispadas. — Que horas são, papai? — perguntava ela a cada cinco minutos. Isso e o seu sentimento de culpa foram enervando o homem, que começou a sentir umas cólicas na barriga.

A casa ficava no Alto da Lapa, um bairro nobre e de ruas quase todas curvas e desertas. O senhor Gatti não o conhecia e quem mora em São Paulo, sabe o quanto é difícil localizar uma rua lá. A tarde caía e nada de encontrar a casa.

As cólicas estavam tão fortes nesta altura que ele realmente precisava chegar. Ficou pensando que naquela situação teria de mandar às favas o constrangimento. A palavra banheiro lhe povoava a cabeça e o deixava alucinado.

Depois de muito rodar e voltar ao mesmo ponto, o senhor Gatti finalmente encontrou uma pessoa que indicou o caminho. Era quase noite, mas a menina não abria mão de ir. E agora ele também precisava muito. Suava frio tentando se controlar. Estava cada vez mais difícil e ele estava com medo de não conseguir.
O céu pareceu se abrir para ele quando estacionou em frente à casa iluminada e alegre, toda enfeitada com faixas e balões. Regininha correu para dentro.

Foi então que ele viu lá ao fundo o banheirinho...

segunda-feira, abril 07, 2008

O Cavalo

Ano passado, em Setembro.

Passava das 19 horas quando saí do Supermercado. Hora do rush em São Paulo, carros e motos costurando entre as pistas e os ônibus lotados. Todo mundo enlouquecido para chegar e descansar de um dia estafante de trabalho.

Coloquei as compras no carro e desci a longa rampa do Shopping Butantã em direção à Avenida Jorge João Saad, esperei um tempo, o semáforo abriu e fiz a curva à esquerda para a outra pista da avenida. Estava quase completando a curva quando vi uma anca eqüina, bem à minha frente. — Não acredito!pensei, horrorizada. Mal tive tempo de frear bruscamente, mão na buzina. Ele se assustou e encaminhou-se para a pista da direita, continuando em linha reta, junto à guia, no mesmo trote regular. Ia na mesma direção que eu e seus grandes olhos giraram quando meu carro passou por ele.

Um pouco recuperada do susto, mas muito preocupada com o cavalo e com um possível acidente, fui até o fim da avenida de olho no retrovisor. Mas ele vinha atrás de mim como se estivesse seguro.

Virei à direita na outra grande avenida, esta bem mais perigosa para ele, pois é a entrada da cidade para ônibus e caminhões que vêm de Curitiba. Meu coração estava aos pulos, imaginando o coitado atravessando bem na frente de um caminhão. Oh, meu Deus! — pensava eu — cuide dele... Não deixe que o coitadinho morra, ou mate alguém!

Sempre olhando pelo retrovisor, vi quando ele entrou atrás de mim bem juntinho à guia, sem se assustar com a enormidade dos caminhões velozes e barulhentos.

Entrei na próxima rua à direita e fui para casa. Descarreguei as compras e já ia fechar o carro quando ouvi nitidamente o vagaroso po – co - tó – po – co - tó – po – co - tó, passando bem em frente à minha casa. Parei tudo para ouvir e cheguei à conclusão de que só podia ser ele! Não há cavalos no meu bairro! Abri o portão e corri para fora. Lá estava ele, descendo minha rua. Era o próprio.

Corri atrás dele, que se assustou e começou a sacudir a cabeça para cima e para baixo. Um senhor ia passando e perguntei se ele sabia de quem era aquele cavalo e ele disse que não. Nesse momento o animal voltou sobre si mesmo e veio para cima de mim. Não parei para esperar, afinal, não sou muito conhecedora de cavalos... Escondi-me atrás do poste e ele passou por mim, apenas girando os olhos, seguindo novamente para a Av. Eliseu de Almeida, a perigosa. Pude então vê-lo bem de perto (perto demais para meu gosto...) e pude julgar sua beleza e raça. Era muito alto, de um tom marrom-dourado e seu pêlo aveludado brilhava à luz do poste. Era esbelto, parecendo jovem. A cabeça bem feita e orgulhosa era mantida bem ereta e só seus olhos se moviam um pouco inquietos. Os músculos fortes das pernas moviam-se graciosamente. Era um lindo espécime! Não era um pangaré e devia valer uma fortunazinha...

Eu não poderia seguí-lo a pé por São Paulo, então voltei para casa e procurei uma corda que, na pressa não encontrei. Entrei no carro e fui procurá-lo. Depois de alguns ziguezagues pelo bairro, parei perto do carro da Segurança e perguntei se o rapaz vira o cavalo e ele disse que também estava atrás dele, que tinha passado por ali e subira a outra rua.

— Você conhece o dono? — Ele disse que não.

— Ele deve estar perdido. Você arrumaria uma corda para me ajudar a pegá-lo? Ele disse que ia procurar e foi embora. (Estou esperando até hoje...)

Segui a direção que o segurança indicou e encontrei algumas pessoas reunidas e apontando algo. Parei e perguntei do cavalo. Disseram que ele tinha passado por ali e estava atravessando a outra avenida, a Francisco Morato.

Agora sim ele está encrencado mesmo — pensei — e fui atrás.

Tive de dar uma volta para pegar o semáforo e atravessar também. Nessa altura o trânsito já estava mais livre, mas em compensação, os carros corriam mais. Corri também. Essa avenida tem umas subidas e descidas e eu não conseguia encontrar o cavalo. Parei num posto de gasolina e perguntei. Os frentistas estavam comentando sobre ele.

— Vai indo lá pra Marginal Pinheiros — disseram.

E eu atrás. No topo da última subida pude vê-lo, lá longe, sempre junto à guia e sempre no mesmo passo vagaroso.

Se a Av. Francisco Morato não tivesse tantos faróis e se todos não estivessem conspirando para fechar quando eu chegava, eu o teria alcançado.

Mas ele, depois de ter se perdido um pouco pelo meu bairro, encontrou seu caminho e virou à direita lá em baixo, na Av. Lineu de Paula Machado e, quando o alcancei finalmente, ele estava parado bem na frente dos portões do Jóquei Clube...

Encontrara sozinho sua casa.