sábado, julho 16, 2011

Paris!




 28 Avenue Corentin Cariou, 75019  Paris, França 


Chegamos a esta belezinha de hotel (3 estrelas), num táxi por nossa conta, pois não estamos ainda ligados ao grupo da excursão. Subimos para o quarto, entramos num banho para revigorar as forças, pusemos uma roupa mais elegante e saímos para comer alguma coisa ali em frente. Mas antes passamos pela recepção para perguntar sobre um restaurante, isto é, o Nelson pretendia fazer isso em francês. 
Acho que foi a beleza da recepcionista, jovem e loura de olhos azuis, que o perturbou e o fez esquecer o que vinha estudando há meses, pois de repente deu um branco e ele hesitou e titubeou, e muito chateado resolveu dizer que não falava francês, mas o que saiu de sua boca e o deixou perplexo e horrorizado, em vez de "Je ne parle pas français" (eu não falo francês), foi: "Je ne parle pas François"... (Eu não falo Francisco...). 
A moça arregalou os lindos olhos e depois de alguns segundos, não pode mais se conter e caiu na risada. E ainda por cima replicou: "Moi aussi"! (Eu também não!) E não parou mais de rir... 
O Nelson ficou muito vermelho e envergonhado com esse lapso, essa traição da própria língua.
Mas acabou conseguindo a informação em inglês mesmo. A moça disse que por ali na frente havia alguma escolha. 
Andamos pela rua do hotel, na outra calçada, a Avenida nesta hora sem movimento, meus pés inchados não diminuíram em nada a magia de estar em Paris. Eu nem consigo acreditar!
Depois de dar uma olhada em todos, resolvemos entrar num restaurante bonitinho, mas de péssima comida. Na volta para o hotel passamos por duas casas de verduras e frutas, muito diferentes das quitandas brasileiras. As frutas são bonitas, os tomates lindos e as alcachofras são pequenas e totalmente diferentes das nossas. 
Já no hotel, o Nelson tomou um Cointreau e eu uma taça de vinho branco Sancerre. 
Em seguida, dormimos até às 8 da manhã, quando tocou o telefone-despertador. Camas deliciosas, lençóis brancos e macios, cheirinho de limpeza. 

Sexta-feira, 13/09/1991
Paris
Café da manhã no hotel. Dia livre para atividades pessoais. Sugerimos visita opcional ao Palácio de Versalhes.


Amanheceu friozinho. 
Agora, depois do café da manhã, conversamos com um casal brasileiro, Neuza e Antenor, que nos entusiasmaram a visitar a Galeria Lafayette. Eu não tinha a menor vontade de ir, coisa de turista brasileiro... e pensei que o Nelson também não, mas ele disse que seria até uma boa ideia, pois está precisando de um tênis confortável. Tomamos o metrô ali perto e chegamos . 
Meu Deus, eu não tinha a menor ideia da beleza daquilo! A palavra é espetacular! 

                        
O domo é de perder o fôlego. O prédio todo é de uma riqueza de detalhes, delicadeza e bom gosto que só se vê na Art Nouveau. Toda arredondada, toda feminina. Não há como não gostar, não há como não admirar e ficar imaginando como foi construída. 
Entramos em pleno lançamento de um perfume de Givenchy, o "Amarige", que o Nelson adorou e queria me presentear, mas eu não gostei... Não gostei do Amarige, ora! Para mim, não. E não permiti que ele comprasse, tadinho, ficou inconformado... 
Andamos por tudo, vimos tudo (e tudo muito caro, pois todas as grifes famosas estão ali). Não tive coragem de comprar nada, nem um lenço de seda... E o perfume vai ficar para o final da viagem. Também não encontramos tênis para o Nelson, nem para os filhos.

Saimos de lá quase às 15h... Para quem não queria ir... Cansados e famintos, fomos comer numa brasserie, ele um sanduíche e eu uma omelete de queijo e presunto, que estava muito boa. Afinal, omelete é prato francês... Gastamos 91 francos, 100 com a gorjeta US$ 17,00 ou ± Cr 8.700,00 (Cruzeiros). Dá para comer razoavelmente aqui, sem gastar muito. 

Em seguida fomos a pé até o Louvre, passando pela Ópera que é outra beleza de arquitetura. No caminho, pela Avenue de l'Opera, passamos por lojas charmosas com roupas lindas ... e haja pés! 

Opera de Paris ao fundo 

Chegamos cansadíssimos ao Louvre, debaixo do maior sol e tarde demais para ver muita coisa. Ai, que saudade do meu tênis velhinho e gostoso... Tive absoluta necessidade de descansar ao pé da estátua do Luís XIV, tanta que até cochilei um pouquinho.

Amei o Louvre, desde que o vi pela primeira vez. Sua estrutura é magnífica, mas não consigo enquadrá-la em este ou aquele estilo, pois o Palácio foi reconstruído muitas vezes, por muitos arquitetos. 

O prédio do Louvre está sendo restaurado externamente e está todo coberto com tecidos e andaimes de ferro, que pena, mas o que dá para ver, inclusive as poucas partes já restauradas e limpas, é pura maravilha! As famosas pirâmides causam um certo impacto, parece que não combinam com o resto, mas cobrem tanto o espaço e a parte nova abaixo delas, como também as escadas rolantes que descem para o Museu. 

(cont.) 

sexta-feira, julho 08, 2011

Segundo Dia - com Escalas

Ah, esqueci de contar do velhinho que foi nosso companheiro de viagem de São Paulo a Madrid. Que velhinho doidinho! Na escala no Rio ele atormentou as comissárias perguntando por que parou e por quanto tempo iríamos ficar ali. E ainda tivemos de descer do avião para nova revista da Polícia Federal.
Na espera, resolvemos telefonar para o Flávio Rubens, (o filho casado) para nos despedirmos. E lá estava o velhinho pentelho, pentelhando a moça que estava usando o orelhão, dizendo em altos brados, indignadíssimo, que ela havia alugado o telefone; ele batia no aparelho para chamar a moça, gritando que ela parasse porque havia muita gente na fila. Até aí, concordávamos com ele, era mesmo verdade. Só não precisava gritar...
Em seguida, já novamente no avião, quando íamos decolar do Rio para Madrid, entra o mesmo velhinho, de olhos ferozes, avisando a todos que não abriria mão do lugar dele! E finalmente, quando o Nelson resolveu usar o toalete, lá vai o velhinho bater na porta, apressando o Nelson, porque ele queria entrar e queria entrar AGORA!!!

Nesse momento, gelei! Porque o Nelson não é uma pessoa muito paciente e pensei que o tal velhinho iria acabar levando um tapa na careca... Ainda bem que o maridão resolveu levar na esportiva e divertiu-se com aquilo...
***
Chegamos a Madrid, nós e o Rei de Roma... 7:40h (hora de São Paulo) - 12:40h (hora de Madrid (5 horas na frente, comemos o tempo).
O primeiro pensamento do Nelson foi para o pai dele, que tinha o sonho de visitar a Espanha e a Argentina (esta, tão perto!) e nunca o concretizou. O Sr. Jair era professor de espanhol e Português.
***
Estamos absurdamente cansados! Um sono... do caramba! Andamos pelo aeroporto, meus pés muito inchados não se dobram nem para descer as escadas. Mais esta escala, que não constava no roteiro! Minha curiosidade, porém é maior...
Aeropuerto de Madrid - Barajas 
Passamos por uma loja linda, com artigos atraentes, depois fomos dar uma olhada nos produtos do Duty Free, onde nada compramos, deixamos para o final da viagem.
Vimos muitas pessoas interessantes, com roupas típicas de seus países e depois dormimos um pouco no saguão, à espera do almoço, em nosso confuso fuso horário, 10:00h de SP / 15:00h de Madrid...
Ganhamos dois bônus da Ibéria e fomos almoçar. Serviram primeiro uma sopa parecida com a dos Vigilantes do Peso, gostosa. Nenhuma fome. Nossos estômagos não reconhecem esse horário estranho...
Ficamos prestando atenção à nossa volta - um casal com duas crianças, indianos, com lindas roupas coloridas, todos comendo com as mãos; dois homens africanos, quase azuis, falando uma língua toda quadradinha; outro africano alto e imponente, postura régia, talvez uma importante figura em sua tribo... e por aí, tudo novidade para nós.
***
Algum tempo depois chegou finalmente a hora do avião para Paris . Decolamos às 17:45h... Paris, Cidade-Luz, aqui vamos nós, que emoção!!! Nelson aproveitou para treinar mais um pouco seu esquecido francês. Esta última etapa de vôo foi curta.
   E agora,
              estamos
                       aterrissando
                                        em
                                             Paris...
Paris - Chegada, recepção e traslado do aeroporto ao hotel. Alojamento.

domingo, julho 03, 2011

Recortes do Diário de Viagem de 1991

 Quarta feira - 11 de Setembro de 1991 (Dez anos antes das Torres)

 Acordei, infelizmente às duas da manhã, preocupada com a perda do cartão do Makro e com outros mil pensamentos atravessando velozmente minha cabeça. Passado, presente, futuro... Preocupações de ordem doméstica, ou com os filhos que ficarão sozinhos (será que falamos tudo?) (e se algum deles ficar doente? Tenho de dizer a eles para ligar para o primo Celso), (será que irão se comportar como adultos? Ora, claro que sim!), (quem pagará as contas de água, luz e telefone? Alessandra?)... e por aí...

Outros pensamentos ansiosos e estimulantes: (Meu Deus, que delícia, amanhã estaremos em Paris, imagine!) (Ai, acho que estou levando roupa demais...) (Será que devo levar bermudas?) (Ai, Paris, Paris... Não acredito que estamos indo) (nossa primeira viagem à Europa, que sonho!... trinta dias, dez países... Inglaterra, vou conhecer a Inglaterra!) (será uma longa viagem, o dobro de dias e países que o Nelson queria, mas não abri mão da Inglaterra! E se não pudermos voltar nunca mais? Tinha que ter Inglaterra no roteiro!) Ahhhh... que emoção!

Na verdade, estou muito ansiosa com essa viagem. Acho que será cansativa e tenho um pouquinho de medo de não ter pique... E os pensamentos iam e vinham, como a maré...

Já que não conseguia dormir mesmo, resolvi escrever isto, copiar o roteiro e começar o diário da viagem desde as impressões. Foi bom, fiquei um pouco mais calma e até consegui dormir uns minutos lá pelas oito da manhã, até o Nelson me acordar com um grande grito:

— Nice! Acorde! Os passaportes sumiram! Não podemos mais viajar! Quem foi o f... da p... que fez a “gentileza” de tirar do lugar?!

Levantei de um pulo, tonta de sono e comecei a procurar, até achar dentro da sacolinha de viagem, embaixo dos livrinhos da Berlitz. E pronto! Tudo se acalmou. Êta nóis!... caipiras virgens de Europa...

E aí, ninguém mais dormiu. Acabamos de arrumar as malas e bolsas e sacolas de objetos de toalete e remédios e livros - Nelson quer retomar o estudo de francês no avião para não fazer feio em Paris... Vem estudando há um mês com livros e discos... Eu digo que vou me virar em inglês ou mímica mesmo...

A casa virou uma loucura pelo dia todo.
A hora começou a chegar. Chegou também o Dadá com o contrato do apartamento dele para assinarmos como fiadores.

Em seguida fomos para o aeroporto com Rodrigo, Alessandra e o namorado, “Montanha”, e a Chris, com o namorado Gustavo.

Tínhamos de estar no aeroporto de Guarulhos até às 17h para o check-in. Durante o trajeto pela Marginal Tietê em hora de rush, meu coração dava pulos preocupantes e suspiros longos e profundos me acalmavam. Jesus! Não fique tão nervosa! É só uma viagem... medo... medo de avião... morro de medo de avião! Ai meu Deus, socorro!... Suspiro e suspiro de novo, penso nos filhos. Flávio Rubens está casado, com filhas pequenininhas, morando em Itapetininga, não vai estar aqui para ajudar... Alessandra (22 anos) é uma adulta responsável, os outros dois ainda adolescentes, Rodrigo (17) e Chris (16), são ótimos filhos e ótimas pessoas, não há o que temer, pare com isso, tudo vai dar certo! Expiro fortemente e expulso os medos, inspiro longamente Deus e coragem e ‘vamos que vamos’!

Check-in, correrias, despedidas, choradeiras, e o avião decolou às 19,55h, com 25 minutos de atraso. Minha mão gelada apertava a do Nelson até o avião deixar de subir e ficar horizontal... Jesus Cristo! Escala no Rio, não entendi nada, não consta no roteiro. Desce do avião, sobe no avião, muito pra minha cabeça. Decolamos às 22:20h, depois de tentarmos inutilmente telefonar para o Flávio Rubens.

Neste momento estamos a 10.000 metros de altura (BRRRRRR...) a caminho de Madrid, próxima escala, que também não consta do roteiro. Uma hora da madrugada. Chegaremos, segundo a comissária de bordo, às 12:45h, hora local (5 horas mais tarde do que a hora do Rio).  

Quinta feira - 12/09/91

São 6h da manhã, hora de S. Paulo e já é dia desde as 4. Já estamos num outro fuso horário. A viagem está ótima (o avião se comporta bem, parece parado... mas não me iludo: sei que estamos a 10.000 metros do chão e isso não me conforta nem um pouco). Não dormimos quase nada, eu pelo menos. Só vou descansar quando chegarmos a Paris.
Meus pés incharam e a fila do banheiro é constante.
6:30h - A comissária acaba de nos desejar Buenos días, disse que pousaremos em Madrid em 1h e 15 minutos, que a temperatura é de 25º e que será servido o desayuno (desjejum).
Café ralo e horrível, croissant, azucar e leche em polvo made in Espanha, Yogurte de abacaxi, geléia de damasco e manteiga Itambé made in Minas Gerais, Brasil.
No final a aeromoça passa oferecendo cha: Tsá? Tsá? Tsá, señora? Não, obrigada. E o croissant virou lua cheia.

"Montanha", Gustavo, Chris, Rodrigo, Alessandra e Nice
Nelson fotografou.


Roteiro da viagem:
Quarta feira - 11/09/1991
Partida pela Ibéria às 19:30h.
Apresentação no Aeroporto de Guarulhos para embarque com destino a Paris.